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Imortal (PT-BR)

O Casal - Parte 1

O Casal - Parte 1

Apr 14, 2019

França, 1342

Jehan cruzava a aldeia apressadamente, sem se importar com os cumprimentos não respondidos ou os eventuais protestos indignados daqueles em que esbarrava. Não havia tempo, precisava encontrar Gidie o mais rápido possível. Com um pouco de sorte, ele ainda estaria nos arredores.

Os limites da aldeia foram atravessados de forma tão ligeira que em poucos minutos o camponês já não reconhecia mais o chão onde pisava. Mas ele não se importou, apenas continuou sua busca incansável.

Sentiu o desespero tomar conta de si ao constatar o óbvio: talvez Gidie já estivesse distante, até mesmo em outra aldeia. Ofegante, Jehan diminuiu os passos, até parar completamente em uma clareira desconhecida.

Tentando recuperar o fôlego, ele se recostou em uma árvore próxima, finalmente se permitindo olhar em volta, e o pavor ficou claro em seus olhos. Não só desconhecia o lugar em que estava, como também não fazia ideia de onde viera, ou mesmo em que direção ficava a aldeia. Estava perdido.

— Droga! — Praguejou para si mesmo, enquanto escorregava até o chão, sentando-se no amontoado de folhas secas.

Naquela manhã, Gidie havia se despedido e partido para a próxima viagem. Naquela mesma manhã, um pouco mais tarde, Melisende havia finalmente recebido a visita da curandeira que tanto esperava, e tudo parecia estar indo de acordo com os planos. Mas não foi.

Jehan, então, havia decidido buscar ajuda de Gidie, e confiado em sua própria sorte de encontrar o outro não muito longe dos limites da aldeia. E mais uma vez naquele dia, seus planos haviam falhado.

O som do vento batendo nas árvores e de eventuais animais passando por ali eram os únicos presentes. Sentindo a pressão do silêncio esmagador, Jehan se encolheu o mais próximo do tronco que conseguiu.

O sol brilhava alto no céu, mas o frio estava começando a se tornar notável. Em algumas horas o ar estaria gélido, o suficiente para que o camponês encontrasse dificuldades de respirar. Derrotado, ele escondeu o rosto nas mãos, na esperança de que aquele dia não passasse de um pesadelo infeliz.

Um calor repentino tomou conta de seu corpo, e ele demorou alguns segundos para perceber que resultava de um tecido pesado jogado sobre suas costas. O aroma familiar e reconfortante encheu suas narinas, e ele levantou a cabeça lentamente, vendo a costumeira capa vermelha entrar em foco, caída sobre seus ombros.

Confuso e surpreso, ele ergueu a vista, e seu olhar cruzou com o do dono da capa. Não foi capaz de conter um suspiro aliviado ao reconhecer o rosto que tanto ansiava por ver naquele momento, mesmo que agora carregasse uma expressão preocupada.

Antes mesmo que o camponês pudesse formar uma linha de raciocínio coerente sobre o que dizer ou por onde começar, as lágrimas se formaram involuntariamente, e deixou escapar um soluço. Em pouco tempo, estava chorando enquanto tentava em vão buscar as palavras ideais.

Assustado, o bardo sentou-se ao seu lado e passou os braços pelos ombros do mais novo, envolvendo-o em um abraço reconfortante. Jehan permitiu-se afundar o rosto nas vestes avermelhadas, enquanto mais e mais lágrimas escorriam por sua face.

Por alguns minutos nenhum dos dois foi capaz de dizer nada, e os soluços de Jehan eram o único barulho a quebrar o som ambiente da floresta. Aos poucos, os prantos do camponês foram diminuindo e sua respiração retornando ao normal.

— O que aconteceu? — Perguntou o bardo, enfim quebrando o silêncio.

— A curandeira — começou Jehan, fungando —, ela veio finalmente. E disse — ele fez uma pausa, tentando impedir que as lágrimas voltassem a se formar — que não tem jeito. Não é um problema e não existe uma cura.

Gidie mordeu o lábio inferior, seu rosto expressava a mesma preocupação de antes, mas agora com um pouco de pesar. Ele não foi capaz de dizer nada, de forma que esperou o camponês se sentir à vontade para continuar.

— O padre descobriu. — Anunciou, por fim, e dessa vez não conseguiu conter os olhos marejados.

O mais velho arregalou os olhos, numa expressão de puro horror e o ar lhe faltou na hora. A mão no ombro do camponês apertou com força, mas o outro não pareceu se incomodar.

— Hoje à noite. — Ele conteve mais um soluço. — Hoje à noite, em apenas algumas horas, Cateline vai…

Jehan não conseguiu concluir a frase, mas não foi preciso. Ambos sabiam do que se tratava. Gidie aproximou-se mais do camponês, apertando o abraço, tentando em vão amenizar o desespero da situação.

— E Melisende? — Questionou o mais velho, baixinho, temendo a resposta.

— Está segura. — Disse, enxugando o rosto com as mangas. — Por enquanto. — Acrescentou.

— O que faremos? — Ele baixou ainda mais o tom de voz.

— Eu não sei. — Admitiu o camponês. — E é por isso que vim atrás de você. Na esperança de que este bardo iluminado nos mostrasse uma solução. — Explicou, forçando o tom formal que tanto usavam um com o outro, a fim de de aliviar o clima pesado.

A preocupação no rosto do bardo, porém, se intensificou. Conhecia o outro bem o suficiente para entender que o uso do tom formal naquele momento significava que, no fundo, Jehan ainda não havia perdido as esperanças. Uma pequena parte dele ainda acreditava que poderiam salvar a curandeira da execução iminente.

Gidie suspirou pesadamente, antes de perguntar, por fim:

— Onde está Cateline?

Jehan prendeu a respiração por um momento, e seu rosto pareceu encher-se de expectativa. Ele secou desajeitadamente o que restara das lágrimas em suas bochechas e endireitou a coluna, encarando firmemente o mais velho.

— Presa. Há apenas dois guardas — começou —, se conseguirmos distraí-los por tempo o suficiente para—

— Não. — Interrompeu o bardo. — Nem pensar. Isso seria caminhar diretamente para a fogueira.

— Mas…

— Mas — continuou —, há uma solução. Diga-me, o quanto o padre viu?

— Ele não viu. — Respondeu Jehan, incerto. E então, seus olhos se arregalaram, e ele pareceu entender o que o outro queria dizer. — É isso! Ele não viu.

— O que significa que alguém dedurou. E quantas pessoas sabiam da situação com Melisende? — Perguntou, sério.

O mais novo pareceu ponderar por alguns segundos, e seus olhar percorreu os arredores nervosamente. Sua expressão se contorceu em um misto de medo e choque, e ele levantou-se bruscamente, deixando a capa do outro cair de seus ombros.

— O pai dela! — Exclamou, assustando o bardo. — Ele foi contra o tempo inteiro. Disse que não deveríamos nos meter com essas coisas, que Deus sabia o que estava fazendo. Mas é claro!

— Isso! — Concordou Gidie. — E se conseguirmos provar que ele estava errado, que foi tudo um grande mal entendido antes do cair da noite—

— Conseguimos salvar a vida de Cateline — completou —, e não precisaríamos fugir para garantir nossa segurança.

O bardo apenas assentiu com a cabeça e pôs-se de pé rapidamente, jogando a capa de forma desajeitada sobre os próprios ombros e pegando o alaúde que só então Jehan notara estar ali, sobre um amontoado de folhas.

Gidie guiou o mais novo para fora da clareira, adentrando a floresta, parecendo saber exatamente qual direção seguir. E provavelmente sabia, afinal, já havia atravessado aquela mata incontáveis vezes.

O sol ainda não havia se posto quando os dois avistaram os limites da aldeia, e a esperança preencheu o peito do camponês. Em pouco tempo, já estavam atravessando as ruas tão conhecidas à passos largos, atraindo alguns olhares curiosos por onde passavam.

Mas antes mesmo de chegarem ao destino, a figura de uma moça correndo entrou em foco repentinamente, e parou milésimos de segundo antes de colidir com os dois. Ela estava ofegante, e eles a reconheceram na hora.

— Cateline — começou a voz trêmula de Melisende — está sendo levada agora.

O bardo e o camponês se entreolharam horrorizados, e o ar faltou em seus pulmões. Jehan estendeu a mão para Melisende, que aceitou, sem encará-lo nos olhos. Sua palma estava suando frio, e ela tremia.

A camponesa guiou os recém-chegados para longe dali. Nenhum dos três foi capaz de dizer nada, e a cada passo o clima pesado tornava-se mais sufocante. A respiração de Gidie estava pesada, e ele apertava com força o alaúde em uma de suas mãos, enquanto a outra segurava firme o ombro do mais novo. Jehan lutava em vão contra suas próprias lágrimas, enquanto Melisende mantinha o olhar fixo no chão à sua frente.

— Talvez — o camponês quebrou o silêncio —, talvez ainda dê tempo.

A mão em seu ombro estremeceu, enquanto a de Melisende apertou sua própria. Nem a camponesa nem o bardo viraram-se para encará-lo.

Foi com horror que Jehan levantou o olhar e constatou que haviam chegado ao destino. E que era tarde demais.

Ali, rodeada por rostos tristes, preocupados ou raivosos, estava Cateline. Seu vestido longo e verde estava levemente surrado na barra, e uma parte de seus cabelos castanhos havia se soltado da trança que costumava ser tão bem arrumada.

Suas mãos estavam atadas em sua frente, e era possível ver a pele avermelhada por baixo das cordas. Apesar de tudo, sua expressão não demonstrava nada além de valentia e decisão.

O estômago de Jehan revirou ao perceber a estaca de madeira um pouco atrás da curandeira, com todos os preparativos prontamente organizados.

O camponês agora tremia forte, enquanto fitava a moça sendo amarrada sem nenhum cuidado à estaca por dois homens. Seu olhar, porém, permanecia inabalável, e ela não pareceu se incomodar com a brutalidade.

Um terceiro homem se aproximou da cena, segurando uma tocha. Jehan sentiu um forte enjôo, e o suor frio estava cada vez mais intenso. Seus joelhos cederam e ele foi amparado pelo bardo e a camponesa, mas não foi capaz de encarar nenhum dos dois.

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Toro K.

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Ademerson
Ademerson

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“- Amor e chuva, escuto Christopher dizer e olho para seus olhos negros quando ele termina de dizer estas palavras.
- O quê?, digo cuspindo milhares de gotas de saliva no seu rosto.
- O nome se chama Amor e Chuva Sebastian, Christopher repete novamente, e levo mais alguns segundos para entender que é a da música que ele está falando, da droga da música tocando ali no seu celular que ele está falando.
- Jeff Lynne, adoro este cara, o jeito que ele toca e canta, Christopher diz.
Você alguma vez já procurou no YouTube algum cantor porque alguém te falou que gostava de ouvir suas músicas? Porque naquela noite deitado na minha cama depois de sair daquela biblioteca, eu iria ouvir todas as músicas desse tal Jeff Lynne no YouTube. E iria baixar aquela música Amor e Chuva no Spotify. E eu iria dormir com aquela música tocando milhares de vezes no meu ouvido até decorar palavra por palavra, porque era a música que Christopher estava ouvindo quando ele olhou para mim pela primeira vez com os olhos cor de universo.
E chuva e amor marcaria nossas vidas de um jeito que eu jamais achava que pudesse acontecer na vida de alguém.”

Oi gostaria de convidar você não para dar uma olhada no meu primeiro livro.Espero que você goste e deixa algum comentário.

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