I fell in love
But I swear it was unintentionally
Would never want to do this falacy
Oh, baby, I guess you really changed me
- Serpens Caput, a heart falacy
— Você está mudado ultimamente. — Jack diz para o amigo, o afastando de seus devaneios.
— Mudado, como? — Steve pergunta, mas ele já sabe o que o outro garoto quer dizer.
— Você está... mais distante, calado. Normalmente, você não cala a boca. — Jack explica. — Aconteceu alguma coisa?
“Eu me apaixonei por você” Steve pensou, mas não teve a coragem de soltar as palavras. Se sentia confuso, estava assustado e não sabia o que fazer.
— Não, nada. — Ele mentiu, bagunçando os cabelos loiros com uma das mãos. Estava tão longo que algumas mechas cobriam uma de suas sobrancelhas, dependendo do jeito que era arrumado. “Preciso de um corte de cabelo” Ele pensou. “Preciso cortar várias outras coisas também; como meus sentimentos, pela raiz”. Seus olhos castanhos evitaram olhar para os verdes do amigo a todo custo. — Você acha que eu preciso cortar o cabelo?
Jack o encarou por alguns segundos, confuso. — Eu gosto do seu cabelo assim. — Ele deu de ombros. — Eu acho.
Aquilo não melhorou o estado de Steve. Jack não poderia elogiá-lo ou se expressar como uma pessoa normal? Ele estava sempre falando por metáforas e enigmas que não faziam sentido algum na cabeça do outro. Steve soltou um suspiro e olhou para o céu, alaranjado pelo pôr do sol. Há quanto tempo tinha esses sentimentos? Dias? Semanas? Anos, talvez? Os dois se conheciam desde que eram criancinhas de fralda. Como podia ter se apaixonado por seu melhor amigo?
Sua cabeça estava cheia de barulhos, confusa, dolorida. Seu peito se contorcia, suas mãos suavam e tremiam, assim como suas pernas. Ele se esforçava para controlar o impulso de olhar para seu amigo, acariciar seu cabelo moreno com as mãos, passear com o polegar sobre a cicatriz que ele tinha na mandíbula – da vez que ele andava de skate e caiu numa pedra. Steve se lembrava de ter abraçado Jack e rasgado uma parte de sua camiseta velha para limpar o sangue do rosto dele. Na época, tinham dez anos. Agora, tinham quinze. O loiro se lembrava da situação como se houvesse ocorrido há poucos dias. Fora a última vez que vira seu amigo chorando.
— Sabe que pode me contar qualquer coisa, não sabe? — Jack disse, colocando uma das mãos sobre o ombro do amigo.
Dessa vez, Steve realmente olhou para ele. Trancou seus olhos com os dele, surpreso e incerto do que dizer e fazer. Ele simplesmente sentiu seus olhos arderem.
— Steve? — O amigo perguntou quando o loiro cobriu seu rosto com ambas as mãos, escondendo seus olhos lacrimejantes. Não queria que Jack o visse chorar. — Steve, o que houve? — O moreno passou um dos braços em volta dos ombros do amigo, o puxando para perto num meio abraço. O soluço que escapou dos lábios de Steve denunciou o choro do mesmo, e foi aqui que Jack o abraçou de verdade.
A diferença de altura dos dois não era grande, mas Jack era levemente mais baixo que Steve. Talvez fosse essa a razão da sensação estranha que atingiu os dois amigos quando o loiro abraçou a cintura do moreno e afundou seu rosto na curva do pescoço do outro, arqueando levemente suas costas, finalmente deixando as lágrimas escorrerem e molharem a manga da camiseta do outro.
— Me conte quando você estiver pronto. — Jack sussurrou para o amigo. — Eu não gosto de te ver assim. — Ele disse, sincero.
— Se eu te contar, você não vai gostar de me ver de jeito nenhum. — O outro disse, com a voz trêmula.
— Não, Steve. — Jack o abraçou mais forte. — Somos melhores amigos, nada vai mudar isso.
E foram aquelas palavras inocentes que esmagaram o coração do loiro. “Talvez eu não queira que continuemos amigos. Talvez eu não queira deixar as coisas como elas estão”, ele pensou.
O moreno sentiu o aperto dos braços do outro em volta de sua cintura enfraquecendo, mas ele não queria soltá-lo. Algo dentro de si gritava para não o deixar ir, mas ele não entendia bem o porquê. Steve sempre fora um garoto sorridente, e eram poucas as vezes em que ele chorava. Jack sabia que, se o amigo derramava lágrimas daquele jeito, algo estava muito errado.
— Steve... — Ele sussurrou, mas não conseguiu completar. O que poderia dizer? Ele não fazia ideia de como reagir a tudo aquilo, já que nem fazia ideia do que estava chateando o amigo. Ele simplesmente soltou palavras que, em sua cabeça, eram uma boa forma de conforto. Naquele momento, era o melhor que podia fazer, também. — Eu estou aqui para o que você precisar. Seja o que for.
O loiro ergueu a cabeça e encarou o amigo com os olhos vermelhos e já inchados por alguns segundos. Num ato completamente impulsivo, ele colocou as mãos nas bochechas do outro e o puxou para mais perto, selando seus lábios.
Os olhos de Jack se arregalaram e suas mãos empurraram Steve para longe de uma maneira instintiva. Só percebeu o que tinha feito quando Steve esfregava as costas de suas mãos sobre seus olhos, tentando enxugar as lágrimas. O ato, porém, era em vão, já que haviam novas gotas daquela água salgada se formando novamente.
— Desculpe. — Ele disse, incapaz de conter os soluços. — Eu.... Eu não sei o que deu em mim.... — Ele tentou rir. Ao invés disso, os soluços ficaram mais violentos.
Jack estava paralisado. O que havia acabado de acontecer? Steve havia... Steve o beijara? A mente do garoto era uma cacofonia, um pandemônio. Milhares de pensamentos e de perguntas se formavam, e ainda assim, ele não conseguia dizer nada.
Ele deu um passo para trás. Depois outro.
— Steve... — Ele murmurou, quase tropeçando em seus passos e em suas palavras. O loiro não descobriu os olhos. — Eu.... Eu não sei....
— Só... Você.... Por favor, finja que tudo isso... — O outro começou. — Finja que tudo isso foi uma piada. Por favor, Jack.
Jack não sabia o que fazer. Assim, como qualquer garotinho covarde, ele fugiu. Simplesmente virou as costas e começou a correr, deixando seu melhor amigo, o garoto que conhecia há tantos anos, para trás. Porque não sabia o que fazer. Porque não sabia o que dizer. Porque estava assustado e chocado, porque precisava de tempo para entender o que estava acontecendo e o que ele devia fazer. Como? Como?
Como era possível que Steve estivesse apaixonado por ele?
Steve ainda estava lá, com os lábios formigando e o peito doendo. Suas mãos já haviam ficado encharcadas de tanto enxugarem lágrimas. Ele foi embora, ele pensava. Eu estraguei tudo.
— Por favor, Jack... — Ele disse, futilmente. — Não vá. — Steve ergueu sua mão na direção em que seu amigo havia corrido, tentando alcança-lo, tentando puxá-lo de volta.
Já era tarde demais.
Seu melhor amigo já o havia deixado, e era impossível voltar atrás.
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