— Consegue ouvi-lo? — perguntou Allec sussurrando e sentado em uma raiz centenária, enquanto observava Jennifer de costas e de olhos fechados, sentada a alguns metros na folhagem, concentrada em seus sentidos.
— O som está fraco, mas consigo... — ela respondeu ainda de olhos fechados.
John conseguira um emprego temporário de caseiro em uma pequena fazenda afastada da cidade, que ficava há alguns quilômetros de uma reserva natural. Sendo este um lugar ideal para a matilha se estabelecer. Não haviam animais na fazenda e a única função de John para o qual havia sido contratado, fora a de manter o local impecavelmente igual aos que os proprietários deixaram, antes de saírem de viajem. Além de proteger a residência contra saqueadores e vândalos drogados, que era muito comum na região.
Seis semanas se passaram desde o incidente ao acampamento com Jennifer e seus adorados marshmallows. Allec e Jenny estudavam em casa, pois a distância da escola mais próxima era muito longe, até mesmo para os lobos. Depois dos estudos eles passavam as tardes treinando. Jennifer começara a aprender a como controlar sua consciência na hora da transformação. Já a gestação lupina de Acira aparentava estar de quase oito meses, mas devia estar próxima do término de seu terceiro mês. A data exata do nascimento era improvável, podendo ser em alguns dias ou semanas de diferença.
Jennifer surpreendeu Allec se levantando e correndo ferozmente em direção ao cheiro da lebre que havia sido solta por eles. Ela tomou alguns dribles e quando foi abocanhá-lo dois braços a abraçaram por trás e a seguraram firme, pois ela resistia e queria mais que tudo provar do sangue do coelho.
— Jenny, calma amor, sou eu Allec!
— Grrr.... — Ela rosnava, mas seus olhos e presas foram voltando ao normal ao reconhecer a voz e presença dele. — Al? Eu consegui desta vez?
— Quase lá amor... Só precisa focar mais no momento da transformação, pois esta “ferocidade” inicial é o que separa nossa consciência da natureza selvagem que temos dentro de nós... — disse ainda na mesma posição abraçados.
Jennifer ficou pensativa por um segundo, mas Allec a fizera girar ao puxar seu braço direito e a segurou antes que caísse no chão, ficando em uma posição que sutilmente lembrava uma dança sensual.
— É difícil... — disse desanimada encarando os penetrantes olhos azuis dele.
— Eu sei meu amor, mas em tão pouco tempo treinando você já consegue se transformar sem a lua cheia, isso já é um progresso! — sorriu e em seguida a beijou.
— Também tenho um ótimo professor! — disse entre os beijos.
— Desculpe interrompê-los pombinhos, mas olha o que encontrei...
Comentou John, que se aproximava dos dois com alguns roedores e pássaros mortos amarrados em uma corda pendurados em seu ombro esquerdo, enquanto que na sua mão direita havia uma lebre de cor caramelo, sendo segurada pelo cangote e esperneava tentando fugir dos lobos.
— Ai que bom que o encontrou John! — Jennifer se soltara dos braços de Allec e fora pegar a gaiola.
— Valeu mano, pensei que havíamos perdido este também, nosso estoque tá acabando. — Allec pegou o coelho da mão de John.
— De nada, mas cedo ou tarde nós o encontraríamos de qualquer jeito...
— Obrigada! — Jennifer disse fechando a gaiola e o jovem casal seguiram para o celeiro para guardar a lebre, junto dos outros que eles haviam comprado para o treinamento.
— Amor, cheguei! — John disse depositando os animais na pia e Acira colocara o pequeno pano que costurava de cor unissex na mesa e foi recebê-lo com um beijo.
— Oi querido! Como foi na caçada? — disse o abraçando.
— Roedores e pássaros como de costume... — disse retribuindo o abraço e acariciando a barriga dela. — Sinto falta de presas maiores... Mas estes são melhores que nada! — disse voltando o olhar para os animais mortos.
— São perfeitos querido, obrigada!
John a beijara profundamente e disse. — Eu te amo, você sabe né?
Acira acenou positivamente e sorriu em resposta ao carinho.
— E este ser aqui dentro de você também. — ajoelhou e encostou o ouvido na barriga de Acira. — Olá pequenino... Ou será pequenina?
— Não faço ideia. — ela disse acariciando os cabelos dele e o puxou para outro beijo. — Irei preparar aqueles que estão na geladeira.
— Tá bem, eu irei limpar estes... — disse pegando os animais e indo para a lavanderia se despedindo com um beijo a distância.
02h27min da madrugada…
— É aqui mesmo, tenho certeza… — disse a mulher de dentro de um carro antigo, aparentando ter seus 30 anos com a pele um pouco judiada do sol, enquanto fumava e observava um pequeno mapa da região.
— Sei não hein, mas parece que não tem ninguém também... — comentou um homem que removia o cadeado junto das correntes.
— É claro que não tem ninguém, os moradores foram viajar faz alguns dias... — disse outro homem que pegara um pé de cabra no porta malas do carro.
— Anda logo com isso Doug. — a mulher resmungou ao homem que destravava a porta da frente.
— Pronto, consegui!
Após abrirem, eles observaram por alguns segundos o breu dentro da casa e acenderam a luz próxima à entrada.
— Uou, teremos bastante lucro nesta casa! — disse um homem entusiasmado com os objetos simples, porém alguns antigos e raros, além dos eletrodomésticos.
— Família bem esperta também, não tem nenhum cachorro para espantar os visitantes.
— Vamos logo com isso pessoal, peguem o que conseguirem! — ordenou a mulher começando a vasculhar a sala.
— Relaxa Fabi, a noite é uma criança hehe...
Passaram-se alguns minutos e eles estavam terminando a limpa na sala, até que as luzes se apagaram.
— Mas que droga velho, só para atrapalhar! — disse retirando as lanternas dos bolsos e rapidamente um vulto se aproximou pelo lado de fora da entrada e puxou a porta batendo-a com uma força que fizeram os visitantes se assustarem.
— Que porra é essa? — Doug ficara em posição de defesa.
— Deixa de ser maricas, foi só o vento... — comentou Rafael e quando iam dar continuidade na busca na cozinha que ficava próxima da sala, a mulher questionou.
— Ouviram isso?
— O que é? — perguntou um homem já assustado.
— Ouvi barulhos na escada... — disse intrigada.
Os quatro se agruparam, pois o clima no ambiente não parecia mais o mesmo.
— Vai me dizer que esta casa é mal assombrada Fabi? — perguntou Doug.
— Já falei pra parar de ser maricas... — Rafael comentou ao se virar em direção à cozinha, mas deixou cair o pé de cabra no chão ao se deparar com um lobo negro com mais de dois metros de altura, que dispunha-se sobre duas patas e os observava mostrando os caninos.
“Adoro esse cheiro...” — pensou John enquanto farejava o fedor de medo de todos ao se depararem com a figura inexplicável a sua frente. Ele apenas lambeu os beiços e começara a rosnar.
— Corram! — gritou a mulher saindo em retirada e o último homem bateu a porta da frente antes que o lobo saísse e deixaram todos os objetos para trás.
— Caralho, que porra é aquilo? — continuaram correndo para o carro.
— Vocês viram o mesmo que eu certo? Eu não estava imaginando coisas? — perguntou Doug.
— Vamos dar o fora daqui agora!!! — gritou Rafael.
John apenas com a pata direita encostada na porta fechada, só escutava os resmungos dos invasores e acabou deixando escapar um riso para si. Em seguida surgiram todos os outros lobos e John perguntou a Allec que se encontrava no segundo andar.
— Está a fim de uma corrida Al?
— O que está esperando amor? — Acira perguntou.
— Estou apenas dando alguns minutos de vantagem, senão não tem graça...
— Demorou! — respondeu Allec já com os olhos lupinos amostra e voltou para seu quarto para deixar as roupas. Um minuto depois Al saltara bem no meio da sala, já transformado.
— Vamos pegar todos os aparelhos eletrônicos deles! — John ordenou e uivou saindo como um foguete em direção ao grupo.
Allec uivara em resposta e o seguiu pela mata.
— Ouviram? — Rafael olhou para a estrada escura e empoeirada que o carro deixava para trás. — Será que estamos longe?
De repente o carro freou bruscamente, pois havia um lobo sentado pacientemente bem no meio da estrada.
— Cacete, ele nos seguiu!
— Não, espera, esse ai é menor... — em seguida todos olharam para o teto do carro ao escutarem um barulho de pegadas.
— Saiam, saiam, saiam! — Doug gritou correndo para fora do carro e cada um do grupo foi para um lado.
John apenas os observou correndo para as árvores ao redor e focou em seguir a fêmea, a líder dos saqueadores. Allec fora em direção a outros dois.
Ele a perseguiu por aproximadamente dois minutos até que a derrubara na lama. A mulher começou a implorar e a urinar de medo e havia fechado os olhos só esperando pela morte.
John a rodeou duas vezes só apreciando o odor da presa, que o fazia sentir-se poderoso. Em seguida começou a farejar o corpo da mulher em busca de aparelhos celulares. Após encontrar os destruiu com as próprias garras. Farejou a nuca da vítima e soltara um hálito quente só para vê-la estremecer de medo. Deu um último rosnado e saiu em disparada para outra presa.
— Será que eles estão bem? — Jennifer perguntou terminando de arrumar a sala.
— Não se preocupe querida, são apenas vândalos, em breve eles estarão de volta... — um uivo invadira a sala e Acira abrira a porta.
— Eu não disse? Lá vem eles...
Os machos caminhavam triunfantes com a sensação de dever comprido.
— Foram rápidos! O que aconteceu? — perguntou Acira.
— Apenas demos um susto neles, não se preocupem... — comentou John ficando sobre as duas patas.
— Foi divertido! — afirmou Allec.
— Mas eles viram vocês, será que não voltarão com a polícia? — perguntou Jennifer preocupada.
— Não irão, mas se forem, a polícia não acreditará neles, pois estavam cometendo delitos e o carro deles está cheio de drogas. — John respondeu e foram em direção aos quartos dizendo.
— Bom trabalho a todos, vamos descansar agora... Vejo vocês de manhã. — acenara para o jovem casal que rumava para outro quarto.
— Boa noite! — responderam ambos.
Acira trancara a porta do quarto, enquanto John preparava uma toalha para se banhar, pois todos os quartos tinham uma suíte com banheira. John ligara a torneira e a sentiu abraçá-lo por trás antes de se transformar em humano.
— Tá tudo bem Acira?
— Espere querido, não volte em forma humana ainda... — ela pediu enquanto esfregava o rosto na pelagem de maneira suave, sentido todo aquele cheiro poderoso que a atraia. O cheiro de um alpha. A mesma sensação que John tivera de prazer na perseguição das presas humanas, ela podia sentir agora bem próxima.
— Seu olfato está mais sensível amor? — ele se virou e a acolheu em seus longos pelos negros.
Ela acenou positivamente ainda de olhos fechados e afirmou.
— Eu o quero agora amor! Exatamente do jeito que está!
— Agora? — John perguntou surpreso empinando as orelhas.
— Sim!
John ficara em silêncio enquanto observava as carícias que ela iniciara por todo seu corpo. Se aproximaram da cama, mas John sentou-se no chão e a ajudou a fazer o mesmo. Acira voltou a massageá-lo e John farejou que ela já estava molhada, mas antes de iniciarem a cópula, perguntou.
— Mas e o bebê?
— O bebê ficará bem! Nesta posição eu tenho total controle! Não se preocupe amor... — disse já se posicionando sobre ele e em seguida o beijou no focinho.
— Pronto Jenny? — perguntou envergonhado sentado no meio do quarto ainda em sua forma lupina, enquanto Jenny o rodeava observando sua anatomia.
— Você é fascinante Al! — ela o tocava no focinho e ao redor de suas orelhas sem nenhum pudor. Admirava a maravilhosa criatura que era um lycan, pois nunca havia prestado atenção. Ela notara que ele se sentia incomodado de vergonha e continuou.
— Está com vergonha do quê? Você já me viu nua...
— Mas assim de repente? Você também já me viu em forma de lobo...
— Não é a mesma coisa do que prestar atenção nos detalhes Al... Eu só aproveitei que você já está transformado. — ela lhe direcionara a mão direita e entrelaçou os dedos na pata dele que a lambeu no rosto em seguida.
Ela o surpreendeu com um abraço.
— Obrigada, por ser paciente Al. Agora que possuo os sentidos apurados eu sei como você se sente... Sobre diversas coisas...
— Tipo o quê? — sentiu-se mais envergonhado por perguntar, pois imaginava o que ela queria dizer.
Ela também ficara corada, pois ambos eram muito tímidos para irem mais afundo no assunto, mas ela apenas respondeu.
— Outra hora nós conversamos, quero descansar agora. — e lhe dera outro beijo.
— Certo, irei tomar um banho, boa noite Jenny.
— Boa noite.
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