O ambiente era gelado e o chão possuía vigas e buracos do tamanho de camundongos. Havia goteiras por toda parte. John sentira uma mão suave e familiar acariciar seu rosto enquanto dizia.
— Amor... Acorde amor...
— A... Acira? — ele sussurrou ao despertar, mas ela havia desaparecido. Levantou com um pouco de dor, pois a cura de seus ferimentos estava muito lenta. — Que lugar é esse? — perguntou a si mesmo, mas a voz de uma garotinha de aproximadamente dez anos o surpreendeu.
— Eles não vão te deixar sair até dar o que querem...
John se aproximou farejando a cela ao lado que possuía alguns buracos no qual avistou os pequenos olhos castanhos que o observavam e perguntou.
— O que são eles, garota?
— Eu os chamo de sanguessugas... — disse a voz de um homem que se encontrava em outra cela logo à frente. — Mas também são conhecidos como vampiros...
John farejara cerca de três lobos, além dele, mas todos estavam em sua forma humana, pois eram transformados.
— Já ouvi falar sobre eles, mas nunca os encontrei antes... Pensei que fossem apenas histórias para assustar crianças...
— Como consegue ficar nesta forma sem a lua cheia e consciente? — perguntou a menina curiosa.
— Eu nasci assim...
— Você é um puro sangue então... — disse o homem de outra cela e John apenas acenou positivamente e a menina perguntou novamente.
— Você é um lobo solitário?
— Não, eu possuo uma alcateia... Falando nisso... — John se levantou e começou a observar ao redor. Soltara um uivo profundo e bem alto.
— Por que fez isso? — a menina se encolheu na parede contra a porta e os homens a imitaram como se estivessem com medo.
— O que há de errado com vocês? — John perguntou intrigado.
— Não devia ter feito isso, agora eles virão pra cá... — respondeu a menina.
John ficara em silêncio e foi para o fundo da cela quando avistou a luz de um lampião que se aproximava e a voz de um homem ecoou bem alta pelos corredores.
— Conhecem as regras vira-latas, o responsável pelo barulho inconveniente deverá se entregar, senão todos serão castigados! Hehe... — John avistara o homem um pouco acima do peso de cabelos castanhos, dono do alerta. Em seguida uma voz feminina acompanhada de outros passos disse.
— Dia de sorte deles Edgar, eu já sei quem foi... — a garota ruiva aparecera novamente e parara na frente da cela de John. — Este aqui! O novato... Aproveitando o castigo, vim aqui interrogá-lo. — ela lançara um olhar malicioso para o lobo. John nada disse e só os ameaçava mostrando os caninos e ordenou. — Pendurem-no!
Três homens entraram na cela com bastões de choque, o cercando. Ele sabia que não eram humanos, por isso teria que tomar cuidado. Perambulava de um lado para o outro no fundo da cela com os olhos atentos nos estranhos e quando o primeiro homem avançou com sua velocidade sobre-humana John fingiu ser um alvo fácil, mas quando fora receber a descarga elétrica, segurou a mão do homem firmemente e o lançou contra o outro. Desviou do terceiro homem que surgira por cima e correu em direção a porta que estava vazia e aberta. Quando colocou as patas para fora, foi surpreendido por uma descarga elétrica no pescoço. A vampira havia se escondido no teto, e a ideia de olhar para cima não passou pela sua mente. Sentiu a descarga pelo corpo e tentou se levantar, mas os outros homens se aproximaram rapidamente, aproveitando que ele caíra no chão e direcionaram as armas de choque o fazendo gritar até ficar inconsciente. Como o ambiente era uma penumbra, os choques pareciam fogos de artifícios num intervalo muito curto de um para o outro.
— Pendurem-no! — repetiu a mulher.
Os homens rapidamente o arrastaram para dentro da cela e soltaram os ferros que ficavam presos às armações das correntes.
— Al, vamos fazer uma parada, eles estão exaustos... — disse Jennifer observando os dois pequeninos que haviam deitado no chão.
— Não devemos estar muito longe... — ele comentou colocando a mochila que ele carregava no chão. Eles seguiam em direção ao uivo de John, que devia estar há alguns quilômetros de distância. Jennifer deitara em volta dos filhotes para mantê-los aquecidos e disse.
— Eles devem estar com fome, passe a carne para cá, por favor...
— Deixa amor, eu faço isso... — Allec comentou e começou a mastigar um dos pedaços que eles levavam na mochila. Os filhotes ao notarem o que ele fazia se aproximaram de Allec e começaram a abanar suas caudas. Ele mastigara e engolira parcialmente a carne, mas em seguida a regurgitou para os filhotes, deixando a carne mais macia, pois eles ainda não estavam muito acostumados a comerem alimentos sólidos.
Enquanto eles comiam, Allec se aproximou e deitou ao lado de Jenny perguntando.
— E você amor, está bem? Não está com fome também?
— Eu estou bem, vamos guardar o que trouxemos para eles, pois precisam mais do que nós... E podemos pegar qualquer animal depois...
— Se você diz... — ele comentou e em seguida a acariciou com o focinho.
John sentia seus braços dormentes, tentou movê-los enquanto recobrava a consciência, mas barulhos estridentes vieram a cada movimento. Tentou arrancá-las por várias vezes até que uma voz o interrompeu.
— Já tentamos isso, não conseguirá rompê-las... Só Deus sabe do que estas correntes são feitas, se é que ele existe... — afirmou o homem da cela à frente.
— Droga! — John rosnou.
— Você tá bem? — perguntou a menina receosa aproximando-se novamente da cela de John.
— Tirando a parte de eu estar acorrentado, já tive dias melhores...
Barulhos de passos se aproximavam das celas novamente e todos ficaram em silêncio. A vampira parara na frente da cela de John, mas desta vez estava sozinha.
— Você de novo? — John perguntou em tom de deboche.
— Sentiu minha falta é? — a vampira sorriu e abriu a cela.
— Nem fodendo! — John rosnou.
— Falando nisso... — ela caminhou até ele e começou a tocá-lo e continuou. — Se colaborar podemos nos divertir mais tarde...
— Tire suas mãos imundas de mim!
John lhe direcionara várias dentadas, mas graças às correntes ela estava em uma distância segura.
Ela sorriu maliciosamente e perguntou.
— Onde eles estão? Basta apenas responder esta pergunta simples e poderá ser livre novamente...
— Vai para o inferno! — em seguida cuspira nela e soltara um riso zombeteiro.
— Acha engraçado? — ela esfregou o rosto em um pano que tirara do jaleco e disse sorrindo. — Eu já estou nele meu querido, igual à outra cadela de sua alcateia...
— Do que está falando?
— Eu mesma a mandei para lá... Infelizmente ela não quis colaborar conosco, então não tive opção a não ser matá-la... E acontecerá o mesmo com você se não colaborar! — ela dizia cada palavra bem tranquila e limpando as unhas, mas sabia que ao citar a loba mexera com ele.
— Sua desgraçada! — ele tentou avançar nela novamente. — Eu vou acabar com sua raça!
Ela o encarou como se aquela ameaça não significasse nada e deu as costas para ele dizendo.
— Bom em breve você irá colaborar e será por bem ou por mal!
— Grrr... Volte aqui sua desgraçada! — John gritou e ficava dando uns trancos nas correntes com a intenção de arrebentá-las. Após alguns minutos John parou pela exaustão e por estar faminto.
— Estamos próximos Jenny, mesmo fraco, consigo sentir o cheiro dele... — Allec disse colocando a mochila no chão. Ele estava próximo de uma poça de lama e surpreendeu a Jenny e os filhotes ao se jogar nela de costas.
— O que está fazendo Al? — ela perguntou e os filhotes imitaram o comportamento de seu tio.
— Disfarçando nosso cheiro! — ele riu após ver os filhotes se lambuzando também. — Falta você Jenny!
— Sério que terei que fazer isto? — ela se aproximou da poça e farejou, tampando o focinho em seguida. — Essa lama tá fedida!
— Essa é a ideia, seja lá o que forem devem possuir um olfato similar ao nosso...
— Sem chance Al... Não vou me jogar aí... — ela deu alguns passos pra trás.
— Bom... Se você não quer fazer isto então... — ele levantou rapidamente e a surpreendeu pulando em cima dela a derrubando de costas. — Me dá um abraço! — ele se esfregou nos pelos dela, manchando os graciosos pelos brancos de um tom marrom acinzentado e ela rosnou.
— Al! Para com isso! — ela o empurrou com as patas traseiras e ele voltou para lama. — Olha o que você fez!
— Você tá linda amor! — ele riu e se assustou quando ela deu um pulo em direção a ele.
— Agora você vai ver! — e os dois rolaram na lama.
17h30min. O sol já dava sinais de sua despedida diária.
Jennifer e Allec haviam encontrado um galpão bem próximo do mar e um pouco afastado das residências. O lugar parecia mais como uma garagem antiga, mas o cheiro de John vinha forte daquele local. Eles observaram durante algumas horas e haviam deixado os filhotes escondidos e presos há alguns quilômetros dali.
— Ele está lá, posso sentir... — Allec comentou.
— O que faremos agora? Não parece ter muita gente lá dentro...
— Também acho, farejei em torno de umas cinco pessoas, ou seja, lá o que forem...
— Como chegaremos lá sem nos verem?
— Eu tive uma ideia...
Quando foram correr em direção oposta ao galpão, eles se surpreenderam pelo uivo de um lobo. John já sentia a aproximação deles, mesmo com seus cheiros disfarçados.
John continuou a uivar, mesmo ouvindo os alertas de seus companheiros de cela e dois dos guardas apareceram. Um dos homens o ameaçou.
— Olha vira-lata, se não parar agora, eu juro que irei te eletrocutar até seu coração parar!
John o ignorou completamente e soltou outro uivo.
— Ora seu... — eles abriram a cela impacientemente e começaram a eletrocutá-lo. — Te avisamos! Tente uivar agora desgraçado!
John, já quase inconsciente, fora polpado temporariamente ao escutarem barulhos de sirenes, que os fez parar.
— Edgar, é aqui!
— Droga, o que será desta vez?
— Vamos verificar... Terminamos com você mais tarde!
Afirmou o homem dando um soco no estômago de John que gemeu de dor, porém ainda consciente, soltou um breve sorriso após a saída dos guardas.
— Boa noite. — disse um policial indo de encontro com os guardas do prédio. — Recebemos uma denúncia sobre este lugar e...
— É agora Jenny, vamos nessa!
Allec sussurrou após escutar as pessoas conversando. Eles entraram pelos fundos e seguiam o cheiro do John até que o encontraram.
— John! — Allec sussurrou ao avistar seu irmão pendurado com as correntes e notou que havia outros lobos que os observavam em silêncio, mas voltou à atenção para seu irmão que ofegava, mas conseguiu dizer.
— É bom ver vocês!
Allec tentou abrir as grades, mas em vão.
— Onde estão as chaves?
— Com o homem gordo, ele as carrega na cintura... — disse a menina da cela ao lado.
— Escondam-se, rápido! Eles já estão voltando. — disse John.
Allec e Jennifer encontraram algumas fendas no teto rochoso e fincaram suas garras ali permanecendo em silêncio.
— Cacete, odeio esses policiais, sempre se intrometendo aonde não devem... — resmungou Edgar.
— Vamos verificar depois com os superiores e descobrir quem fez essa denúncia...
Pararam em frente à cela de John e Edgar disse.
— Olá amigo, não achou mesmo que havíamos nos esquecido de você, achou? — comentou enquanto destravava a porta e preparava os bastões de choque. John rosnou e começou a gritar quando recebeu novamente as descargas.
Algo havia fechado a grade atrás dos homens e quando foram olhar um lobo avançou na garganta e o outro quebrou o pescoço do guardião das chaves.
— Rápido Jenny antes que mais deles apareçam! — eles começaram a soltar as correntes de John que caiu ajoelhado, pois sentia-se atordoado. — Segura no meu ombro, mano... — disse Allec o ajudando a levantar, enquanto Jennifer libertava os outros lobos.
— Precisamos sair daqui, agora! — Jennifer afirmou indo na frente, enquanto observava o ambiente.
— Nós o carregamos você vai à frente com a loba para verificar o caminho. — disse um dos homens que se posicionaram para ajudar John a caminhar.
— Está bem, obrigado!
Por sorte os outros homens de guarda eram humanos, não conseguindo farejar a situação e os lobos passaram despercebidos por eles até encontrarem os corpos dos vampiros dentro da cela, mas eles já estariam em uma distância segura.
— Pensei que nunca sairíamos de lá, muito obrigado por isso! — afirmou o homem de cabelo grisalho.
— Não há de que! — respondeu Allec. — Quem sabe um dia não possamos nos encontrar de novo, não é?
— Seria um prazer, bom estamos indo, boa sorte a vocês!
— Obrigado... — agradeceram os lobos.
— Pra vocês também! — respondeu John, que já havia se recuperado dos choques, em seguida os três lobos olharam para a garotinha.
— E você menina, tem alguma família te esperando? — John questionou e ela apenas acenou negativamente.
— Aliás, qual é seu nome?
— É Rebeca senhor...
Os lobos se entreolharam e John continuou.
— Me chame de John, Rebeca... E estes são Allec e Jennifer.
— É um prazer! — disse a garota timidamente.
— O prazer é todo nosso! — respondeu Jennifer.
— Gostaria de vir conosco? — John perguntou.
A menina começou a chorar e acenou positivamente.
— Seja bem vinda! — Jennifer se aproximou e perguntou. — Posso verificar uma coisa?
Rebeca acenou novamente e ela começou a tocar lhe atrás do ombro e parou ao sentir um pequeno relevo.
— É exatamente o que eu pensava... Irei removê-lo, tudo bem?
— Tá bem... — Rebeca respondeu.
— Sou só eu que não estou entendendo nada? — Allec direcionara a pergunta a John sem desviar o olhar de Jenny e Rebeca, que estava há alguns metros de distância.
— Não... Também não sei o que se passa ali...
— Irá doer um pouco... — ela a segurou firmemente. — No três, ok?
A menina confirmou com a cabeça e fechou os olhos se preparando para dor.
— Um... — Jennifer a surpreendeu ao cravar as garras antes do tempo combinado e a menina começou a gritar.
— Jenny, o que está fazendo? — perguntaram os machos surpresos.
— Isso! — ela mostrou um pequeno chip que arrancara do ombro de Rebeca, que chorava em silêncio. — Eles iriam nos rastrear através dela... Quando caçadora, fazíamos isso para encontrar as alcateias... — Jennifer começou a lambê-la para estancar o sangue. — Pronto, está tudo bem agora, você é muito forte Rebeca! — ela a abraçou enquanto a menina ainda chorava retribuindo o abraço e continuou. — Eu ainda estou desconfiada, achei fácil demais o resgate... É como se...
— Como se estivessem nos observando agora e esperando que os levemos até os filhotes... — interrompeu John, começando a farejar o ambiente.
Allec o imitou e disse.
— É estranho, porque eu não consigo farejá-los...
— É wolfsbane Al... — comentou Jennifer olhando ao redor e disse. — É melhor irmos!
— Rebeca, venha, suba nas minhas costas. — ordenou John ficando em sua forma quadrúpede.
E os lobos começaram a correr rumo aos morros que davam caminho para uma floresta.
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