Steve pegou Sophie no colo e desceu as escadas correndo, enquanto alguém gritava:
— Mãe, pai! A Senhora Kingsley está doente e me deu o dia de folga.
— Luke! — Isla E Ethan gritavam, correndo na direção do irmão. Os dois pularam em cima dele, que tentou segurá-los, um com cada braço, mas não deu muito certo. Os três acabaram caindo para trás em meio a gargalhadas.
— Me coloca no chão, Steve! — Sophie exclamou, animada. O adolescente o fez e ela saiu correndo em direção aos três irmãos, se jogando em cima deles. Era como se Luke tivesse acabado de voltar da guerra. Steve não culpava os irmãos; eles não o viam há muito tempo, já que Luke sempre saía antes que eles acordassem e voltava depois que já estavam dormindo. Ele era mais um visitante do que um morador daquela casa.
Steve riu dos irmãos, enquanto tirava-os de cima de Luke, um de cada vez. Tirou Ethan primeiro, depois Isla. Luke se levantou com Sophie no colo, já que era a menor e mais fácil de ser carregada.
O irmão mais velho parou de rir quando olhou para Steve, que engoliu em seco, imaginando o motivo do desaparecimento de toda aquela alegria.
— Cara, você está bonito. — O outro disse. — Nem te reconheci.
Steve semicerrou os olhos, mas quase morreu de alívio quando ouviu aquelas palavras.
— Nossas irmãs realmente fazem milagres, não é? — Ethan zoou com a cara do irmão e riu com Luke.
— Se esse é o caso vocês deveriam deixa-las maquiarem vocês também. Quem sabem elas não conseguem tirar essa feiura da cara de vocês. — Steve disse e mostrou a língua.
Luke riu mais um pouco e puxou o irmão para um meio abraço. — A mãe E o pai estão lá em cima? — Ele perguntou. — Finalmente poderemos ter uma noite em família, acho que eles vão querer saber que o filho preferido deles está em casa em um horário normal.
— Você não é o filho preferido deles! — Disse Ethan. — Obviamente sou eu!
— Nada a ver, Ethan. — Disse Isla. — Você fica o dia todo enfurnado no quarto e mal fala com eles. Claro que eles gostam mais de mim.
— Ok, ok. — Steve disse, tentando acalmar os irmãos. — Parem com essa discussão ridícula. Nossos pais amam todos igualmente.... Tirando eu, porque eu sou o melhor filho do mundo e eles obviamente gostam mais de mim. — Ele suspirou dramaticamente, como se estivesse cansado de ser tão bom.
Os quatro irmãos mais velhos começaram a discutir, elevando suas vozes cada vez mais. Luke sempre começava esse tipo de discussões quando todos estavam juntos, querendo descontrair e fazer com que seus irmãos se esquecessem do que quer que estivesse os incomodando. Todas as discussões eram amigáveis e raramente terminavam em brigas de verdade. Mas quando faziam, era praticamente impossível separar quem quer que estivesse brigando....
— Por que vocês estão gritando? — A mãe desceu as escadas, berrando. — Vocês não estão na feira, sejam mais comportados! Eu não dei educação para nenhum de vocês, não?
Então, o pai deles desceu atrás da mulher, carregando Sophie nos braços. Nenhum dos irmãos havia percebido que ela não acompanhava mais a discussão.
— Por que vocês não são como a Sophie? Ela não fica gritando a cada oportunidade que tem. — Disse o pai deles, brincando com a filha em seus braços.
Os quatro irmãos mais velhos se entreolharam com expressões neutras no rosto.
— É ela. — Disse Luke, se sentando no sofá.
— Impossível vencer a Sophie. — Suspirou Isla, se jogando ao lado do irmão.
— Eu sabia, no fundo. — Disse Steve, se sentando do outro lado de Luke.
— Saudades de quando eu era o caçula. — Disse Ethan, se sentando no chão.
— Saudades de quando eu era filho único e Steve não ficava me azucrinando vinte e cinco horas por dia. — Disse Luke.
— Saudades de quando você ainda não tinha chegado, sua semente da discórdia. — Steve retrucou.
Os dois riram. Steve estava feliz por finalmente poder se esquecer um pouco de seus problemas, por se distrair de sua própria mente e de suas preocupações. Era bom não se perguntar o que aconteceria, era bom não tentar controlar tudo que ele sabia que não podia controlar. Luke tinha esse efeito nas pessoas. Ele era divertido e sempre sabia o que dizer para aliviar o clima e quebrar o gelo. Não sabia como, mas tudo que ele dizia sempre era adequado para a situação e sempre ajudava todos a esfriar a cabeça quando precisavam. Queria saber como ele era tão bom naquilo. Talvez fosse simplesmente um talento natural.
Ele suspirou, olhando para o teto. Ele faria qualquer coisa por sua família, e sabia que eles também fariam qualquer coisa por ele, também. Talvez fosse por essa razão que todas as brigas eram extremamente violentas e deixassem aquele clima horrível na casa por semanas. Ele ainda se lembrava vividamente da última discussão, quando ele e Luke acabaram no hospital por terem levado as palavras a socos. Se lembrava de como sentia aquele gosto horrível na boca toda vez que via o irmão, porque eles ainda não tinham feito as pazes.
As lembranças que tinha de sua família ou eram extremamente felizes, ou extremamente horríveis. Todos sorriam e se comportavam como se fossem parte de uma família perfeita, mas todos haviam passado por poucas e boas naquela casa, e geralmente todos os problemas eram causados por problemas pessoais que acabavam se tornando grandes demais para serem ignorados. Eram sentimentos reprimidos por tanto tempo que acabavam se tornando bolas de neve gigantes, que deixavam todos numa pilha de nervos, protos para explodirem a qualquer segundo.
Afastou aqueles pensamentos de sua mente. Não era bom se lembrar de coisas assim, não queria ficar remoendo o passado e se sentindo mal por seus erros.
— Vamos jogar algum jogo, já que finalmente estamos todos juntos! — A mãe de Steve disse, animada.
— Eu voto em Interpol! — Disse Luke. — Eu acho que tenho o direito, já que quase nunca estou em casa, não é?
Todos adoravam aquele jogo, pois tinham que trabalhar em equipe e eram ótimos nisso, por causa dos anos de convivência.
Os sete ficaram jogando e conversando por horas, até que os adultos decidiram que já passara da hora de dormir dos mais novos, que tinham escola no dia seguinte e deviam acordar cedo.
Steve subiu as escadas de dois em dois degraus e se jogou na cama com um sorriso no rosto, se esquecendo de limpar a maquiagem que suas irmãs demoraram muito tempo para terminar e de todas as ansiedades que insistiam em perturbar sua paz incessantemente.
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