Em um noite fria e calma, um homem corria ofegante através de uma estrada de asfalto. Parecia estar muito nervoso, e sempre olhava ao seu redor para se certificar de que não estava sendo seguido. Esse homem em questão se chamava Carlos, ele é um dos personagens principais dessa história. Do que estava fugindo contarei depois.
Carlos era uma pessoa jovem, tinha nessa época 19 anos, era magro, usava óculos, tinha um cavanhaque e um bigode ao qual se orgulhava. Era um pouco desleixado ao se vestir.
A estrada a qual ele percorria incessantemente se estendia por quilômetros, não era algo que ele sabia, mas tinha em mente. Embora achasse que demoraria a chegar em algum lugar, não pararia de correr, não tinha a intenção de o fazer. Mas essa determinação não durou muito quando encontrou na estrada viajantes à carroça, que pareciam ser da Fundação da Matriz Universal.
É claro, preciso explicar sobre essa organização que é comumente chamada de FMU. O que você precisa saber sobre ela é que essa é uma organização dimensional, que tem como objetivo realizar diversos tipos de pesquisas no universo. Se você me perguntar que tipo de pesquisas, bem, os tipos que ninguém deveria saber sobre.
— É claro, eu havia esquecido. Por essa estrada passam viajantes que vêm de outra cidade para a FMU — murmurou Carlos. — Preciso manter distância dela.
Devagar ele andou para fora da estrada enquanto fixava os olhos nos viajantes, não queria fazer nenhum movimento em falso e ser visto. Ficou escondido atrás de uma rocha esperando eles passarem.
Após a calmaria, voltou a correr em direção ao sul, mas desta vez fora da estrada. Continuava a olhar ao seu redor para se certificar de que não estava sendo seguido ou se encontraria alguém no caminho. Seu destino era Waft, a cidade mais próxima.
Após horas correndo sem parar, resolveu que deveria descansar, embora estivesse desesperado para chegar à cidade mais próxima, não seria bom estar sem energia caso encontrasse algum inimigo durante o caminho. Essa foi a melhor decisão.
Carlos se sentou embaixo de uma árvore bem distante da estrada, encolheu as pernas e começou a respirar pesado, ainda estava cansado de tanto correr. Depois de se acalmar um pouco, virou o olhar para o céu, era uma noite fria e vazia, não era possível ver estrela alguma, isso o fez ficar pensativo, fazendo-o lembrar do que havia acontecido.
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— Então ele não tem muito tempo de vida? — perguntava um homem, Carlos não conseguia ver quem era, estava escondido enquanto observava aquela conversa ao qual havia começado a escutar sem querer.
— Sim, foram realizados alguns testes recentemente, ele parece ter pouco menos de 5 anos de vida restantes. — Quem havia dito isso era uma mulher, cujo rosto Carlos não conseguia ver, mas reconheceu pela sua voz suave e calma. Era Alessandra, sua antiga tutora na FMU.
Carlos estava no corredor de um dos andares mais baixo da FMU; ouvia toda a conversa por uma porta entreaberta. Ao ouvir Alessandra falar aquilo, começou a suar e ficou espantado, ficou ali paralisado ouvindo toda a conversa. Não sabia de quem estavam falando, mas algo o dizia que se tratava dele.
— Então… o que quer de mim? – perguntou o homem com uma entonação séria na voz, parecia saber do que se tratava, mas fingiu indiferença.
— Eu desejo que ele seja livre, ao menos nesses últimos anos de vida. Irei realizar uma expedição nas sub dimensões e gostaria… — Ela não conseguiu terminar de falar, foi interrompida por ele.
— Não. Nós não podemos deixá-lo sair desta base. – O homem soou rude, mas firme em sua decisão, isso não impediu Alessandra de continuar argumentando.
— Qual a razão de tanto medo? — indagou Alessandra. — Ele não é um problema para a organização, não sabe sobre o que estamos fazendo aqui, nem sobre ser um clone.
Outra revelação que chocou Carlos. Pelo jeito, ele descobriria muitas coisas naquele dia. Mesmo impressionado, continuou escutando, aquela conversa poderia decidir seu futuro, afinal. O pior de tudo era não ter a certeza de que isso se referia a ele, mas não poderia fazer nada a não ser permanecer ali escutando, sua curiosidade não permitia que ele fosse embora.
— Todas as nossas pesquisas mais… controversas, são conhecidas apenas por uma parte da organização, as pessoas acham que somos uma organização que tem como objetivo ajudar cidades a se desenvolverem tecnologicamente e economicamente. Certo, isso não é mentira, mas nosso real objetivo você sabe não é, Alessandra? — O homem fez uma pausa, deu alguns passos e depois voltou a falar. — Não podemos deixar que ele fique exposto, nossos planos dependem do anonimato dessas pesquisas e você está ciente disso.
— Ele não dirá nada a respeito. Nós o mantemos presos por anos, não é justo que ele viva e morra aqui, ele precisa conhecer o mundo.
— Entendo. — O tom de voz do homem parece ter ficado mais melancólico. — Mas nós lhe damos liberdade para fazer o que bem entender, já não é o suficiente?
— Concordo, ele pode fazer o que bem entender nos limites de alguns andares… — Alessandra tentava argumentar de forma calma, mas tudo isso era em vão.
— Lamento. — O homem não quis continuar a conversa e deu o ultimato. — Ele não irá sair desta base e continuaremos fazendo experimentos nele até o seu fim.
Rapidamente ele saiu da sala, deixando Alessandra sozinha. Carlos imediatamente se escondeu para não ser visto. O homem caminhou até o fim do corredor e parou, Carlos não conseguiu ver o que ele estava fazendo, pois estava muito distante, mas conseguiu ouvir um suspiro de longe. O homem levantou um pouco a cabeça como se estivesse pensativo, colocou a mão na testa esfregando-a, e tomou seu caminho. Carlos esperou um pouco e correu para o outro lado.
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Ao lembrar-se disso, Carlos percebeu o quanto estava certo em fugir da FMU. Agora tudo o que ele poderia fazer era não ser pego por ela. Se fosse pego pela organização, isso significaria a morte.
Ele se levantou, olhou para trás, em direção de onde veio e abaixou sua cabeça. Estava se lembrando dos anos que havia passado lá. Tudo aquilo não passava de mentiras, ele era apenas um clone que a organização usava para fazer experiências e para ser utilizado em seus próprios objetivos. Estava triste, mas tinha que seguir em frente e, após ter descansado, continuou seguindo rumo a cidade mais perto.
[Maria]: Que deprimente…
[Bortoluzzo]: Realmente, mas eu não o culpo. Ele passou toda a sua vida naquele lugar achando que era seu lar, receber uma notícia assim de repente, deve abalar qualquer um.
[Maria]: É, acho que você tem razão, mas precisa descrever tudo isso? Não é melhor ir direto ao ponto?
[Bortoluzzo]: Estamos escrevendo um livro, não é? Acho que é bom nos apegarmos aos detalhes, é disso que as pessoas gostam.
[Maria]: Você havia me dito que estávamos em um jogo…
[Bortoluzzo]: Também. Isso é o que chamamos de mídia paralela. O roteirista do jogo resolveu escrever um livro também. Não podemos fazer nada.
[Maria]: Nunca vou entender isso.
Após horas de caminhada em uma planície vazia, com nada menos que árvores e rochas, Carlos chegou até uma estrada de ferro; um trilho que cortava a estrada. Nesse trilho passava o trem que percorria por todo o continente de Kyeron, levando mercadorias e passageiros por várias cidades que participavam do comércio do continente. Pequenos vilarejos faziam comércios com as cidades através de caravanas mercantis.
Não havia nenhum sinal do trem, então Carlos conseguiu passar pelo trilho sem nenhum problema. Olhou ao seu redor para ver se avistava alguém da FMU. Ao olhar, enxergou a magnitude da estrada de ferro; era enorme, e era possível vê-la sumir no horizonte. Aquilo havia impressionado Carlos, que só tinha visto sobre trens em livros.
— Essa estrada de ferro é realmente muito bela. Nunca tinha visto algo tão grande — disse a si mesmo empolgado, enquanto olhava para os lados tentando encontrar o fim da estrada de ferro.
Ele gostaria de ficar ali e esperar o trem passar para vê-lo, ou até mesmo andar nele, mas não poderia ficar naquela estrada por mais tempo. Deveria evitar ser visto para não haver nenhum confronto, e achar a cidade mais próxima. De acordo com o que havia descoberto na FMU, a cidade mais próxima ao sul seria a cidade de Waft.
Após mais algumas horas de corrida, ofegava de cansaço. Suas pernas doíam e seu pulmão ardia, mas rapidamente recuperou suas forças ao ver a cidade de Waft no horizonte. Uma magnífica cidade, coberta de prédios e fábricas, que poderiam fazer com que qualquer um se sentisse minúsculo diante dela. Sua poluição tornava a atmosfera ao redor diferente, para Carlos era quase como se estivesse entrando em outro mundo, um ao qual ele nunca imaginaria conhecer.
Levantou o rosto lentamente, quase paralisado de tanto se impressionar deixando soltar um “uau” enquanto contemplava. Enxugou o rosto encharcado de suor e começou a caminhar. Dessa vez, não via mais a necessidade de correr já que estava tão perto, não era como se alguém fosse aparecer e prender ele.
— Espero que nessa cidade eu encontre o que procuro. — Seus olhos ardiam de esperança, firmes enquanto olhavam a cidade.
[Maria]: Afinal, o que ele estava procurando?
[Bortoluzzo]: Ah, é, esqueci de falar sobre isso, não é? Eu devia ter dito no começo.
[Maria]: Ah, não se preocupe, você só esqueceu da coisa mais importante dessa história.
[Bortoluzzo]: Não enche, qualquer um pode cometer um pequeno erro as vezes. Vou contar agora… Quer dizer, acho melhor deixar para o próximo capítulo, não é mesmo?
[Maria]: Que corte desnecessário…
[Bortoluzzo]: Isso é uma estratégia para manter o público curioso.
[Maria]: Ou deixar eles nervosos.
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