[Maria]: Ué, por que cortou assim?
[Bortoluzzo]: O site não permite tantas letras.
[Maria]: Não entendi.
[Bortoluzzo]: Nem tente. Deixe-me continuar, antes que fique muito longo de novo.
— Você pede que eu me acalme? — Suas palavras saíram espontaneamente, seu sentimento era de fúria e tristeza.
— Sim. Mesmo que você tenha raiva da FMU ou de todos aqueles que estão fazendo isso, não irá adiantar nada ter esse sentimento. — Alessandra suspirou, demonstrava empatia pelos sentimentos de Carlos. Sua mestra entendia sua raiva, por algum momento já sentiu o mesmo. Com um olhar solene, aproximou-se e colocou a mão no ombro dele. — Confie em mim. No momento, só o que importa é que você precisa achar um jeito de sobreviver. Sei que deve estar pensando em vingança nesse momento, mas esqueça. Isso é improvável. — Ela tirou a mão do ombro dele, firmou os olhos e balançou a cabeça negativamente.
— O que quer dizer com improvável? — Carlos cruzou os braços, fazendo um esforço para se acalmar e tentar escutar Alessandra.
— Nem em mil anos você conseguiria acabar com essa organização, você poderia levar décadas para acabar apenas com uma sede dela, apenas levando em conta que terá poder o suficiente para isso. Ouça o que eu digo, viva sua vida, esqueça a vingança. Estou tentando há muito tempo mudar a FMU, deixe isso comigo. — Ela fez uma expressão calma, tentando reconfortá-lo, para fazê-lo desistir dessa ideia.
Carlos sentia suas palavras soarem gentis e suaves; aconchegantes e acolhedoras. Aos poucos foi raciocinando melhor e pensando que ela poderia ter razão. Uma vingança nesse momento não faria sentido algum. Isso poderia tornar sua vida mais vazia ainda, tendo que, em seus cinco anos de vida restantes, lutar contra uma organização quase impossível de se vencer. Após o conselho de sua mestra, Carlos ficou mais calmo e concordou com ela. Iria tentar usar esses últimos anos de vida para procurar o Círculo Mágico ou qualquer outra forma de se curar.
— Eu… entendo — Carlos abaixou a cabeça entristecido com o que havia ouvido, mas tentou se recompor. — Irei atrás do Círculo Mágico. Não existe outra forma de eu aumentar minha expectativa de vida?
Antes que Alessandra pudesse responder, ela levantou seu dedo indicador esquerdo. Mesmo com toda aquela situação e querendo saber mais, Carlos respeitou as regras que ela havia imposto. Ela falou bem alto, para todos os alunos ouvirem. Todos pararam de fazer o treinamento que ela havia dito e a escutaram.
— Finalizando a aula de hoje, vou revisar as técnicas para controle de fluxo de energia, sigam meu exemplo. — Ela fechou os olhos e posicionou as duas mãos à sua frente, como se estivesse querendo amassar algo. — Finjam que existe um fluxo de água passando por todo o seu corpo até chegar em suas mãos, assim. — Suas mãos começaram a emanar uma aura branca bem fraca, quase invisível a olho nu.
Os alunos começaram a soltar comentários do tipo “já tive essa aula antes” ou “isso não é o básico?”. Até Carlos que não levava os ensinamentos a sério já tinha conhecimento disso. Mas após pensar um pouco, notou que aquilo era redirecionado para ele, percebeu que havia algo por trás disso. Entendeu que devia começar a treinar para ficar mais forte, e deveria começar pelo básico. Alessandra soube que ele havia entendido e não tocou mais no assunto.
— Por hoje é só, vejo vocês amanhã no mesmo horário. — Ela começou a guardar todos os livros e materiais necessários para aula. Carlos continuou a seguindo, sempre mantendo a regra dos 10 metros.
Após alguns minutos ela levantou o dedo direito e retomou o assunto, respondendo a última pergunta de Carlos.
— Soubemos dessa sua condição faz 4 anos, desde então, tento achar uma solução para o seu problema. — Ela se sentou na mesa cruzando os braços. — Existem muitas pessoas fortes e talentosas na FMU, mas nenhuma habilidade poderia curá-lo. Embora algumas façam isso, as suas atuais condições não permitem tal feito. Não descobrimos a causa, mas temos uma teoria de que você não possui uma doença propriamente dita, mas sim seu corpo reconhece que você chegará ao limite de idade com 25 anos.
— Limite de idade?
— Pense assim, com 19 anos agora, é como se você tivesse 70 anos, e um humano normalmente poderia chegar até os 125 anos. É claro que esse não é o limiar máximo, você poderia viver mais de 5 anos, mas é improvável.
— Então não dá para curar o que não existe…
— Exatamente. — Alessandra colocou a mão no queixo pensativa. — É possível que alguém com habilidades de controlar o tempo possa ajudá-lo, mas esse tipo de habilidade é raro.
— Acho que isso não é muito animador. — Carlos coçou a cabeça e fez uma cara de desanimado. — Se os meios são poucos e eles são difíceis de achar, eu estou perdido…
— Sei que parece complicado, a FMU em si está trabalhando na busca dos artefatos há um tempo e eu fui informada de que eles só conseguiram um…
— O que? — Carlos ficou surpreso, e deixou escapar um grito de assustado. — Já existe um artefato aqui perto? Onde?
— Calma aí, garoto. Eu apenas li relatórios sobre isso. Apesar de o dono da FMU e eu sermos amigos, ele manteve sigilo sobre isso, consegui reunir apenas algumas informações. Esse artefato está nas mãos de um dos membros mais poderosos da organização, que o mantém guardado em algum lugar que eu não consigo localizar, apesar das minhas habilidades. Provavelmente está em outra sede.
— Então você está me dizendo que preciso pegar esse artefato, que está nas mãos da FMU e nem você conseguiu localizar? — Ele parecia muito triste, como se suas esperanças estivessem sendo tiradas aos poucos. — Você não está me animando muito, mestra.
Alessandra suspirou, levantou-se da mesa e começou a caminhar lentamente pela sala. Nesse momento, Carlos não conseguia ver a expressão em seu rosto, mas tinha uma certeza, ela sentia por tudo aquilo. Se arrependia por ter se juntado aquela organização e feito todas aquelas coisas. Mas nesse momento ela não falou nada a respeito, não pediu desculpas, não disse alguma frase filosófica ou até mesmo encorajadora. Apenas disse uma única frase, que Carlos lembra muito bem.
— Você vai conseguir, confie em mim.
Aquelas palavras ecoaram em sua cabeça. Na verdade, o assustaram um pouco. Sabia quais eram as habilidades de Alessandra, se ela dizia que ele iria conseguir, bastava confiar nela. Mas ao mesmo tempo, pensou “isso vai acontecer mesmo?”, havia um limite para a quão poderosa ela poderia ser, isso o deixou com dúvidas. Dúvida e confiança misturadas, não é um bom começo. Embora estivesse com esses pensamentos em sua mente, respondeu com uma simples frase.
— Eu confio em você. — Ele fechou os olhos e tentou deixar escapar um sorriso, ainda permanecia com dúvidas e lamentos, enquanto pensava no que estaria por vir.
Alessandra se virou, deu um pequeno sorriso reconfortante e levantou o dedo esquerdo novamente, aquela seria a última vez que isso aconteceria.
— Então, você quer um tempo para treinar sozinho?
Carlos não entendeu o que ela quis dizer, mas pensou rápido para responder.
— Sim. Quero.
— Então te darei uma semana, treine pesado e depois continuaremos com as aulas.
O Crescente entendeu imediatamente a mensagem. Precisava treinar por uma semana e depois tentar escapar. É claro que precisava ser especificamente uma semana, sabia que sua mestra estipularia aquela data por algum motivo e isso precisava ser seguido.
— Entendo. Prometo treinar bastante nesta semana.
— Tudo bem, acredito em você. — Carlos fez um gesto respeitoso de despedida e começou a andar para fora da sala. — E Carlos… Boa sorte.
Ele apenas balançou a cabeça e agradeceu, achou bem estranho o fato de ela desejar sorte, sabia que isso não era do seu feitio, mas resolveu não pensar muito nisso; apenas aceitou aquelas palavras. Carlos treinou arduamente durante a semana estipulada e então fugiu.
[Maria]: “E então fugiu” … É só isso o que você tem a dizer?
[Bortoluzzo]: Quer que eu diga mais o que?
[Maria]: Sei lá, que tal contar como ele fugiu da organização. Ou que droga eram aqueles sinais que a Alessandra fazia.
[Bortoluzzo]: Calma, tudo a seu tempo minha jovem. Não posso ficar enrolando muito em um flashback. Contarei sobre tudo isso mais tarde.
[Maria]: Sinceramente, você é um péssimo contador de histórias.
[Bortoluzzo]: É o que tem para hoje.
Comments (0)
See all