- Não consigo gostar de café. Sério.
- Eu também não - Complementou Sol. - E talvez seja por isso que eu insisto em beber.
Era uma manhã nublada de segunda e a lanchonete aparentava assombrosamente fria e vazia, o que me parecia, na verdade, o ambiente perfeito para o que vinha a seguir.
- Ué - Indaguei, confuso. - e por que você se força a tomar, se não gosta?
- Na verdade, é que eu me identifico com o café.
Encarei-a, e deixei que o vento uivando nas janelas respondessem por mim. Não tinha certeza do que ela queria dizer, mas estava claro que aquela seria mais uma das conversas com Sol que nunca me esqueceria.
- Café é esquisito, e eu nunca vi ninguém que realmente gostasse sem ter se esforçado muito pra aturar até se acostumar. Precisa de açúcar e outras bobagens pra ficar tolerável, porque todo mundo sabe que sozinho o café é insuportável. Não aparenta ser bom e muito menos atrai alguém além da minha avózinha. Parando pra pensar, isso é muito do que eu sou, e talvez me forçando a beber café eu comece a me acostumar comigo mesma.
Sol abaixou a cabeça, e, olhando para os sapatos, deu a brecha para que eu respondesse.
- Café não é pra todo mundo - Disse. Ironicamente, a conversa me fez perder o sono.
- Mas pra quem gosta, significa muito, e, acredite, salva a manhã de muita gente nas aulas de matemática.
Sol deu um sorriso de canto de boca que me surtiu efeito como um jato de cafeína.
- É bem amargo, verdade - Continuei, inspirado - Mas quem disse que isso é ruim? É um gosto que você nunca vai encontrar em outro lugar. Podem até tentar, mas nunca vão conseguir chegar perto da explosão de sabores quando se toma um gole de café pela primeira vez. É praticamente mágico, eu diria.
- Há cinco minutos você disse que não gostava de café - Retrucou Sol, arqueando ligeiramente as sobrancelhas mas incapaz de esconder a doce felicidade no rosto. -Não precisa mentir pra mim.
- Não tinha pensado direito todo esse tempo. Agora pode me considerar um admirador secreto de café. - Completei, me servindo de uma xícara generosa e sem açúcar de expresso.
Chame de coincidência, chame de destino; Depois dessa conversa, o café se tornou parte de todas as minhas manhãs. E quem me dera se fossem os dois.
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