A cachoeira é linda! A natureza realmente é inspiradora!
Todas aquelas árvores escuras e vestidas de musgo guardando um fio de água cristalina como se fossem soldados silenciosos vigiando um tesouro, enquanto o pequeno riozinho se joga displicentemente do alto das pedras alheio aos cuidados da mãe natureza, como uma criança livre e iluminada. Uma pena que eu não pudesse jogar o Mauro de lá de cima também.
Notem que agora estou chamando ele de Mauro, e não mais de Pano.
Quando uma pessoa deixa de chamar a outra pelo apelido e passa a chamar pelo nome é por que a coisa tá feia. Se chamar pelo nome seguido do sobrenome então, o bicho pegou.
Ainda não cheguei a esse ponto. Até por que não faço a menor ideia de qual é o sobrenome dele. Quem se importa?
Eu nunca tinha ido a uma cachoeira assim antes. Já tinha ido naquelas fajutas, que você olha, fala “que lindo”, mas não se convence. Sabe, no fundo, que é só um desnível em que você tem que se agachar para entrar embaixo da água. Mais ou menos como a expectativa de nadar mil metros estilo borboleta numa piscininha de plástico.
Mas essa não. Essa era alta de verdade, escondida no meio do mato e cheia daqueles barulhinhos de milhares de insetos à sua volta e borboletas surgindo e desaparecendo entre as árvores. Um lugar perfeito para se encontrar duendes, segundo Bob. Principalmente depois das duas canecas do chá verde que ele preparou, claro. E foi exatamente isso que ele sugeriu: vamos tentar capturar um duende vivo!
Me pareceu até uma boa ideia naquele momento. Pensei por um instante o que faríamos com um duende vivo se o capturássemos – amarrar uma cordinha no pé dele? Arrancar as orelhinhas? Olhei pro Mauro numa tentativa de “Ei! Olha o lugar incrível que estamos e deixa de frescura!”, mas ele parecia um esnobe francês andando num monte de merda sem querer perder a pose. Era exatamente esta a expressão na sua cara.
Quer saber? Ele que se foda. Vou é curtir minha vida.
É incrível, mas no momento em que pensei isso uma nuvem se afastou no céu e o sol brilhou, refletindo-se na água. E aí tive tipo uma iluminação transcendental: me caiu a ficha de que tenho minha vida inteira pela frente e nada a perder - nem mesmo a virgindade mais!
Assim que isso ficou claro para mim o Mauro sumiu, virou um tronco ou uma pedra... um pedaço sem graça da paisagem.
Aê... vamos entrar nessa água? Perguntou o Bob a nós duas.
Já é! Fomos correndo. O Bob foi na frente, parou na beira do laguinho que se formava embaixo, tirou a camisa e a calça com a mesma naturalidade com que se espanta um mosquito da cara e pulou na água, só de cueca. É engraçado por que quando fui em direção da água nem pensei em “com que roupa eu vou”... Foi só quando ele tirou a dele é que me atinei para isso. E também imediatamente veio a resposta. Tirei minha roupa também e pulei. Estava só de calcinha, sem sutiã... mas foda-se. Agora já foi.
Nadar sem roupa numa cachoeira foi a melhor coisa do mundo! Acho que as coisas eram assim nos tempos do jardim do Éden, Adão e Eva, e tal; ISSO era o paraíso. Maldita hora em que eles foram dar ouvidos à serpente e serem expulsos daquela mamata.
Aliás, dizem que foi a Eva que arrastou Adão pro mau caminho. O caralho! Aposto que Adão devia estar bodado que nem o Maurão está agora e foi arrumar sarna pra se coçar. Fez merda. ESTE é o homem, desde seu primeiro exemplar.
Mas enfim, nadamos pra caramba, nós três. Fizemos guerrinha de água, pulamos de uma pedra penduradas em um cipó que nem macacas no cio, entramos embaixo da queda para tomar um banho, uma festa.
Acabou que depois de um tempo a Lu e o Bob começaram a se beijar e eu sobrei. Só que antes de eu sair de cena e deixar os dois curtirem o pecado original em paz, eles me chamaram para um “abraço coletivo”. Valia! Afinal foi uma puta tarde legal.
Foi engraçado o tal abraço a três, meio sem roupa. Pra falar a verdade, a coisa foi tão paz e amor que nem teve climão, ou malícia, foi coisa de broders mesmo.
Só foi estranho encostar meus peitos nos peitões da Lu. A gente deu risada, ela me deu uma olhada de “você é minha melhor amiga forever”, e me deu um selinho. Gostei.
Aí saí de cena e deixei os dois no Éden enquanto o anjo Gabriel me esperava na margem, com sua espada de fogo, pronto para me expulsar do paraíso. “Espada de fogo” é só uma figura de linguagem, a coisa tava mais pra canivetinho meio apagado. Se soprasse, o máximo que poderia acontecer é sair uma fumacinha.
“Vamos subir?” – o Mauro perguntou apontando para nosso acampamento.
“Não, meu chapa. Vamos descer, pelo jeito”.
Ele não entendeu o que eu quis dizer, mas o fato é que subi a trilhinha de pedra que levava às barracas como quem desce a escada para o limbo.
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