Enquanto observava fascinado a cidade, Carlos retomou sua atenção ao ouvir um grito vindo por trás.
— Sai da frente, seu idiota.
Era a voz de um senhor gordo em cima de uma carruagem. Carlos logo notou os trotes do cavalo que a puxavam, estavam lentos e vagarosos, como se estivessem andando há dias. Ficou espantado pelo grito repentino. Esses gritos poderiam ser de membros da FMU tentado o levar de volta, mas por sorte era apenas a de um vendedor de um pequeno vilarejo, que havia tomado a estrada principal até Waft à procura de vender e comprar produtos.
Imediatamente saiu do caminho da carruagem.
— Droga, fiquei distraído com a cidade. Eu poderia ter sido pego. — Carlos respirou fundo, havia parado de ofegar, então soltou o ar de seus pulmões e ficou alerta.
Após olhar aos arredores, o Crescente começou a caminhar lentamente em direção à cidade. Havia aprendido a lição e mesmo atravessando o gigante portão que dava as boas-vindas à cidade de Waft, não se distraiu. Apenas continuou caminhando, seguindo em frente. Até finalmente adentrar o local.
A cidade de Waft, uma cidade que a pouco tempo evoluiu devido as recentes ajudas da FMU. A organização conseguiu em pouco tempo desenvolver a tecnologia do local, desenvolver seus recursos e até mudar a forma de vida das pessoas. Waft era uma cidade simples com uma população pacata, mas com a chegada da FMU, a tecnologia foi sendo adicionada aos poucos na vida das pessoas. As fazendas deram lugar a grandes e majestosas fábricas de produção em massa, que em pouco tempo criavam os recursos necessários para troca e venda em outras cidades através da estrada de ferro construída. As pequenas estradas de barro e areia perderam o espaço para grandes e longas ruas pavimentadas, onde era possível uma grande quantidade de pessoas transitar por elas. As pessoas simples e rurais logo foram sendo desenvolvidas através de grandes centros de ensinamentos construídas na FMU; as pessoas faziam longas viagens para beber do conhecimento que a organização proporcionava.
Infelizmente com a grande evolução vieram os pontos negativos. Embora a cidade tivesse evoluído, a população passava por uma grande crise econômica e trabalhista; para conseguir manter as fábricas não era necessária uma grande quantidade de mão de obra, pois todo o trabalho era realizado por máquinas que tomaram o lugar da população trabalhista. Isso causou uma grande onda de desemprego que era visível só de olhar para as ruas de Waft.
É claro que a cidade era governada por alguém, a prefeita em questão mantinha sua reputação dividida. Muitas pessoas apoiavam ela e gostavam de a ter no poder, geralmente essas pessoas eram os proletariados. Os aristocratas odiavam sua presença no governo e faziam protestos e rebeliões para que ela pudesse sair do poder.
A cidade que era magnifica e grandiosa vista de longe, escondia um verdadeiro caos em seu interior. Algo que Carlos notara ao pisar pela primeira vez nela.
Adentrando a cidade, notou um ar pesado, a atmosfera da cidade carregava uma aura morta e triste. Era possível ver muitas pessoas andando pelas ruas com um olhar vazio e arrogante no rosto. O ar acinzentado, por conta das inúmeras fábricas que soltavam fumaça, combinava com as roupas de seus habitantes. Cores mortas e sem brilho. Os cidadãos usavam roupas extravagantes que pareciam ter levado anos para serem fabricados – o que não era verdade já que naquela cidade praticamente tudo era feito por maquinários – eles andavam com um olhar gélido sempre desprezando moradores de rua que, de vez em quando, bloqueavam os caminhos das pessoas.
Os moradores de rua pareciam estar por toda a parte. Onde Carlos olhava era possível ver ou pessoas conversando sobre coisas fúteis e aristocráticas ou pessoas esfarrapadas no chão; com sujeira por toda a roupa rasgada e remendada. Ele achou incrível a discrepância social tão perto uma da outra, e tão ignorante ao mesmo tempo. Essa cidade não era nada do que se via de longe. De perto era tudo o que se esperaria de uma cidade que esqueceu seus princípios éticos e sociais para dar lugar a evolução.
Carlos caminhou lentamente pela rua, olhando de um lado para o outro observando tudo o que se passava. Não era como se ele se importasse com aquela cidade e tudo o que estava acontecendo, mas um sentimento de decepção passou por ele. Esperava mais que uma cidade mergulhada no caos, mas não estava ali para se preocupar com política. Esperava encontrar alguma pista sobre o Círculo Mágico nessa cidade. “Você sabia que Waft é muito caótica nessa época do ano?” Era isso que sua mestra havia dito durante a semana em que ele estava treinando. Pesquisando em alguns livros descobriu que, o caos que ela mencionara era por causa da época de colheita em alguns vilarejos, o que fazia com que mercadores fossem até Waft para negociar produtos, isso tornava a área comercial um pouco movimentada. Ele entendeu aquilo como um recado. “Vá a área comercial de Waft”.
Carlos se lembrou de manter-se em alerta. Poderia ser facilmente reconhecido ali, não era para menos, existia uma grande diferença entre suas roupas e a dos habitantes. Algumas pessoas possuíam vestes diferentes, mas eram todos de peregrinos de outras cidades.
— Essas roupas são um pouco chamativas. — Notou que as pessoas o olhavam brevemente com estranheza no olhar, talvez por conta de seus chinelos que não eram muito utilizados naquela cidade; suas roupas também não eram comuns. — Por sorte têm algumas pessoas com roupas estranhas também, e posso facilmente reconhecer os uniformes da FMU.
Pelo menos era isso que Carlos achava; algumas pessoas pareciam ser de regiões diferentes, não se vestiam normalmente como os cidadãos residentes de Waft. Não estava errado, mas ele não podia levar apenas isso em conta.
— Espere, se já estão cientes de que escapei, eles não andariam nessas ruas assim para serem reconhecidos. — Carlos notou que havia se precipitado e começou a ficar nervoso. — Eles podem estar com as roupas dessa cidade e eu não saberia.
Ao notar seu erro, ficou calmo e agiu rápido. Começou a caminhar entre a multidão para se camuflar. Andou esgueirando-se com a cabeça baixa, volta e meia dando passos mais largos para se movimentar depressa.
Isso parecia estar dando certo, conseguiu passar um bom tempo sem ser reconhecido; já estava começando a ficar mais relaxado e pensando que a FMU poderia não estar lá, mas apesar disso não baixou a guarda. O problema de ficar se esgueirando assim é não poder confiar em perguntar para alguém onde ficava a área comercial de Waft.
[Maria]: Então ele ficava se esgueirando para não ser pego? Isso é meio… patético.
[Bortoluzzo]: Realmente, eu nunca que faria isso.
[Maria]: Mas você já não fez isso?
[Bortoluzzo]: Shhh, isso foi em diferentes circunstâncias. Mas dá para entender por que ele fez isso. Carlos saiu da FMU sem ter nenhuma experiência real em combate. Para ele que não sabia como eram os inimigos, ou saber como deduzir a força deles, era melhor se esconder e evitar conflito.
[Maria]: Isso é um erro.
[Bortoluzzo]: Sim, ele não se dava conta que ao sair naquela jornada iria se deparar constantemente com conflitos, era preciso saber vencê-los. Mas ele aprendeu isso da pior maneira.
— Parece que até aqui está tudo bem — disse Carlos enquanto suspirava de alivio. — Se continuar nesse ritmo, posso chegar até a área comercial sem problemas.
Tudo estava ocorrendo tranquilamente para o rapaz. Viu alguns vendedores em carroças indo para oeste e resolveu segui-los.
No momento em que ia virar a esquina, alguém colocou as mãos em seu ombro esquerdo.
— Não se mexa. — Essa pessoa estava com um tom sério na voz. — Não se vire e não tente fazer nenhum movimento. Você está cercado por vários membros da FMU.
Carlos se espantou quando foi pego, virou os olhos procurando pelos membros da organização. Notou que havia três na frente dele e dois à esquerda. Lentamente levantou a cabeça e notou que existia duas pessoas vigiando nos telhados; um na direita e outro na esquerda. Começou a suar frio e a tremer, não esperava por essa emboscada, muito menos tão de repente, era como se os estagiários houvessem brotado do solo.
— Não tente nada. — O estagiário da organização que estava segurando o ombro de Carlos notou uma mudança em sua energia.
Carlos não encontrou uma alternativa a não ser resistir, não poderia voltar para àquela organização, todo seu esforço para fugir não seria em vão. Mesmo que tivesse que morrer tentando, não deixaria aqueles estagiários o levarem de volta.
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