Eles caminharam aproximadamente 2 horas até chegarem na fazenda onde Barbara morava e descobriram diversas coisas um sobre o outro, mas os risos cessaram-se ao avistarem a casa onde o pai dela deveria estar.
— Ai meu Deus… — Barbara observou assustada com sua casa, que havia sido queimada e apenas escombros restavam no local.
— Papaiiiii!!! — ela correu até o local gritando e Charles a seguiu em silêncio e olhava ao redor em busca de alguma emboscada, mas o cheiro dos humanos que passaram por ali já era fraco. — Cadê você papai? — ela começou a chorar e revirar os escombros carbonizados. Farejou o sangue de seu pai no local onde era a sala de estar e começou a revirá-la dizendo. — Onde está? Aonde…
Charles prendeu-a por trás e a abraçou firmemente, pois sabia que os caçadores da região levavam os corpos junto deles.
— Aonde… — ela começara a chorar e tentava se soltar dos braços dele para que continuasse sua busca, mas fora perdendo a força até que parara de se mover.
— Sinto muito, mas não irá encontrá-lo por aqui…
— Como sabe disso?
— As famílias destes caçadores são cruéis… E...
— Preciso encontrá-lo… — ela o interrompeu. — Por favor, me leve até eles Charles, ele ainda pode estar vivo!
Ele acenou negativamente, pois não queria dar falsas esperanças.
— Sinto muito Barbara, mas a chance disso ser verdade é praticamente zero…
— Você não sabe! — ela começou a lutar para sair dos braços dele, que resistia para segurá-la. — Me solta!
Ele a soltou e disse.
— Pare com isso, você só irá se tortura deste modo...
— Você só pode estar mentindo! — ela rosnou. — Como pode saber de uma coisa dessas?
— Eu... Eu... — lembranças ruins vieram à tona e Charles apenas desviou o olhar.
— Tudo bem se estiver com medo, eu agradeço a ajuda por me trazer até aqui...
— Não é isto Barbara, eles são muito perigosos, eu só ti peço para que não vá atrás deles...
— Você não entende, eu preciso vê-lo... — começou a chorar ao lembrar-se de seu pai.
— Eu sei como se sente, mas não vai gostar do que encontrará...
— Muito obrigada pelo seu otimismo! — ela rosnou nervosa.
— Será que não vê que estou tentando ajudá-la desde que nos conhecemos? Acredite em mim, não vá até eles, são muito perigosos!
— Eu já entendi, mas é melhor você ir embora agora, não quero envolvê-lo nisso.
— Deixe de ser teimosa mulher! — Charles rosnou e ela retribuiu o gesto.
— Não se intrometa!
— Se quer assim então beleza, estou indo nessa! — o lobo dera as costas para Barbara.
— Ok então, adeus! — ela rosnara e saiu correndo.
Durante o caminhar de volta a montanha Charles ficou pensativo.
“Você acaba de encontrar a mulher que tanto ansiava e vai simplesmente deixá-la ir? Acorda seu imbecil!” — disse a si mesmo e se virou, mas Barbara já havia sumido.
Começara a chover, mas as marcas dos pneus ainda estavam recentes. Andou por um longo tempo na estrada de terra que era pouco movimentada. Alguns quilômetros à frente, a trilha automobilística mudara radicalmente em direção as árvores mais densas do bosque.
Barbara sentia que eles se aproximavam e seu coração acelerou. Hesitante, continuou seguindo o barro, que já formavam pequenas poças de água, devido à chuva que ficara mais densa. A loba pareceu não se incomodar e já estava encharcada. Há aproximadamente cem metros avistou luzes, naquele oceano cinzento, sendo transformado pela pequena neblina que se formava. Observou todos os ângulos e quando foi correr, sentiu alguém tapar sua boca e a puxar para trás.
— Shhhhh... Sou eu Barbara! — sussurrou Charles. Ele pôde senti-la acalmando-se ao reconhecê-lo e continuou sussurrando.
— Vou te soltar agora...
— O que está fazendo aqui? — questionou rosnando.
— Vim te ajudar, oras... Afinal eu os conheço melhor do que você...
— Não precisava ter vindo, eu sei me virar sozinha! — ela disse lhe dando um pequeno empurrão com sua pata direita.
Ele deu de ombros pegando a pata que lhe empurrara e a direcionou a 25 cm do chão. Ficando a alguns centímetros da armadilha, que possuía um tipo de sino pendurado em uma linha amarrada entre duas árvores e retrucou.
— Deu pra ver, se não fosse eu, já teria chamado a atenção de todos do acampamento. — Barbara assustada, se dava conta que havia diversos alarmes ao seu redor.
Barbara rosnou para as armadilhas e em seguida voltou a encarar o lobo encabulada e agradeceu.
— Obrig...
Ele a interrompera tapando a boca dela dizendo.
— Não me agradeça ainda, somente depois que estivermos em um lugar seguro... — ela assentiu com a cabeça e ele continuou.
— Vamos chegar mais perto para tentar avistá-lo e depois eu os afastarei para que se aproxime de seu pai... Me siga! — ordenou e foi andando lentamente observando cada canto entre as árvores.
— Ficou maluco Charles? Isso é suicídio!
Ele a encarou brevemente e sorriu dizendo.
— Não esquenta raio de sol, eles não vão me pegar! Só me siga, tá bem? — e pensou voltando a caminhar. — “O que não fazemos pelo amor, hm?”
Andando em linha reta eles se depararam com cinco armadilhas. Há 9 metros do acampamento, eles avistaram uma espécie de mural encostado em um caminhão. Mesmo com a chuva, Barbara jurou ter avistado orelhas e pelos lupinos atrás daquela parede úmida e sinalizou com os olhos para Charles, que apenas acenou positivamente e foi para o outro lado. Ali ela permaneceu agachada entre a folhagem dos arbustos e em silêncio. Por volta de três minutos depois escutou uma sequência de sinos do outro lado do acampamento. O barulho chamara a atenção dos cães, que foram soltos pelos caçadores e saíram em disparada ao ruído.
Barbara, lentamente caminhou até seu alvo e observava todos os lados. Notando que a presença de caçadores era praticamente zero, correu até o mural que transbordava um cheiro familiar. A pequena esperança que nela havia, a chuva levara embora no momento em que fitara o corpo de seu pai mutilado. Estava pendurado com pregos e cordas, como uma espécie de troféu ou isca.
— Papai? — Suas palavras mal saíram e hesitante o tocou na face. — Ai meu Deus, o que fizeram com você? — Tocou a pele gelada, já fazia algumas horas que a vida havia sido extinta daquele corpo e ela começou a chorar. Voltou a si quando escutou os latidos dos cães se aproximando e pensou o tocando pela última vez.
“Sinto muito... Adeus papai...”
Quando virou para seguir o mesmo caminho, dera de frente com um caçador e ambos se assustaram o fazendo disparar duas vezes a arma, porém no segundo disparo fora derrubado pela loba que pulou por cima dele e sumira na mata. Barbara correu com todas as forças e pegou uma distância considerável do caçador, mas começara a sentir sua visão turva. Suas patas dianteiras se enfraqueceram repentinamente devido a uma ardência e dor no seu peito a fazendo tropeçar. Havia sido baleada. Tentou se levantar mais duas vezes, mas voltou ao chão se sentindo mais fraca e já perdia a consciência.
“Preciso sair daqui...” — pensou e avistara dois olhos amarelos na escuridão, vindo a seu encontro. — “Será meu fim?” — e apagou.
— Barbara! — Charles farejou que ela estava ferida. Havia despistados os cães, mas mesmo com a chuva eles sentiam seu cheiro e o som deles ficava cada vez mais alto. — Acorda Barbara! — ele mexera em seu ombro, mas ela não respondeu. — Droga! — resmungou e olhou para trás, esperando visualizar um de seus inimigos, mas em vão. Enfiou sua cabeça abaixo da pata esquerda da fêmea e com um movimento a colocou em suas costas. Foi em direção a um barranco a cerca de 100 metros que dava em um riacho. Carregou-a com dificuldade, por causa da água no terreno que ficara escorregadio, chegando a cair junto dela uma vez, mas precisou se apressar. Já bem próximo a beirada do barranco pensou.
“Não há outro meio...” — analisou a altura que era em torno de 10 metros. Olhou para trás ao escutar os latidos que ficavam cada vez mais altos. — “É agora ou nunca.” — levantou a loba e a segurou firme por trás. — “Aguente firme raio de sol...” — pensou se jogando abraçado da loba e caíram na água.
Alguns quilômetros riacho abaixo, Charles conseguiu arrastá-la para a margem. Encontrava-se em uma região de seu território. Checou o pulso da fêmea, cada vez mais fraco. Já parara de chover e ele soltara um uivo alto. Em seguida a colocou em suas costas e começou a carregá-la. Segundos depois ouviu dois uivos em resposta e continuou caminhando. Charles havia batido a cabeça entre as rochas e se sentia zonzo, mas fez seu máximo para prosseguir. Ao avistar alguns lobos de pelagem escura se sentiu aliviado ao se aproximarem e falou fracamente.
— Adonias, Bianca, Marley, me ajudem a levá-la para aldeia, por favor... E rápido! Ela foi ferida com uma bala de prata... — E os lobos sem pensarem duas vezes já foram ajudando os dois e Charles também acabou desmaiando no caminho.
Barbara acordara de repente, mas não se moveu. Sentiu uma leve pontada no peito e levou sua mão até o local, que já havia cicatrizado. Notara que estava em forma humana e olhou ao redor. Era uma espécie de cabana bem reforçada feita de madeira. Sentou-se na cama, com uma espécie de camisola branca e perguntou baixinho.
— Onde eu estou? — continuou observando o local e ao olhar para a porta que se abrira, notou uma criança sorrir surpresa ao encará-la e correu novamente para fora. Em seguida olhares curiosos e tímidos espiavam pela porta entre aberta, até que Charles chegou.
— Barbara! Que bom que acordou!
— Charles! — ela exclamou sorrindo e corou ao olhar novamente para as pessoas da porta fixadas nela e o sorriso cessou-se, se enfiando um pouco abaixo da coberta.
Charles sentiu o desconforto dela e disse.
— Vamos pessoal, dêem um pouco de espaço pra ela, assim que ela se sentir a vontade, todos a conhecerão melhor! Irei fechar agora, com licença...
Comentou enquanto encostava a porta e ambos puderam ouvir os cochichos dizendo sobre o quanto ela era bonita.
O macho se aproximou timidamente de Barbara encabulado, devido aos comentários e disse.
— Me desculpe por isso... Hehe...
— Tá tudo bem...
— Posso? — questionou gesticulando em direção a cama.
— Claro!
Ele sentara aos pés de Barbara, ainda cobertos e perguntou.
— Obrigado. Como está se sentindo raio de sol?
— Bem, eu acho... Onde estamos e o que aconteceu?
— Aqui é seguro, não se preocupe! Estamos na aldeia da minha alcateia... E você foi baleada e ficou inconsciente por dois dias...
— Entendo... — ela levou sua mão até o local da cicatriz. Lembranças de seu pai começaram a invadir sua mente e começou a chorar.
— Raio de sol, o que foi? — se levantou e chegou mais perto para consolá-la. — Vamos, me diga! — pegou nas mãos dela após limparem as lágrimas.
— Me desculpe...
— Pelo quê?
— Eu devia ter te ouvido... O que fizeram com ele... Foi horrível!
Ele a abraçou e disse.
— Sinto muito Barbara pela sua perda... — ela retribuiu o abraço e ficaram em silêncio por alguns segundos. Ele se soltara do abraço e continuou. — Não sei se serve de consolo, mas uma coisa eu sei sobre eles... Seu pai não sofreu...
— Como pode saber de uma coisa dessas?
— Eu hesitei em ir com você porque... Porque quando mais novo eu... — ele suspirou e continuou. — Eu os vi acabarem com meus pais e irmãs...
— Meu Deus, eu sinto muito Charles!
— Tá tudo bem, já faz um bom tempo... Eu era apenas um garoto na época... Mas impotentemente eu assisti a execução deles, minha mãe havia me escondido no piso de madeira, que era pequeno demais para esconder a todos... Eles executaram cada um deles com uma bala na cabeça, mas as atrocidades que fizeram nos corpos deles foram apenas depois das almas já terem partido... Acredito que seja o método deles... — se levantou e a encarara, notando certa expressão de que ela iria cair em lágrimas a qualquer momento.
— Sinto muito raio de sol, não devia ter tocado no assunto... É só que...
— Tudo bem Charles, eu entendo o que está tentando fazer... Muito obrigada... Se não fosse por você eu não estaria aqui hoje... Eu só não faço ideia do que farei agora... — começara a chorar.
— Não tenho mais ninguém, estou sozinha de agora em diante...
Barbara levara as mãos no cabelo e Charles pegara uma delas.
— Deixa de falar besteiras raio de sol, você não está sozinha... Tem a mim e a todos deste bando, se quiser morar conosco é claro, mas em especial comigo... — ele pegara algo do bolso.
Ela o encarou surpresa ao ver o anel que ele erguera com a mão livre. Era simples e de madeira, mas com alguns detalhes esculpidos a mão.
— O que é este anel Charles?
— Estou te pedindo em casamento sua boba...
Ela corara e pegara o anel por alguns segundos e logo o colocou nas mãos dele novamente.
— Não posso aceitar...
— Por que diz isso? — a encarou triste.
— Você merece coisa melhor, eu não sou digna de fazer parte de sua família...
— Você só pode estar brincando, certo? — ele a puxou pelas duas mãos e a encarou dizendo. — O que está escondendo raio de sol? Se acha que vou deixar a mulher da minha vida sair facilmente de minhas mãos? Só se for por uma boa razão! Então comece a falar... Por favor...
Ela deixara escapar algumas lágrimas e começou a falar baixinho, pois os dois estavam bem próximos.
— Lembra quando eu disse que migramos para cá há algumas décadas?
— O que tem isso?
— Minha família é fugitiva, Charles, há diversos históricos de lobos que atacaram humanos desde há algumas centenas de anos... Os primeiros a experimentarem o sangue deles devem ter passado algo para as demais gerações agirem semelhantes. Somos uma família nômade e grande parte de nós são caçados e eliminados tanto por lobos quanto por humanos graças aos nossos ancestrais... O que quero dizer é que meu sangue não é puro como o de vocês...
Ele a surpreendeu dando lhe um beijo e disse.
— Acha mesmo que eu me importo com isso? O que me interessa é você raio de sol, independente de onde tenha vindo...
— Por que é tão bom comigo? — ela começou a chorar.
— Eu já disse que estou apaixonado por você! — ele lhe direcionara o anel novamente e ela o colocou no dedo em seguida o puxou para um beijo e disse.
— É sim!
Os dois aprofundaram-se no beijo e acariciavam o corpo um do outro. Barbara sentou-se no colo dele. Os corpos de ambos ansiavam algum tempo por aquele momento e com a ajuda dela, Charles abrira sua calça e ali mesmo concretizaram sua união.
Alguns minutos depois com ambos ofegantes ele disse.
— Você é minha agora e eu sou todo seu! Eu te amo Barbara...
— Também te amo!
Os dois se beijaram e sorriram.
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