Querido diário, a natureza é realmente inacreditável!
Literalmente. Não consigo acreditar que estou aqui enfiada no mato, nesse fim de mundo.
É aqui, sentada perto dessa fogueira, ouvindo o crepitar dos galhos queimando e com meu cabelo fedendo a fumaça que eu entendo a urgência com que a humanidade evoluiu até às viagens ao espaço e microchips. Foi o desespero em sair da vida de merda que devia ser morar numa caverna à luz de fogueira e comendo macaco chamuscado.
O bicho deve ter pensado: cara, preciso evoluir o mais rápido possível! E nunca mais conseguiu parar... deve existir algum tipo de lembrança remota no fundo do cérebro de cada pessoa que nos lembra da vida que a gente levava na pré-história e que nos faz mover a bunda e andar pra frente.
De qualquer forma estou aqui agora, e por uma boa e geneticamente ancestral causa - transar. Aliás, já que estamos viajando mesmo sobre estes assuntos antropológicos, reafirmo o que disse: o instinto ancestral de TRANSAR mesmo, nada a ver com REPRODUÇÃO. Tenho certeza que, quando a macaca apareceu barriguda e depois de um tempo saiu um macaquito da barriga dela o bicho pensou: sabia que aquilo ia dar merda. Nada é tão bom pra ser verdade.
Bom, onde eu estava mesmo? Ah sim...defumando meu cabelo.
O Maurão passou me pegar em casa incrivelmente cedo, considerando que ele aparece na facul geralmente só lá pelas 11, dá um rolê com a galera e volta de novo só na hora do almoço, pra bandeijar. Tínhamos marcado de ele passar em casa às 9:30, e às 10:15 em ponto ele estava lá. Engraçado foi ver a cara do meu pai quando parou aquele Chevete marrom com um cara de cabelo embaraçado dirigindo, o Bob Marley uns 10 quilos mais gordo do lado, e a santinha da Márcia atrás com uma latinha de cerveja na mão gritando: “Vamos nessa, Mariana!! Urruuuu!” Espero que a doença da vovozinha doente da Márcia não seja no coração e nem no fígado, ou a pobre velhinha não vai sobreviver – meu pai deve ter pensado.
Fomos.
O dia estava ensolarado, e parecia que o mundo todo estava saindo para acampar. Sabe quando parece que tem uma alegria no ar e tá todo mundo feliz? Típico de um sábado de manhã. Mais típico ainda de um sábado de manhã dentro de um Chevete marrom cheio de fumaça.
Rodamos mais ou menos uma hora na rodovia e depois pegamos uma estradinha de terra. É incrível como existem uns lugarzinhos bacanas perdidos quando se sai da estrada. Boizinhos, vaquinhas...casinhas com todas as portas e janelas abertas e sempre um botequinho na esquina, que vende desde cachaça até fraldas. Quando a gente viaja de carro pela estrada, passa por todos estes lugares mas não os vê, por causa da velocidade e do objetivo onipresente de se chegar onde se pretende chegar. Mas estes lugares estão lá, e além deles, outros ainda mais bacanas.
Talvez esta seja a principal lição que aprendi hoje. É fundamental, na vida, sair da estrada de vez em quando e dar uma olhada melhor no que existe em volta.
E neste exato momento o que existe à minha volta são duas barracas meio frouxas, uma fogueira e um FatMarley tocando violão. O Maurão foi com a Lu comprar vinho e cigarros na vilinha.
Mas é isso mesmo o que vou fazer hoje à noite: sair da minha estrada um pouco para ver no que vai dar.
Bom, considerando os caminhos que fiz nessa minha tal estrada até hoje, talvez dar uma escapulida dela seja a coisa mais saudável e sensata a se fazer.
Amanhã conto o que aconteceu.
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