Jennifer e Allec namoravam no banco da praça. Eram aproximadamente 11h00 e o movimento de pessoas havia aumentado. Para o jovem casal o mundo havia parado e apenas apreciavam as carícias um do outro. Em um instante Allec sentira alguém passar muito próximo a eles, que o fizera arrepiar seus pelos com um calafrio na espinha e interrompera o beijo quente de Jenny. Seja lá quem fosse, desaparecera na multidão em questões de segundos.
— O que foi Al, está tudo bem?
— Está! Não foi nada... — olhou ao redor e se levantou. — Vamos voltar para o hotel Jenny... Está quase na hora do almoço.
— Está bem.
John e Acira dominavam o pequeno sofá com a TV ligada, porém nenhum dos dois demonstrava interesse pelo conteúdo que passava.
Acira encontrava-se entre as pernas de John que cochilava, enquanto ela mexia nas unhas e roía algumas. Em seguida ela pegou a mão dele que se apoiava no joelho e a analisou.
— Está precisando cortá-las John...
— Sou um lobo, os lobos tem garras... — disse sonolento sem abrir os olhos.
— Não em forma humana, deixe-me cortá-las... — começou a beliscar a unha do indicador dele com os dentes e em seguida o enfiou em sua boca, tentando provocá-lo.
— É melhor parar Acira... — disse abrindo os olhos.
— Cansou foi? — Acira tirara o dedo de sua boca e sorriu. — Eu ganhei então!
— Não é isso, os garotos estão chegando... E você ganhou a batalha desta vez, mas não a guerra hehe.
— Conversa fiada! — disse deitando-se no tórax dele e apertando sua bochecha.
Os dois se assustaram com a batida na porta.
— John, Acira? — Allec perguntou batendo na porta.
— Já vai!
Acira gritou indo em direção à porta, enquanto John vestia a camisa. Após abrir afirmou. — Olá meus queridos!
— Viemos buscá-los para o almoço... — disse Jenny sorrindo.
— Iremos comer aqui no hotel mesmo? — perguntou Allec ainda na porta do quarto.
— Eu não sei... O que acha amor? — Acira perguntou a John que se aproximava deles depois de pegar a carteira.
— Vocês decidem, em minha opinião tanto faz... — respondeu John enquanto trancava o quarto.
— Legal! — Acira o abraçou em resposta e continuou. — Eu e Jenny vimos uma churrascaria num quarteirão próximo!
— Sim, o lugar parece ser agradável. — Jennifer confirmou.
— Vamos lá então. — Allec disse começando a caminhar.
A churrascaria era grande, possuía mesas em madeiras refinadas no centro, e nas laterais haviam bancos confortáveis com o encosto alto, dividindo bem a privacidade dos usuários. Eles preferiram pegar uma destas mesas na parede, ficando o mais distante das outras pessoas e também com vista para a televisão que ficava no alto, a aproximadamente 6 metros de distância.
Todos já comiam e Acira perguntou.
— Nós ficaremos por estas “bandas” mesmo?
— Não sei se é seguro por aqui... — comentou Allec.
— Precisamos encontrar um lugar mais escondido... E também preciso achar um emprego... — John disse e voltou a comer.
— Também quero ajudar! — comentou Allec.
— Não, não mocinho, vocês dois precisam voltar pra escola! É só nos estabelecermos na residência ideal e os estudos voltaram pra vocês... — Acira gesticulou com as mãos. — Vocês jamais devem parar de estudar, não concorda comigo Jenny?
— Jenny? — Allec virou-se para ela e notou que ela estava vidrada na notícia da TV e olhou na mesma direção.
“...Um renomado delegado, sua filha de 16 anos, junto de mais três oficiais desapareceram misteriosamente na cidade de Merrowmash há algumas semanas. Uma força tarefa foi organizada para tentar encontrá-los... Caso você aí de casa, tenha alguma notícia destas pessoas que estão aparecendo em destaque, não deixe de avisar as autoridades e...”
Jennifer voltou o olhar para seu prato ignorando o restante das informações e olhou para seus companheiros que a encaravam.
— Não sei o qu...
Sua frase fora interrompida por Allec que a beijara e cochichou.
— Retribua o beijo que já te explico... — ela não reagiu, mas logo sentiu um cheiro de duas Pistolas Taurus .40, que se aproximavam da mesa.
John e Acira disfarçaram e continuaram conversando e comendo, enquanto dois homens acompanhados de duas mulheres passaram por eles e sentaram após duas mesas.
Allec interrompera o beijo e sussurrou.
— Sentiu o cheiro?
Jennifer acenou positivamente e cochichou.
— São policiais, não são?
— Na mosca, querida. — Acira comentou baixinho.
— É melhor irmos... — comentou John chamando o garçom.
— John e Allec, vocês vão indo na frente, sei exatamente do que a Jenny precisa para sair deste problema! — Acira disse piscando para ela.
— Está bem, deixo-a em suas mãos! — comentou Allec e encarou sua namorada que corara.
Já no hotel, John estava no sofá mexendo no celular, enquanto Allec, impaciente andava de um lado para o outro próximo da janela, até que sentiu uma almofada atingir sua nuca.
— Hey!
— Dá pra parar de ficar andando feito idiota, elas já estão chegando.
— Eu não posso mais ficar ansioso?
Retrucou e arremessara a almofada em John que mexia em seu celular e o fez derrubar no chão.
— Ora seu... Agora você vai ver só!
— Será que ele vai gostar? — Jennifer perguntou timidamente e se aproximavam do quarto.
— Tá brincando, né? Você tá lind... — Acira parou de falar pra prestar atenção no barulho que vinha de dentro do quarto. Fez um sinal para Jennifer ficar um pouco afastada e encostou seu ouvido na porta.
— Me larga... Seu covarde!
— Isso é pra você aprender...
— Grrrr... — Allec rosnara. — Isso é trapaça!
Acira abriu a porta lentamente e espiou a cena. John e Allec estavam com os olhos e presas de lobo e haviam derrubado alguns objetos. Allec encontrava-se preso no mesmo golpe infalível de John, em que utilizava os braços como um mata-leão para imobilizá-lo.
— Hey crianças, o que vocês estão aprontando? — perguntou Acira entrando no quarto e fizera um gesto para Jennifer aguardar do lado de fora.
— Acira! — disse os dois juntos e John o soltou após bagunçar seu cabelo.
— Vocês estão prontos para conhecer a nova Jennifer?
Acira perguntou se encostando à porta e eles acenaram que sim.
— Pode vir Jenny!
Jennifer hesitou, mas quando entrou surpreendeu ambos deixando-os de bochechas coradas.
— Você está linda! — Allec respondeu sorrindo e foi ao seu encontro. Jennifer havia repicado e cortado o cabelo um pouco acima dos ombros e também colorido de um ruivo bordô, junto de uma franja bem dividida que chegava à altura do nariz. — Se não fosse o seu cheiro, eu não te reconheceria de longe.
— Obrigada! — disse corada.
— Bela ideia Acira! — John disse se aproximando de todos. — A primeira vista até parece uma outra pessoa, Jenny...
— Que bom que gostaram! — respondeu timidamente.
Acira de repente surpreendera a todos ao correr até a janela, como se farejasse algo.
Os três apenas observaram a atitude repentina e John perguntou.
— Está tudo bem Acira?
— Este cheiro... Conheço de algum lugar... Estão conseguindo sentir? — perguntou sem tirar os olhos da janela, que percorria cada canto visível do térreo.
— Há tantos odores... Fica difícil definir de qual você está falando... — John disse abrindo a janela e se concentrando em seus sentidos.
— Não me recordo do que exatamente, mas devo ter me confundido... Deixa pra lá querido... — disse puxando John.
— Certo... — um homem escondido e bem vestido comentou ao telefone. Em seguida observou a janela, que John deixara aberta com um breve sorriso. — Estes parecem ser diferentes... Ok... Ok, já entendi... Farei algo sobre isso, não é sempre que temos carne nova hehe... — o homem voltou a caminhar.
23h57min...
Allec levava Jennifer em suas costas e adentravam o bosque próximo ao hotel. A noite estava fria, mas isto não incomodavam os lobos. Ela sentia o vento bater em seu rosto e uma sensação de liberdade a contagiava. Ele corria rápido e acompanhava o casal alpha, que seguiam a alguns metros a frente. Jennifer começou a sentir as fibras da pelagem de Allec, apurando cada vez mais seus sentidos. Um formigamento dolorido se iniciara em sua coluna e deu um leve puxão na pelagem dele antes de dizer.
— Al... Está começando... — e pressionou seu rosto contra os pelos dele para não demonstrar a dor que sentia.
Allec imediatamente parou e gritou. — John, Acira! — em seguida se agachou para ajudá-la a encontrar o chão, pois Jenny já perdia a consciência.
Acira se aproximou e pegou na mão de Jennifer.
— Por aqui querida. — Acira disse a guiando para longe dos machos. A ajudou a se despir e comentou. — Sinta a dor Jenny, não tente impedi-la se não a transformação demorará e será mais doloroso.
Allec e John esperavam sentados um pouco impacientes.
— Mano, será que ela conseguirá controlar igual nós algum dia? — perguntou Allec.
Mas antes que John respondesse, gritos e uivos vieram da direção das árvores em que as fêmeas sumiram e chamaram a atenção dos dois.
— Não é impossível Al, mas ela precisará de um “norte”... — disse ignorando os gritos. — ...Tente ensiná-la do mesmo modo em que você aprendeu.
— Obrigado... — respondeu Allec, e em seguida Acira aparecera, seguida por Jennifer, que abanou a cauda ao avistar os machos e cumprimentara ambos em maneira canina, submissa e brincalhona.
John a farejou de volta abanando a cauda e Allec entrou na brincadeira mordiscando as patas dela.
— Vamos meus amores, farejei alguns javalis no território. — Acira disse e em seguida iniciou a corrida.
Eles apenas obedeceram e começaram a seguir a loba de olfato mais sensível. Todos corriam em uma velocidade constante. Acira guiava a matilha, ficando John, Allec logo atrás e Jennifer por último. Um cheiro chamara a atenção de Jenny que a fez mudar de direção sem os outros perceberem.
A loba correu alguns metros até encontrar um barranco que deu visão a um acampamento com duas barracas enormes e uma fogueira um pouco afastada. De onde estava a loba avistou os seres que conversavam e comiam alguns marshmallows, sendo duas fêmeas e três machos. Jennifer adorava esta guloseima e se aproximou devagar, indo para trás das barracas, pois havia farejado uma caixa com alguns mantimentos, entre eles os marshmallows.
Começou a farejar uma abertura na caixa e acabou derrubando-a de lado, que quebrara a lateral. Por sorte os humanos não a ouviram, pois estavam cantando em volta da fogueira. Uma pequena abertura foi o suficiente para Jenny enfiar o focinho e pegar algumas das deliciosas guloseimas.
— Pegue mais pra gente Rick... — pediu uma das mulheres.
— Aguenta aí... — disse se levantando e indo em direção a caixa, que se encontrava atrás da barraca.
Jennifer distraída não sentiu a aproximação do humano que possuía uma lanterna, ambos ao se olharem ficaram alguns segundos em estado de choque. A loba percebeu o perigo e começou a rosnar para o homem que nada disse, mas deu alguns passos para trás e acabou tropeçando, caindo com tudo no chão e chamando a atenção dos outros do grupo que gerou algumas risadas.
— O que foi Rick? Não está aguentando mais ficar em pé heheh? — perguntou um dos homens, pois de onde estavam não tinham visão de Jennifer.
Ele nada respondeu, mas continuou se arrastando para trás enquanto a loba ainda imóvel ameaçava avançar a qualquer momento.
— Ai meu Deus! — gritou uma das mulheres quando surgiram mais três lobos do meio dos arbustos que avançaram sobre a loba, que grunhiu em submissão.
John entrou na frente da matilha e encarara o homem, que ao se deparar com o olhar sombrio do lobo negro, saiu do estado de transe e conseguiu se levantar e correr em direção aos demais do grupo que encontravam-se equipados com ferramentas como alguns gravetos de madeira e espetos de ferro de churrasco, para caso o lobo ousasse avançar.
Em questão de segundos os lobos desapareceram na mata.
— Mano, que susto! — disse Rick. — Meu coração está disparado até agora...
— Graças a Deus você está bem... — uma das mulheres disse ao abraçá-lo.
— Alguém filmou isto? — perguntou outro homem.
— Nem deu tempo pra pensar nisto cara...
John observava os humanos no topo do barranco, pois conseguia ouvi-los perfeitamente, enquanto o resto do bando seguia em frente.
Após devorarem um javali e encontrarem um lugar para descansar, John chamara Allec de canto e comentou.
— Irmão, tivemos sorte hoje, pois quase fomos expostos... — em seguida olhara para Jennifer, que já dormia encolhida próxima de Acira.
— Eu sei... Sinto muito. — Allec abaixara a cabeça.
— Comece a ensiná-la o quanto antes, pois na próxima ela pode acabar atacando um humano...
— Farei o meu melhor, pode deixar... — e ambos se juntaram ao redor das fêmeas e adormeceram.
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