O semestre estava finalmente acabando. Clara já estava cansada de tudo: dos livros para ler, os prazos para os trabalhos, as provas finais... Só não estava cansada de seus amigos, claro. Sem eles não teria sobrevivido o primeiro semestre.
A professora de Introdução à Sociologia debatia o propósito humano.
— Alguém sabe por que nascemos? Por que morremos? Qual o sentido da vida?
Clara não resistiu. Ergueu a mão e, assim que a professora lhe deu a permissão, gritou “Quarenta e dois!”, triunfante e com um sorriso nos lábios.
Apenas a professora e uma outra garota entenderam a referência, pois deram uma risada.
A garota estava sentada à sua direita, mais a frente. Clara já tinha reparado nela antes. E não tinha como evitar. Marina era simplesmente maravilhosa: cabelos castanhos claros, olhos verdes, um sorriso lindo e uma risada que te faria ter vontade de ser a razão dela.
Clara corou levemente quando viu Marina olhar em sua direção com um sorriso no rosto. Decidiu que finalmente tomaria coragem e iria falar com ela. Depois da aula, claro.
Clara mal prestou atenção no resto da aula. Ficou batendo o pé impacientemente. Sabia que não teria coragem de falar com ela outro dia.
A aula finalmente acabou e ela jogou seus pertences na mochila, colocou-a nos ombros e se aproximou de Marina.
— Não tenho uma nave espacial como Zaphod Beeblebrox, mas posso te levar pra ver as estrelas.
Marina riu e Clara se perdeu por um momento. Ela era a razão daquela risada maravilhosa?
— E eu não sou a Presidente da Galáxia, mas posso roubar seu Coração de Ouro — riu.
Clara esperava tudo, menos uma cantada. Marina riu com a falta de reação da outra garota.
— Não posso te oferecer uma Dinamite Pangaláctica, mas posso te oferecer um milk-shake — sorriu.
Clara ainda estava sem reação.
Marina pegou um post-it de seu estojo e anotou seu número, pregando-o na mão de Clara.
— Nos vemos mais tarde — Marina disse com um sorriso que fez Clara se perder ainda mais.
Marina terminou de pegar suas coisas, sorriu mais uma vez para Clara e saiu da sala.
— Eu... Eu consegui o número dela! — bradou triunfante.
— Não foi isso que eu vi — falou Gabriel, seu amigo que a esperava no fundo da sala. — O que eu vi foi você parada, embasbacada enquanto ela fazia todo o trabalho.
— Ninguém precisa saber dos detalhes! — Clara falou com um biquinho nos lábios.
***
“Oi! Aqui é a Clara.”. Mal enviara a mensagem e já estava quase se arrependendo.
Demorou alguns minutos, mas Marina respondeu: “Oi! Tudo bem?”.
E a conversa foi se desenrolando com facilidade, mas só puderam se encontrar na semana seguinte, quando as duas tinham um horário livre. Coincidentemente, numa quinta-feira.
Encontraram-se depois do almoço e foram a um shopping perto da faculdade. “Perto” não é a palavra certa, mas, como os outros eram ainda mais afastados do campus, utilizaremos “perto”.
Clara descobriu que Marina fazia Letras e pegou Introdução à Sociologia apenas por curiosidade. Sempre gostou da matéria no Ensino Médio. Clara fazia Engenharia e Sociologia era obrigatória, mas, para sua própria surpresa, estava gostando da matéria.
Não foi difícil para nenhuma das duas se apaixonarem. Sentiam-se eufóricas apenas por estarem uma ao lado da outra. Os sorrisos bobos que não conseguiam esconder delataram seus sentimentos. Um mês depois já estavam namorando, um namoro cheio de conversas e cantadas geeks.
***
Era seu aniversário de um ano de namoro. Estavam sentadas na grama, de mãos dadas, de frente para um lago.
Clara respirou fundo.
— Você é minha toalha: tudo que eu preciso — disse corando levemente.
— Ownt. Que clichê — riu. — E você é meu quarenta e dois.
Clara processou a informação por alguns segundos, mas não compreendeu. Seu olhar de dúvida fez Marina rir.
— Minha resposta para a vida, o Universo e tudo mais.
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