Planeta Terra, anos no futuro.
- Chimi! Aqui! – uma mulher grita ao longe.
- Tô indo! – responde uma menina de cabelos pretos e lisos, com uma bandana verde amarrada no cabelo.
- Perdeu a hora?
- Não. Preguiça.
- Entra... Seus primos já começaram.
O lugar onde o clã Yazumi toma suas refeições é parecido com um dojo. É bem pequeno, mas confortável.
- Olha, hoje a gente vai treinar até tarde hein?
- Até eu?
- Não, Kunni. Hoje você vai treinar só até as duas horas pra continuar a sua busca.
- Isso não é justo! – Chat, um dos primos de Chimara (também conhecida como “Chimi”) se irrita – Qual o propósito da gente tá treinando até tarde ultimamente?
- O torneio entre clãs tá chegando.
- E por que treinar tanto pra ele? – pergunta Chimara.
- É só o prêmio de um estoque de comida pra três meses... – Kitana, a prima mais velha de Chimara, diz com um tom de desinteresse, porém irônico.
- Caraca! Mas isso é muita comida!
- É por isso que vocês têm que se esforçar. Tão sabendo como tá difícil achar comida por aí nos últimos anos, né? Além disso, o inverno tá vindo aí.
- E o que isso tem a ver? – pergunta Chat.
- Eu só não gosto dele.
Um silêncio percorre pelo lugar.
- Então, Kunni... – diz Chimara tentando quebrar o silêncio – Cê acha que meus pais tão bem?
- Ó... Lamento dizer, mas não tem como eu te confirmar isso...
Chimara abaixa a cabeça e continua a comer.
- O comportamento infantil de Chun-Tah pode tornar a busca ainda mais difícil. Da última vez que fui lá, encontrei armadilhas de corda. Que clichê!
Chimara ri de nervoso. Pra você, leitor do meu coração, que não deve estar entendendo nada, os pais de Chimara foram sequestrados pelo clã rival do dela (Tiakong e Yazumi, respectivamente).
Kunni foi escalado junto com outros nativos pra ir lá ao outro clã resgatar os pais dela de volta. Mas isso já tá acontecendo há dois anos. E Chun-Tah, líder do clã Tiakong, foi quem sequestrou eles em troca de dinheiro e bens materiais. Os pais de Chimara são os lideres do clã Yazumi.
Acontece que se Kunni não conseguir resgatar eles, Chimi vai ter que ficar no lugar deles. Ou seja, Kitana não tá treinando ela só pro torneio, tá treinando ela pra virar uma líder de qualidade também.
Ela tem consciência da responsabilidade que pesa sobre seus ombros, mesmo não gostando nada disso.
Voltando... Depois do café da manhã, eles começaram a treinar. Kitana é perita em artes marciais como kung-fu e taekwondo, e ensina isso pros seus “discípulos” desde pequenos. Ela usa um bastão de bambu pra treiná-los (e pra corrigir/violentar às vezes). Chimara e Chat usam nunchakus, e Kunni usa uma katana.
Estavam todos treinando, felizes e maravilhosos, até que o chão começa a tremer, um som estrondoso toma conta do lugar, uma estranha sombra aparece no céu. Uma não, duas!
Os nativos foram pro lugar onde isso estava acontecendo. Todos pareciam assustados e encantados ao mesmo tempo.
As sombras começam a ganhar forma; eram naves espaciais. Delas saem feixes de luz. Deles, saem duas moças bem... Peculiares. Uma tinha a pele lilás e brilhante, cabelo azul escuro preso em dois coques altos e uma roupa prateada. A outra tinha a pele azul cheia de sardas, cabelo castanho com mechas brancas e o mesmo corte da outra, com uma roupa mais despojada e tomando algo que parecia um milk-shake.
Ninguém sabia o que estava acontecendo. Todos só estavam lá por pura curiosidade.
- Atenção, nativos da Terra. Estamos aqui para uma pesquisa intergaláctica que consiste em um teste de adaptação entre espécies que durará 5 anos. E nós precisamos de um terráqueo. 90?
- Sim?!
- Selecione um deles.
- Ok. Deixa eu ver... VOCÊ! – Planet 90 (sim, esse é o nome dela) aponta para Chimara, que logo se assusta.
- Quê?! Eu? Por que logo eu?
- Sei, lá! Gostei da sua cara.
- E eu tenho escolha?
- Agora que eu te escolhi, não!
- Você tem uma semana para arrumar suas coisas. Coloque-as dentro daquele container. Lembrando que sua viagem irá durar por cinco anos, então, leve o que for necessário.
- E se eu me recusar?
90 faz um sinal de decapitação com o polegar, sorrindo. Chimara fica em choque.
- Bem... Já vamos indo. Voltamos em sete dias para te buscar. E é melhor você vir mesmo...
Chimara balança a cabeça positivamente. As duas entram em suas naves e decolam – literalmente - na velocidade da luz.
Depois de um tempo olhando para o céu, Chimara sai correndo para seu dormitório.
- Ei! O que tá fazendo? – pergunta Chat.
- Arrumando minhas coisas, ué?!
- Você vai mesmo fazer isso?
- Se eu não fizer, elas vão me matar!
- E o torneio?
Chimara para, e cai de cara no seu colchão.
- Argh! Eu esqueci completamente! – ela grita abafando a voz no travesseiro.
- Não se preocupa com isso – diz Kitana entrando no quarto e se sentando ao lado da menina – Vamos tentar ganhar mesmo sem você!
- Ou seja, você não faz diferença – diz Chat.
Kitana olha para o garoto com sangue nos olhos e bate com toda sua força o bastão na cabeça dele. Ela o deixa de lado, e volta pra conversa.
- Olha, se essa pesquisa aí for tão importante, é melhor que você vá mesmo...
- Tá... – Chimara para pra pensar melhor – Pra onde eu tô indo mesmo?
- Nem sei. Deve ser surpresa...
- Que não seja uma surpresa desagradável...
- Olha, – interrompe Chat, ainda se recuperando da pancada - acho que vai ser um planeta cheio de gente estranha que vai te meter numa confusão sinistra...
As primas se olham e depois olham pro Chat com ar de estranheza.
- Só uma teoria minha...
- Ok, né... Vem ajudar sua prima a arrumar esses troços, ou alguém não vai poder “tirar férias” em outro planeta.
- Não vou poder tirar férias nunca mais...
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