Iam todos marchando cordialmente em direção ao desconhecido, cada um se sentindo importante à sua própria maneira por ser um dos convidados para um evento tão exclusivo. Loyd Keen havia anunciado uma festa pela primeira vez, e esse era um nome bastante conhecido: o dono da mansão mais luxuosa da região. Muitos cobiçavam a propriedade, mas bastava citar o nome de Loyd para que o desconforto pairasse; desconforto que para alguns era um arrepio na espinha; para outros, um comichão, e para o resto, era um pé no saco. No fim, ninguém sabia nada sobre Loyd além de seu nome e da posse da tão sublime mansão.
À medida que entravam, os convidados suspiravam, admirados pela riqueza de detalhes do lugar, e como a grandiosidade do exterior era igualmente refletida no interior. Matthew London, um homem esguio de traços finos, adentrava pelas portas altas de madeira escura repleta de arabescos com um puxador dourado também detalhado, agraciou-se com o perfume suave da madeira polida que se misturava com o das velas e das flores que decoravam o saguão da entrada.
Ia acompanhado da esposa, Jessica London, que tentava disfarçar a agitação. Ambos foram conduzidos pelos servos através de um corredor largo até as portas duplas que se abriram para revelar o salão de baile. O teto do salão era sustentado por colunas de mármore decoradas com fios de ouro, o chão reluzia sob a luz dos diversos candelabros e espelhos. Em alguns cantos, músicos habilidosos concentravam-se em preencher o ar com melodias envolventes. Havia espaços para danças, áreas de descanso com cadeiras de veludo, e portas que davam acesso a pequenas sacadas para quem precisasse de ar fresco. Toda a atmosfera, no geral, era simultaneamente majestosa e confortável.
Matthew foi um dos primeiros a chegar, logo acomodou-se num assento ao lado da esposa, e serviu-se de água aromatizada com flor de laranjeira, enquanto observava os demais convidados que entravam. Jessica permanecia em silêncio, perdida em seus próprios devaneios enquanto observava os arredores, por vezes lhe dirigia comentários sobre a decoração. Em dado momento, notou a inquietação do marido, algo bastante inusual, considerando sua natureza calma e ponderada. Matthew era um homem inteligente, um advogado renomado, sabia bem a importância de manter a postura em qualquer situação. Ajustando as abotoaduras, se deparou com o olhar confuso da esposa.
— Está tudo bem? — perguntou num tom suave.
— Sim, sim, está. — Ou ao menos deveria estar, pensou Matthew London lembrando da fama que poderia conquistar ao gabar-se de ter sido convidado por Loyd Keen e das conexões que poderia fazer naquela noite. Porém, a situação não poderia ser pior, e apesar de incomodado, mantinha a postura. Sentia um misto de satisfação e inquietude ao perceber quantas figuras familiares estavam presentes.
Entre os primeiros convidados que reconheceu estava Julian Carter, um amigo e antigo cliente, conhecido por sua postura um tanto arrogante, de olhos verdes profundos e sobrancelhas grossas, foi o suficiente para atiçar Matthew. Julian estava acompanhado da esposa, Anna Carter, uma mulher graciosa e sedutora, Julian tinha muito orgulho de Anna, e, Matthew... também, embora Julian não precisasse saber disso.
Outra presença perturbadora era Basil Edwards, reconhecia bem aquele ruivo apesar de nunca ter interagido diretamente come ele. De certa forma, Matthew admira Basil, ele era competente no trabalho que fazia e pensa que poderiam ser bons amigos se Basil tivesse escolhido uma carreira diferente de advocacia, pois agora eram rivais em potencial, ambos especializados em heranças e sucessões; ainda assim, Matthew não julgaria uma pessoa pela profissão, o problema de Basil era outro, algo que ele descobriu quando o monitorou a pedido de um cliente. Matthew ergueu a cabeça para observar a esposa que olhava distante para um ponto no salão, olhava para Basil. Apesar de saber disso, ele guarda essa informação para usá-la no momento certo, além disso, a aliança com Jessica London era apenas por conveniência, a infidelidade de Jessica era o preço a se pagar em troca de conexões com figuras importantes da sociedade que eram apresentadas por Jessica.
Matthew ainda pensava que a situação não poderia piorar, e naturalmente, ela piorou. Enquanto tentava se acalmar, avistou Randell Harley, um cliente regular e influente médico cirurgião, nascido em uma família aristocrática e primo de Anna Carter. Randell, mesmo sabendo do caso entre Matthew e Anna, mantinha-o em segredo, pois nunca aprovara o casamento com Julian por considerar instável, embora conveniente.
— Jessica, vou cumprimentar alguns conhecidos — disse para esposa, virando-se após receber confirmação da esposa, caminhou até onde Randell estava e notou que havia outros dois homens por perto.
— Caro London, que bom vê-lo aqui — cumprimentou Randell com um sorriso. — Venha, deixe-me apresentá-lo.
Randell apresentou Matthew aos outros dois, um se chamava Dion Byrd, de aparência imponente e porte atlético, cabelos negros bem cortados e feições duras e bem definidas; o outro era James Hooker, um homem calvo e robusto, era o administrador do hospital onde Randell trabalhava. Após uma breve conversa sobre negócios, Randell conduziu Matthew para um canto mais discreto.
— De uma forma eufemística, Sr. London, estamos fodidos — declarou Randell sem rodeios.
— Hei de concordar, ficarei afastado de Anna, se isso te preocupa, Dr. Harley. Mas espero que garanta que ela faça o mesmo.
Um breve silêncio se instalou preenchido com uma troca de olhares amigável. Um sorriso nervoso se formou no rosto de Randell.
— Seu caso com Anna é só um grão neste penhasco, London, você sabe disso. Os homens que te apresentei, Byrd e Hooker, cuidado com eles.
— Manterei isso em mente, obrigado.
O olhar de Randell percorreu o salão, e Matthew acompanhou o movimento com atenção. Numa observação minuciosa, notou uma tensão crescente entre os presentes – olhares discretos, alguns toques no colarinho ou nos pulsos. Quantos segredos compartilhados estariam ocultos neste salão, pensou Matthew.
— Uma selva me parece um lugar menos arriscado que este salão, não acha? — perguntou Randell.
— Se a chance de se expor é um risco, sim. Mas quem recusaria uma chance de ver Loyd Keen?
— Quem souber do que ele realmente é capaz, talvez.
Enquanto isso, Dion Byrd e James Hooker se aproximavam da mesa de petiscos, ficaram maravilhados com a variedade luxuosa: canapés, ostras, coquetel de camarão, ovos recheados, patês com conhaque, frutas frescas e secas, mas havia algo que chamou a atenção de Dion e James, eles se entreolharam numa concordância silenciosa e avançaram para o mesmo petisco que se sobressaia dos restantes, coxinha.
— Muito bom — declarou Dion após comer o salgado.
— Certamente — disse James, limpando os lábios com o guardanapo. — Se essa festa é um reflexo de seu anfitrião, Loyd Keen é um homem de paladar sofisticado.
— Ou apenas sabe como manter todos satisfeitos e desatentos...
— Senhor Byrd, soube do falecimento de sua esposa. Sinto muito pelo ocorrido.
— Não sinta, Sr. Hooker. Sei que Dr. Harley fez tudo ao seu alcance. É lamentável, eu sei, mas o destino é... inevitável — Dion sussurrou com amargura, criando a imagem conveniente de um viúvo desolado.
James perscrutou-o intrigado. Decidiu confiar em Randell, e, por extensão, em Dion, embora duvidasse da sinceridade de sua lamentação.
— Ainda assim, sendo no meu hospital, fico com a consciência pesada. De qualquer forma, espero que fique bem, Sr. Byrd. Estou à disposição, caso precise de algo.
Dion, entendendo a mensagem, aceitou acumplicidade de James e acenou em sinal de compreensão enquanto ele seafastava, deixando-o sozinho. Observando os outros convidados, Dion também sesentiu inquieto, um tanto arrependido de ter aceitado o convite. Como viúvo,não tinha amantes, mas um inimigo que precisava eliminar, e para alívio d eDion, seus aliados também estavam presentes. Considerou que talvez fosse um bom momento para resolver alguns assuntos.
Comments (0)
See all