Primeiro tudo o que eu podia ver era a escuridão absoluta. Não conseguia sentir nada e minha respiração estava fraca ao ponto de nem mesmo eu conseguir senti-la direito. Por segundos ou uma eternidade fiquei ali tentando desesperadamente ao menos me mexer mas parecia que meu corpo era feito de concreto. De repente senti uma pressão leve e rápida na cabeça e consegui finalmente abrir os olhos
— O que...? — Me sentei no que parecia uma banheira. — Onde... Estou?
Tais palavras saíram ardendo de minha garganta seca como as areias do deserto, tanto que tossi após terminar de falar. Olhando em volta pude ver uma sala abobadada com paredes negras e uma espécie de teia vermelha misturada a obsidiana. Uma obsidiana mahogany... Das grandes pelo visto. Era óbvio que um cristal desses não se gerava naturalmente então me pergunto que criatura teria tamanho poder para gerar algo tão delicado.
— É alguém de se admirar. — Sussurrei para não machucar minha garganta. — O que mais tem aqui?
Me levantei e percebi que o que eu achava que era água na verdade era metal derretido. Uma mistura esquisita e que com certeza não seria muito produtiva caso algo fosse feito dela, mas por algum motivo banhava meu corpo. Limpei os resquícios daquele líquido em minha pele, vendo que de um lado da sala havia um armário de pedra e do outro uma porta de aço. No armário havia uma muda de roupas e 2 machados de guerra encostados no mesmo. Fiquei curioso e fui até lá, vendo que as roupas eram uma regata branca, uma calça vermelho escuro e botas de couro marrom. As vesti e ficaram realmente confortáveis. Em baixo das roupas havia uma pequena nota escrita em um papel mágico, e não me pergunte como eu sei disso.
“Suas roupas ficaram muito danificadas da sua última batalha por isso costurei novas. Não ficaram tão boas quanto as suas, Heliah, mas acho que vão servir. Com amor, sua irmã Sophie”
Heliah? Esse deve ser eu, provavelmente. Sinceramente não me lembro de nada do que aconteceu, mas por algum motivo isso não me afeta então vou deixar isso quieto e adotar o nome Heliah por enquanto. Acho que o Heliah original não iria se importar, afinal ele até fazia as roupas de sua irmã. Com isso em mente guardei o papel no bolso da calça e peguei os machados, afinal acho que preciso de algo para me defender de um possível ataque já que batalhas são algo que existem aqui.
— Agora, sair daqui... — Brinquei com um dos machados como que se tivesse feito aquilo a vida toda e me assustei. — Uh...
Dei de ombros e fui até a porta e a abri. Até aquele momento não havia reparado no quão quente aquele lugar estava até uma lufada de ar “gelado” entrar em contato com meu corpo. No caso o ar ainda era quente, cerca de uns bons 300°C, mas comparado ao ar de dentro daquela câmara que mantinha o metal derretido como água isso era quase uma massa de ar polar. Respirei um pouco do ar mais fresco e coloquei um pé para fora da sala. A pressão em minha cabeça retornou e eu fiquei levemente atordoado. Pensei que deve ser algo sobre a mudança de temperatura.
— Vamos só... Sair daqui. — Sussurrei e me pus a caminhar.
A sala era no final de um corredor estreito feito de granito avermelhado. Presumo que esse tal de Heliah goste muito desta cor, e acho que ele tem bom gosto. As paredes eram simples, mas eu conseguia sentir a pressão da imponência de onde eu estava, ou talvez era o meu estado ficando pior. A cada passo que eu dava eu sentia tanto minha tontura aumentar quanto a pressão que havia passado de minha cabeça para todo o meu corpo ao ponto de a certa altura eu estar praticamente me arrastando apoiado na parede, até ouvir vozes ecoando no corredor.
— Eu estou dizendo Hyun, as chances dele ter acordado muito cedo são muito altas. — Dizia uma voz feminina. — Eu sei do que eu tô falando.
— Mas os sistemas não deveriam permitir que ele acordasse. Eu fiz questão de... — Então eles apareceram das sombras. Eu não tinha reparado o quão ruim minha visão estava, afinal eles pareciam vultos quase disformes. Quando ele me viu, simplesmente parou. — Ah não...
— Não se culpe, querido. Esse é um sistema antigo. — A mulher continuou andando, vindo até mim e me segurando em um abraço que não tive forças para desviar. — Garoto... Pode dormir.
A voz dela era serena e gentil. Por mais que minha consciência lutasse para continuar ativa os braços calorosos e por algum motivo familiares dela me fizeram relaxar lentamente.
— Hum... O corpo dele não está bom. — Comentou o homem, sua voz ficando distante. — O que acha?
— Acho que já sei! O que você acha de... — Não consegui ouvir o resto. Meu corpo desistiu e minha consciência se esvaiu.
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