Serena começou a falar sobre todas as informações que havia reunido durante todos esses anos. Após ter explicado sobre como as conseguiu, Carlos parou de fazer perguntas desse tipo e se focou em entender o que precisava.
— Seu trabalho é matar todos os principais membros da organização Horizon — disse a médica enquanto foleava alguns papéis.
— Matar? — Carlos ficou desconfortável com aquela ideia, apesar de ter matado Julia, ainda não era frio o suficiente para sair matando qualquer um sem motivos. — Não posso simplesmente prender eles?
— Não. Não os subestime, eles são bem poderosos, não seria tão fácil prendê-los. E eu prefiro acabar com o problema de uma vez.
— Todas as pessoas que foram contratadas para matá-los, não duraram alguns minutos contra apenas um deles — complementou Kelvin.
— Contratadas, huh? — disse Carlos ironicamente enquanto olhava para Kelvin, que estava fazendo palavras cruzadas.
— Kelvin tem razão, não importa a sua força, tente ser cauteloso, e lute para matá-los.
— Certo, certo. — Carlos deu de ombros. — Apesar de não estar nada confortável com isso, não tenho outra escolha mesmo. Então, quantas pessoas tenho que matar?
— São quatro membros principais, incluindo a prefeita. — Melissa finalmente achou os arquivos que necessitava. — Essa aqui é o seu primeiro alvo.
A médica jogou os papéis na mesa para que ele os olhasse. O Crescente pegou os papéis e começou a folear; estava lendo tudo com cuidado, até chegar na imagem do seu alvo. Um silêncio tomou conta da sala e ele ficou paralisado olhando para a foto. Seu olhar era abismado e indignado ao mesmo tempo, era como se tivesse visto um fantasma.
— Me-meu alvo é uma. — Carlos deu uma pausa para continuar, estava um pouco nervoso. — Garotinha?
— Sim — respondeu Serena. — Por que está tão nervoso quanto a isso?
— Porquê é uma criança? — Ele apertou os papéis com força. — Você é maluca por acaso?
— Não se deixe enganar. — Serena suspirou, tirou um cigarro do bolso, acendeu e fumou. — Ela é uma garotinha, mas não hesitaria em te matar.
— Explique-se — disse Carlos, tentando se recompor.
— O nome dessa garota é Lynda Hin. Aos 5 anos de idade, ela matou sua própria família para ficar com toda a herança e negócios da família. Hoje em dia ela tem uma fábrica de confecção de roupas, mas atua na organização com vendas de escravos para outras cidades.
— Você tem certeza disso? — indagou Carlos ainda não acreditando em tudo aquilo.
— Sim. A cena de massacre da família Hin foi tão brutal que prefiro não descrever.
— É difícil de acreditar.
— Entendo. Você é um viajante e não sabe como funciona a crueldade dessa organização, mas aconselho a você Carlos, que tente ver além das aparências. Uma criança com uma aparência doce pode ser um demônio.
Carlos imediatamente lembrou da FMU. Achava que aquela organização era seu lar e que as pessoas eram boas, mas recentemente ele havia descoberto que tudo aquilo não era o que ele imaginava. Com exceção de sua mestra, ninguém se importava com ele naquele lugar. Acreditar que uma criança poderia fazer tudo aquilo não era tão difícil.
— Entendi. Tudo bem, vou aceitar isso. — Ele baixou a cabeça. Apenas pensou que tudo aquilo era necessário para poder sobreviver.
— Sábia decisão. Você deveria começar a ir atrás dela nesse momento.
— Já? Não tem mais informações que eu precise saber?
— Infelizmente, tudo o que tenho está nesses documentos. Não conseguimos reunir mais informações sobre ela ou qualquer outro membro da organização. Todas as pessoas que nós mandamos morreram e não conseguimos saber sobre suas habilidades.
— Certo. — Carlos colocou os papéis na mesa, cruzou os braços e fez uma cara de insatisfação. — Então, terei que lutar contra eles sem saber suas habilidades. Não me parece bom.
— Não se preocupe, Kelvin irá com você.
Nesse momento, Kelvin olhou para os dois e deu um sorriso confortante, mas Carlos não se sentiu assim.
— E por que isso faria eu me sentir melhor? — Carlos olhou para Kelvin. — Você por acaso sabe lutar?
Kelvin se levantou e agarrou em seu próprio braço, levantando o punho direito. Deu uma risada contagiante. Carlos não ficou satisfeito com aquilo, apenas achou a pose engraçada.
— Com certeza — respondeu o relojoeiro alegremente. — Eu sei lutar.
— Kelvin possui uma boa força física — complementou a médica. — Ele sempre acompanha as pessoas que envio, para dar suporte a elas.
— Tudo bem, aceitarei a sua ajuda. — “É melhor que nada”, pensou ele. — Onde está essa garota?
— Aqui está um mapa da cidade. — Serena deu o mapa na mão de Carlos. — Leve com você. Kelvin o guiará até ela.
— Preciso de um tempo para descansar. — Carlos ainda estava ferido e não conseguia andar muito bem, seus ferimentos ainda doíam; suas mãos estavam fracas por conta dos bloqueios. — Tudo bem?
— Não me importo. — Serena começou a caminhar, seu cigarro deixava um rastro de fumaça no ar. — Quem está com pressa é você. Lembre-se que você tem até quatro dias para completar tudo.
— É, eu sei, não precisa me lembrar.
— Em todo caso, tenho um quarto para você descansar, siga-me. — Serena fez um gesto para que ele a seguisse.
— E por que eu dormiria aqui? Posso acordar amanhã e ter meus órgãos retirados e vendidos no mercado negro — disse Carlos desconfortavelmente, enquanto imaginava isso.
— Porque você não tem dinheiro para pagar um lugar para dormir, e já lhe tenho nas minhas mãos, então deixe de drama, venha.
Carlos não podia argumentar contra aquilo, estava realmente sem grana, também não poderia ir embora sem a cura, de qualquer jeito. Apenas podia aceitar o quarto e descansar para realizar o assassinato no dia seguinte.
Carlos seguiu Serena, estava com medo de que o quarto fosse em um porão sujo e desconfortável, não era algo impossível de acontecer devido ao caráter da médica. Olhava atentamente para onde estava indo. Ela parou de andar; abriu a porta de um cômodo e o adentrou, fez um gesto para que ele entrasse também.
O Crescente se surpreendeu, não esperava que ela o levaria até um quarto normal. Para falar a verdade, o quarto era bem bonito e acolhedor, era tão belo quanto a sala de estar. A cama era grande, e parecia confortável o suficiente para se dormir tranquilamente; ao lado tinha um guarda-roupa modesto. A decoração era bem planejada, alguns quadros com artes de paisagem enfeitavam a parede, enquanto alguns vasos com flores estavam simetricamente ajeitados dos dois lados da cama. Um tapete enorme se estendia no chão, também tinha uma poltrona, que servia para se sentar e ler diversos livros que estavam em uma estante à frente.
Carlos não conseguiu esboçar uma palavra, ainda estava desacreditando no lugar que iria dormir.
— O que foi? Isso não atende as suas expectativas? — indagou a médica enquanto olhava a cara de bobo dele.
— Eu acho... que está ótimo. — Era tudo o que ele poderia dizer.
— Então, o deixarei só — Serena saiu do quarto e fechou a porta.
Ele fechou a enorme cortina que cobria toda a janela e se deitou na cama sem fazer cerimônias. Pensou que não conseguiria dormir, por conta da preocupação em ter uma toxina em seu corpo, prestes a matá-lo. Também pelo fato de ter que, no dia seguinte, matar uma garotinha. Mas seu cansaço era tanto que fechou os olhos e imediatamente apagou, mesmo que ainda estivesse perto de escurecer.
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