Fazem dois dias que estou praticando caminhada, é a primeira vez que fico tanto tempo em uma rua em minha vida. É sujo e irregular, o prefeito não está fazendo muito pela cidade. Na minha rota eu passo perto de uma favela, sempre tem uns caras mau encarados lá em algum momento eles vão me abordar.
Venho conversado com a vizinha a quatro dias, ela faz faculdade e tem um estágio no escritório de advocacia. Ela anda bastante ocupada, aparentemente tem uma enxurrada de processos de um condomínio que está com problema de falta de água causado pela construção de uma estrada. Fico com pena dela ela tem que se esforçar tanto só pra pagar o aluguel no final do mês.
O prédio tem dez andares, tem um pátio enorme com algumas estatuas, térreo tem o saguão, no segundo tem o refeitório, no terceiro é onde se guarda os materiais, do quarto até o sexto são escritórios no sétimo tem o servidor que estranhamente ocupa quase todo o andar, no oitavo e nono é onde fica as pessoas de cargos mais importantes no decimo tem um salão que se encontra com o terraço. Eu desuso que se tiver um computador central ele vai estar nos últimos andares.
Achar a planta do prédio não foi tão difícil, lá funciona bem como uma desenvolvedora, mesmo tendo seus segredos parece que tudo funciona normalmente.
Sabe aqueles caras mal-encarados? Eles me abordaram, segundo eles eu pareço burguês, eu não os culpo eu meio que era. Chegaram em cinco, o que veio falar comigo era alto e de pele escura. A cada duas palavras ele usava uma gíria ou palavrão. Me pega pela camisa e manda um papo furado. Ali nunca passava uma viatura, nesse momento tinha certeza que iria levar uma surra e ser roubado. Os caras deviam estar muito putos já que passava lá todos os dias, eu não parecia nada suspeito.
“Eu te vejo passando todo dia nessa rua caralho, o que tu que filho da puta?” O baseado estava aceso.
“Sabia que fumar da câncer?”
Ele sorri da ousadia do burguês que sou eu no caso.
“Deixa de ser animal filho da puta, maconha é natural ela vem da terra, já viu alguém morrer por fumar um?” Seus olhos estão irradiando uma raiva admirável.
“Não, geralmente alguém mata primeiro.”
“Olha a ousadia de moleque!” Antes mesmo de finalizar a frase um soco é desferido. “A gora tu vai pagar por sua ousadia arrombadinho de merda.” Parece que o irritei de mais.
O soco me aceta no lado esquerdo, eu tinha previsto o soco, mas não tive um jeito de reagir. Quase antes de cair já recebo duas bicudas no estomago. Enquanto minhas vistas se desembaçam eu vejo um rosto familiar. Felizmente eles não me bateram muito depois do quarto chute.
Não sei quantas horas são, eu volto para casa, meu braço dói tanto quanto meu rosto.
No corredor estava ela, tentando abrir a com os livros pesados na mão. Tento abrir minha porta com minha mão que está boa, e deixo a chave cair. Ao abaixa solto um gemido de dor.
“Oi Jonathan. O que aconteceu? Seu rosto está sangrando?” Pegando em minha mão.
“fui assaltado, não se preocupe estou bem.”
“Droga, temos que limpar esses machucados. Vem que eu vou dar um jeito nesses machucados.” Ela abre a porta e me puxa pelo braço.
Era a oportunidade perfeita para roubar seu CPF. Quer dize pegar emprestado já que eu iria devolver depois.
Com um algodão e um negocio que arde ela passa no meu rosto e fica falando sobre ligar para a policia e outras coisas do gênero. Não ligo nem um pouco pra isso eu preciso do documento e sair de lá o mais rápido.
“Se não for incomodo eu poderia dormir aqui hoje?” É a forma mais fácil de fazer isso.
“Não.”
“por favor. Eu estou com medo, eu moro sozinho ali, e se eles vierem atrás de mim.” Me sinto patético tendo que falar essas coisas.
“Eu não me sinto confortável com um estranho dormindo no me apartamento, e mais eu não tenho travesseiros e nem cobertores.”
“Você pode pegar lá em casa, e se puder uma muda de roupa por favor.” Falo isso enquanto entrego a chave.
Ela ainda está meio desconfiada, mas ela sai em direção ao meu apartamento.
Olhei na mochila nas gavetas na bolsa e nada. O tempo está acabando e o cachorro não para de me seguir. Olho no moletom rosa e em um dos bolsos eu encontro o CPF. Porta se abre e ela equilibra as roupas o cobertor e o travesseiro e eu escondo o CPF na cueca.
“Aqui está suas coisas.” me entrega tudo fazendo meio que um sanduíche.
“Onde é o banheiro?”
“Ali na direita, puxa a água quando terminar” aponta a direção.
Banheiro apertadinho, tem um sabonete quase no fim e meia dúzia de roupas sujas perto da pia. O ralo cheio de cabelo e no box tem uma água que parece estar muito tempo ali.
“Tenho certeza que vai ser complicado entrar com um nome de mulher. Minha preocupação maior é de como vou chegar no computador central.” Abro a torneira a primeira água é gelada batendo nas costas arrepia até a alma. “Pode estar em qualquer lugar, deve ter uma senha, quanto tempo vai demorar para decodificar isso?” Finalmente a água quente cai levanto meu rosto e o esfrego. Da pra sentir o meu olho inchado e a dor no braço.
O banho foi bom para refrescar as ideias, tento enxugar meu cabelo e sinto minhas costelas, minha vizinha gentilmente se oferece para fazer o serviço para mim.
“Como eles te pegaram?” enxugando meu cabelo.
“É que estou praticando corrida, sozinho era uma presa fácil. Ainda bem que eles não me mataram.” Passo a mão no meu olho que está inchado
“Por que não foi na polícia? Esse tipo de pessoa a tem que ser presa, como poderem atacar um homem sozinho? Isso é covardia.”
“Relaxa, tenho coisas mais preciosa do que um telefone, ainda estou vivo” por dentro estou me remoendo de ódio, que mina chata, e aquele idiotas do caralho vão fuder meu plano.
O sofá não é dos mais macios, jogo o cobertor com o travesseiro, o chuveiro liga dando aquele pique de luz junto com aquele barulho da resistência. Um canto triste ecoa no pequeno apartamento, era uma melodia bonita e com som daquela bela me deito.
Comments (0)
See all