- “As flechas das virtudes fluem para obliterar meus obstáculos, enquanto tudo se desvanece em cinzas.”
Há uma principio que rege todo nosso universo, como uma regra que nunca é quebrada. Tanto no mundo dos humanos quanto em qualquer outro: Alguns nascem mais favorecidos e outros menos.
Enquanto alguns alcançam tudo em seu horizonte, outros mal conseguem seguir em frente. Uma realidade justa para uns e injustas para outros, mas quem poderia contestar a ordem natural das coisas?
No submundo, os abissais nascem para guerrear, nunca para descansar. Os clãs rezam e honram o nome de seu soberano, aquele que pode rivalizar a Graça Divina e trazer paz e liberdade para todos.
Mas qual destino daqueles que não são forte suficiente? Aqueles que jamais serão vistos por seu soberano, cuja fraqueza destrói a honra?
Não há punição para fraqueza regendo o Submundo, só há aqueles que a desprezam e criam uma barreira social que dificilmente pode ser quebrada.
Nem mesmo a morte poderia acabar com essa barreira. Sua história, seu nome, sua personalidade... Tudo será apagado pelas névoas do tempo.
ATO I
Marcosias era o nome que inspirava o próprio clã a seguir em frente.
Quando o garoto cresceu, a fraqueza revelou-se para todos. Ele mal conseguia empunhar uma espada, motivo esse suficiente que fez seu próprio clã o abandonar.
Deixado no deserto, aos cinco anos, Marcosias estava sem esperanças para um futuro alegre. O abandono se tornou um trauma que enraizou seu coração e o enfraqueceu por dentro.
A cada noite que passava, seu olhar recaia sob o vazio das dunas. E quando a tempestade de areia se aproximava, podia-se escutar os passos da Erosão... Sempre por perto, esperando por um momento para atacar.
Sem nem mesmo o que comer, a criança se jogou na areia e deixou por isso mesmo. Caminhar pelo deserto sem rumo, sem família e sem futuro, o deixou sem vida por dentro.
Quando uma silhueta surgiu em seu horizonte, ele já acreditava que era o delírio da morte, o chamado final de seu descanso...
Um aroma surgiu no ar, como um verdadeiro chamado da vida. Seus olhos abriram lentamente enquanto recuperava o foco.
A sua frente, estava sua salvação... Uma exilada, que assim como ele, havia sido deixada pelo clã por sua fraqueza. Seu nome era Leraye.
- A partir de agora, você deve me seguir. Não há o que temer, a verdadeira força é a que te leva a sobreviver.
Nas palavras de sua salvadora, Marcosias encontrou seu primeiro conforto desde seu abandono.
ATO II
Aos dez anos, o garoto já sabia as regras de sobrevivência no deserto. Mas apenas em seus 16 anos, seu treinamento em combate seria reaplicado.
Seu corpo precisava ser preparado para empunhar uma arma decente, que não fosse uma adaga. Sua guardião optou por exercicios e treinamentos com rochas pesadas. Embora os primeiros meses fossem sofridos, logo ele desenvolveu uma resiliência para lidar com toda dor.
Os traumas criaram uma fome por poder. Enquanto a imagem de seu eu perfeito não fosse alcançada, Marcosias sofreria intensamente por sua autopiedade. Mesmo consumido por tanta pressão, ele conseguiu realizar seus primeiros movimentos com espada e conseguiu ir além, manejando até um espadão.
No entanto, sua vida mudaria quando apresentado o arco... Uma arma primitiva de longo alcance, requisitando destreza e foco.
Quando a primeira flecha deslizou-se sob seu arco, não havia nenhum pensamento em sua mente, tudo estava vazio. Foi então que aquela flecha atingiu o alvo, milagrosamente.
Leraye ficou bastante impressionada com os seguintes tiros, e sentiu que havia descoberto um talento único. Marcosias nunca errava um alvo, e chegou num ponto que até mesmo a flecha parecia sempre acertar o que ele desejava... Não importava as circunstâncias.
Milagre? Reviravolta? Ainda era cedo para uma resposta, até porque mais coisas estavam para acontecer.
ATO III
A fama de Marcosias cresceu rapidamente quando começou a trabalhar numa guilda de caça. Seus alvos agora eram criaturas do deserto, das mais variadas espécies. O pagamento aumentava, assim como as refeições com sua mestra, não havia mais espetinhos de carne para lamentar, somente grandes pedaços de carne nobre e bebidas consideradas cara pelos locais.
Os feitos do rapaz se espalharam com o tempo, até chegar nos salões do palácio real, onde nem mesmo era comentado sobre esse tipo de caça.
Quando retornava da caça, Marcosias se deparou com uma comitiva em sua residência.
- Vossa majestade quer falar com você.
O coração de Marcosias pulsou, o arco caiu ao chão.
Era tudo surreal, ele ficou perplexo por um tempo, até sua mestra lhe confortar para seguir em frente. Aquilo não acontecia com frequência, era um momento bastante raro... Um em dez bilhões.
Mesmo sem saber etiqueta, reverências ou títulos de nobreza, o rapaz conseguiu chegar ao palácio.
O contraste de sua vida toda passou em sua cabeça, o vasto e primitivo deserto comparado com a grandeza e o luxo de cada parte do palácio. Sem areia, sem sujeira, tudo era limpo e lustroso.
A comitiva o levou para uma sala, onde encarou um rapaz de idade semelhante, usando uma máscara que cobria parcialmente sua boca e nariz. Seus olhos violeta pulsavam como uma tempestade, mas Marcosias não se deixou por ser intimidado.
Um salão foi preparado e vários alvos posicionados, desde os estáticos até os moveis. Um arco especial foi entregue ao rapaz que acertou cada flecha disparada, mesmo com obstáculos a frente do alvo, a flecha seguia diretamente até onde sua vontade fosse dada.
A honra foi reconhecida entre os nobres, e então Marcosias foi preparado e bem vestido para o sagrado momento.
Diante o trono, o soberano não teve dúvidas, Marcosias era digno de uma posição nas Hyades.
De agora em diante, ele seria imortalizado nas lendas e nas canções, como Marcosias, o Valete de sua Majestade.
Lhe sendo concedido o poder de queimar seus inimigos com a chama pálida, uma magia mística que não era vista há muitas gerações.
- "Com este poder... A sobrevivência será mais dura. Mas meus inimigos, queimarão em nome dos meus ideais, o sonho que vosso mestre prometeu a todos."
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