A História Parte 3
Agora que Odin sabe da existência de uma outra raça na qual poderia travar batalhas grandiosas que treinarão seu exército, uma nova determinação surgiu dentro dele. Os melhores ferreiros de Midgad estudaram as armas e armaduras dos anões dia e noite, e mesmo assim ainda não conseguiram trabalhar aqueles metais da mesma maneira. Após Odin, era a vez de Vili e seu bando explorar a ilha de Aasgard, e assim ele partiu para oeste, já planejando encontrar com os Anões novamente, mas diferente de Odin, ele seguiu pelo sul da ilha.
Vili descobriu que as terras logo ao sul da cidade eram bastante férteis, irrigadas por vários pequenos riachos, e diferentes tipos de alimentos cresciam na região, então fez o primeiro marco em seu mapa ainda em construção. O segundo marco veio logo depois, quando ele chegou até as praias e o fim da ilha, naquele dia o céu estava claro e o sol brilhava forte, possibilitando que Vili enxergasse uma silhueta no horizonte distante, bem distante, que o fez questionar se era uma ilusão, ou se realmente haviam terras após o mar gelado. Independente disso, a tarefa dele era continuar o mapeamento da ilha rumo ao oeste, e descobrir mais sobre os anões.
Enquanto o bando de Vili viajava pelo grande prado entre Midgard e a região florestal, eles enfrentaram várias criaturas selvagens, e apesar da maioria serem grandes, fortes e robustas, apenas um punhado davam a emoção de uma grande batalha. Finalmente eles chegaram na região florestal, e descobriram que a parte sul era bem diferente do norte por onde Odin viajou, aqui as árvores crescem mais separadas, as criaturas são menores, e não havia sinal dos anões. Ao continuar seu caminho, Vili descobriu uma grande planície entre ele e as montanhas, o que o fez mudar seus planos, pois julgou que entrar em território inimigo por uma região muito aberta seria arriscado, então ele virou para o norte, onde a parte densa da floresta poderia oferecer uma certa proteção.
Durante a pausa para comer, Vili sempre mandava pares de seus guerreiros patrulharem a área em volta, e naquele dia, o mesmo em que havia chegado na floresta, um par de batedores não retornou. Acreditando que poderiam ter encontrado com uma patrulha de Anões, Vili preparou seu bando para combate antes de continuar sua jornada. Momentos depois eles encontraram um dos patrulheiros pendurado de cabeça para baixo em uma árvore, nú e com o pescoço cortado, e enquanto tentava retirar o corpo, o bando de Vili caiu na armadilha. Um pequeno grupo de soldados Anões podia ser visto a frente, carregando o corpo do outro batedor Aasgardiano, enfurecidos o bando de Vili atacou sem hesitar, os guerreiros da “linha de frente”, (na época os Aasgardianos não tinham as formações usadas pelo exército de hoje) caíram nos vários buracos camuflados cheios de grandes estacas de madeiras, “banhadas” a urina, fezes, e outras substâncias para causar infecção aos ferimentos daqueles que não morriam na hora ao serem empalados. Vili logo reorganizou seus guerreiros e contornou a área onde estavam as armadilhas, apenas para cair em outra. Enquanto perseguia os Anões, duas das maiores árvores repentinamente caíram sobre os Aasgardianos, os forçando se separarem em dois grupos, e só então que os Anões se revelaram.
Cada grupo dos guerreiros de Vili foi cercado e atacado por batalhões de Anões com a mesma quantidade de soldados que o bando de Odin enfrentou sozinho. Apesar da desvantagem numérica, os Aasgardianos lutaram bravamente, e mataram uma grande quantidade de Anões, porém, o grupo em que Vili não estava foi totalmente exterminado. Percebendo que a derrota era iminente, ele se viu forçado a recuar, e utilizou de suas magias para conseguir escapar com algumas dúzias de seus guerreiros. Após de distanciarem, os jovens Aasgardianos sentiram o peso da derrota, começando a duvidarem de sua coragem, honra, e até mesmo se deveriam voltar para Midgard. Através de seu discurso, Vili conseguiu os convencer de que eles não estavam fugindo, que era dever deles retornar para Midgard e compartilhar com seus irmãos toda a experiência que sofreram, assim eles poderiam aprender e melhorar para que no próximo confronto eles pudessem ser vitoriosos. Também os convenceu de que aquele sentimento era a prova de que não eram covardes, pois os covardes estariam gratos por saírem vivos, e não hesitariam em voltar para a segurança de sua cidade. Ensinamento este que é passado até hoje.
Em seu retorno, o bando de Vili não celebrou, não houve banquetes ou canções, os guerreiros imediatamente voltaram ao treinamento, alimentados pelo sentimento de vingança, e queriam apenas se tornarem mais fortes. Vili repassou tudo o que aconteceu a Odin, que chamou os Anões de covardes por usarem de armadilhas ao invés de os encontrar em uma batalha direta. Seu irmão, por outro lado, aconselhou a não julgar os Anões para menos por causa disso, pelo contrário, eles deveriam agir com cautela. O momento do revezamento chegou novamente, Odin foi para as minas, Vili ficou encarregado de guardar Midgard e Ve partiu com seu bando, porém, diferente de seus irmãos, ele não partiu para explorar, e sim para guerrear.
Enquanto seu irmão partiu em sua jornada, Odin teve seus próprios desafios nas minas. Novas criaturas foram encontradas nas escavações, e sempre que aparecia as mais fortes, ele mesmo iria lidar com elas, apesar de que apenas um punhado eram realmente demônios, os mineradores e guerreiros começaram a chamar se rei de “Perdição de Demônios”, apelido que durou por um bom tempo. A cada confronto, surgia um oponente mais poderoso, e a cada vitória Odin percebia que poderia se tornar ainda mais poderoso, sua proficiência com magia foi aumentando, e isso o fez pensar. Até então, Odin evitava explorar as montanhas pois além de saber que nelas habitavam as criaturas mais poderosas, como dragões, vormes, e demônios maiores, ele temia que os gigantes de Jotunheim pudessem aproveitar de sua ausência para atacar Midgard. Porém, ele queria explorar mais de seus poderes, descobrir seus limites, testar o quanto ele poderia quebrá-los, e apenas as criaturas das montanhas congeladas do norte podiam oferecer a ele o desafio necessário para fazer isso tudo. Odin passou noites pensando sobre isso.
Quando Ve retornou, ele relatou que os Anões prepararam ainda mais armadilhas, e que apesar do número de abates de seus irmãos, a quantidade de soldados Anões não diminuía. Ele também disse que conseguiu forçar os Anões a recuarem, mesmo perdendo ⅔ de seu bando. Vili argumentou que eles não poderiam continuar a os confrontar daquela maneira, o número de guerreiros Aasgardianos estava perigosamente baixo, e que se os Anões atacassem Midgard, seriam difícil deles se defenderem. Odin decidiu então parar com as expedições, mantendo apenas o revezamento em relação às minas, e que ele iria partir, seus irmãos o questionaram sobre isso, mas ele explicou seus motivos. Foi então que Odin partiu em sua jornada de autoconhecimento, evento que ficou marcado na história da raça Aasgardiana, como “A Jornada de Odin”, o período de tempo em que esta raça sentiu medo pela primeira vez, pois sem seu membro mais poderoso, a ameaça de um ataque pelos Jotun, com eles chamam os gigantes de gelo, se tornou algo real.
Aqueles foram anos tensos para o povo de Midgard, Vili e Ve passaram a agir sempre defensivamente, sempre olhando para o norte. No décimo ano da Jornada de Odin, houve um acidente nas minas, onde vários trabalhadores caíram em um enorme vão entre cavernas, sem a esperança de terem sobrevivido. Temendo que aquele acidente pudesse chamar a atenção de demônios, Ve, que estava responsável pelas minas no momento, ordenou que fechassem todas as passagens para aquele local, e evitar escavarem naquela região. Tanto ele quanto Vili eram poderosos mais que o suficiente para enfrentar os demônios que apareciam, mas sem Odin, eles temia que caso se ferissem, seria arriscado ter apenas 1 Aesir defendendo Midgard. Meses depois ocorreu o inimaginável; um único minerador sobreviveu ao deslizamento, e encontrou seu caminho de volta, porém ele não era mais o mesmo.
Imediatamente o minerador foi levado a Ve, que estranhou o que viu; o homem estava calmo, saudável, apenas algumas pequenas cicatrizes em seu corpo, e seu olho estava completamente azul, não na tonalidade comum dos Aasgardianos, mas um azul mais claro, quase branco, e emitia um leve brilho, além de ter pequenos riscos que se movimentam aleatoriamente de um lado ao outro. Ao ser questionado o homem revelou seu nome, Heimdall, e contou sobre como ele sobreviveu. Quando ocorreu o deslizamento, ele e mais 12 Aasgardianos caíram nas profundezas da montanha, e apenas 4 sobreviveram, sendo 3 homens e 1 mulher. Eles ficaram bastante feridos, mas conseguiram vagar lentamente na escuridão até encontrarem uma luz, ao irem até ela, os sobreviventes encontraram uma caverna com água pura, insetos, e plantas, também descobriram que a fonte da luz era um cristal no topo do teto daquela caverna. Heimdall não sabe por quanto tempo eles sobreviveram dos insetos e plantas do local, na esperança de serem encontrados por um grupo de resgate, mas logo seus companheiros foram tomados pelo medo e desespero. O mais jovem dos homens foi o primeiro a ceder, se encolhendo em um canto, chorando e chamando por sua mãe, o outro homem enlouqueceu, e atacou a mulher, Heimdall a defendeu e conseguiu afastar seu colega sem o matar. Um tempo depois, aquele Aasgardiano atacou o jovem, e Heimdall o defendeu, frustrado, o enlouquecido homem correu para fora da pequena gruta, e pode-se ouvir o som de seus gritos enquanto era atacado por criaturas.
A mulher, cujo nome era Hildr, revelou ter descoberto a algumas semanas que estava grávida, e que queria apenas que seu filho pudesse sobreviver e retornar ao seu lar. Quando todos os possíveis alimentos da gruta acabaram, o jovem Aasgardiano, Owen, começou a morder os próprios dedos, e arranhar o próprio corpo, Heimdall tentou acalmá-lo, mas não conseguiu evitar ele de bater sua própria cabeça contra uma pedra com força o suficiente para se matar. Heimdall sabia o que deveria ser feito, mesmo desejando não o fazer, mas após ele realizar, o máximo possível, dos rituais funerários para Owen, empunhando uma pedra lascada, Heimdall abriu o corpo do jovem, retirou carne dos ossos, separou os órgãos, e alimentou Hildr, tomando para si apenas o mínimo suficiente para sobreviver. Após consumirem tudo que podiam do corpo de seu compatriota, não havia mais nada para eles naquela gruta, então, Heimdall tentou quebrar um pedaço do cristal para utilizá-lo como uma tocha na escuridão, e encontrar seu caminho de volta. Infelizmente, assim que ele quebrou uma lasca, o cristal se apagou, e o pequeno pedaço tinha luz o suficiente para iluminar não mais do que 2 metros a frente. Hildr havia perdido suas esperanças, e chorava desesperada pelo destino cruel de seu filho ainda para nascer, Heimdall porém não desistiu, nem se deixou ser consumido pelo medo. Com o pedaço do cristal em uma mão, uma pedra lascada em outra, e carregando Hildr em suas costas, ele se aventurou na escuridão das entranhas das cavernas.
A cada metro que Heimdall percorria, a luz do cristal diminuía, e ele podia ouvir as criaturas se aproximando. Um resquício de esperança surgiu em seu coração ao ouvir o som de água corrente, e acreditou que poderia seguir o fluxo até uma saída, mas logo sua esperança foi quebrada, pois o cristal se apagou por completo. O som das criaturas se tornou cada vez mais alto, Heimdall sentou no chão abraçado de Hildr, se desculpando por não ter conseguido salvar ela e seu filho. Ao lembrar dos gritos de seu companheiro enlouquecido enquanto era devorado pelas criaturas, Heimdall sabia que não podia deixar ela sofrer daquela maneira, e que ela e seu filho mereciam uma passagem indolor, então quebrou o pescoço dela, e se entregou ao horrores que estavam por vir. Mas, ao invés de dor, ele sentiu força em seu corpo, ao abrir seus olhos ele viu tudo tão claramente como se estivesse sob o sol do meio dia, ouvia cada som que ecoava na caverna, e seus ferimentos foram curados. Confuso, ele ouviu uma voz, dizendo que o coração puro dele se provou digno de receber aquela benção, e que com ela, ele tem o poder de proteger tudo e todos que ele ama. Heimdall ainda não sabe de quem era aquela voz, ou como ganhou seus poderes, ou de nada em relação ao que aconteceu, apenas que foi capaz de espantar as criaturas selvagens, ele lamenta não ter sido capaz de salvar Hildr, mas enterrou seu corpo da melhor maneira que pode. Com sua nova visão e audição especiais, ele encontrou seu caminho de volta. Ve quase não acreditou nessa história, mas ao levar Heimdall para fora da mina que ele se provou. Assim que ele olhou para o horizonte, Heimdall disse pode enxergar toda a ilha de Aasgard, e ouvir tudo que acontecia, desde o crescimento da grama próxima aos portões da cidade, até o som das folhas das árvores da floresta distante. Ele descreveu tão detalhadamente o que as pessoas de Midgard estavam fazendo que não havia como Ve não acreditar.
Assim que chegou em Midgard, Heimdall pediu a Vili que o aceitasse como o vigia, o guarda sempre vigilante de Aasgard, pois ele iria usar os poderes que lhe foi dado para proteger seu lar, e todos nele, até a sua morte, porém havia um limite, ele não enxergava fora da ilha e nem após as primeiras montanhas do norte, então o que havia no horizonte do mar do sul ainda era um mistério. Até hoje Heimdall permanece vivo e vigilante, sempre em sua torre ao lado do portão de Midgard, com seu berrante pronto para avisar a chegada de inimigos.
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