Hoje fui visitar os arredores da empresa. Ainda é cedo, são cerca de 45 minutos de viagem. O ponto quase que vazio, tinha uns três velhos lá parado temendo de frio. Uma folha bate na minha perna. Na verdade, era um folheto de mais um daquelas igrejas que só servem para extorquir seu fieis, acho muito engraçado o que o desespero faz com as pessoas. O ônibus chega e os velhos entram, o ultimo tem dificuldade por usar muleta. Sento no meio, a paisagem e ofuscada pela neblina densa. A paisagem cinza e cheia de construções é trocada por longos e verdes pastos.
O ônibus demora um pouco a mais por causa da neblina. 7:11 a cidade vizinha é mais limpa e verde, não se vê muitas pessoas por ali, mesmo sendo bastante urbanizada o ambiente tem um ar de vilarejo. Tem um parque muito bonito com pessoas passeando com seus cães.
No final daquela longa avenida é onde fica a cede. O lugar é rodeado de prédios. O prédio é mais largo e baixo que os demais, tem um pátio enorme que também serve como estacionamento. Do lado de fora não tinha nenhum segurança e nem câmeras, porem vim um guarda na entrada do prédio.
Fui andando nas ruas, a parte de trás do prédio dava pra ser acessada por um beco, como previsto havia câmera. O contêiner de lixo ficava perto da saída vai ser algo bem útil.
Voltando para poder pegar o próximo ônibus, avistei o CEO descendo de seu carro importado, ele cumprimentava o guarda e entra.
Será que esse papo de conspiração é verdade? Meu país não é um lugar onde a indústria de jogos é forte. Esse jogo foi feito por uma empresa 100% nacional. E ainda se tornando um jogo mundial é de se chamar a atenção.
No caminho de volta a cidade muda de cara, os carros tomam as ruas e as pessoas as calçadas. O sol que era tímido mostra toda sua voracidade. Mesmo que com toda essa agitação o ponto de ônibus fica deserto. 20 minutos se passam e como de se esperar o ônibus ainda não chegou, escuto barulhos de trovões ao fundo, espero que essa chuva não atrapalhe os meus planos. Agora que percebi que tem um presido ali perto.
Mais 6 minutos se passam e finalmente o ônibus chega, ele está vazio. Me sento na janela. Depois de duas paradas finalmente entra um cara meio parrudo de moletom cinza e cabelos compridos. Ele se senta do meu lado, mesmo tendo vários lugares vazios. O homem fica um sorriso idiota na cara, seu pé não para de bater no chão, ele faz isso de forma ritmada, parece que está acompanhando uma música mentalmente. Depois de 3 minutos e 23 segundos ele para, arruma suas luvas sem dedo se encosta no banco, põem as mãos no bolso.
“Caraca finalmente vou voltar para casa.” Ele fala com um ar de felicidade.
“Legal cara” respondo de forma educada.
“É complicado ficar na cadeia, os caras são um bando se selvagens.” Ele fala isso com uma estranha naturalidade.
“Saiu da cadeia também? E esse olho roxo aí? Foi briga né?”
“Foi briga sim.”
Nesse momento já vi que coisa boa não iria vir, geralmente pessoas que saem da prisão tem alguém esperando, porem ele estava sozinho, esse cara é suspeito. Fiquei pensando no que ele podia ter feito porem não teve necessidade.
“Eu bati na minha esposa.” Olho para ele e ele olha para mim. Só nesse momento que percebi que ele era maior do que eu, seus traços asiáticos também chamaram minha atenção. “Meio que tenho surtos de raiva. Procurei tratamento só que essa coisa é do psicológico sabe? Fiquei tanto tempo lá que nem me lembro do rosto dela direito.” Continua a falar.
Olho de volta para a janela, o clima aqui está muito desconfortável. Ele suspira. Mais uma parada o ônibus lota, é bizarro como ficou tão cheio em pouco tempo. Pessoas de pé, crianças, mochilas e sacolas. Nessa parte do trajeto fica mais perto do subúrbio, da para notar a grande diferença do jeito das pessoas que entram.
O homem do meu lado começou a respirar mais forte, seu cabelo tampa seus olho mais da para ver seu ódio transbordar. Falta menos de 20 minutos para chegar ao meu destino, só espero que essa bomba nuclear não exploda do meu lado.
Dá para sentir o clima mórbido da minha velha cidade e ver seu prédio cinzas. O homem se levanta rápido sem motivo aparente, da pra ver em seu rosto um sorriso sádico. As pessoas do ônibus se assustam. Sai empurrando todos ate chegar em um garoto franzino. O menino nem teve reação, foi pego pelo pescoço, a mãe do menino começa a bater no grandalhão. Seu braço roda derrubando a senhora que cai bem do meu lado. A galera do ônibus começa a se agitar. O menino recebe um soco no estomago e cai no chão se revirando de dor. Todos gritam e partem pra cima, antes do se ser agredido ele levanta a mão direita e ergue um celular.
O motorista para e levanta com pedaço de pau na mão. O grandão está caindo na porrada com umas sete pessoas, e ainda batendo. Ele é expulso do ônibus, um murmurinho ecoa. Algumas pessoas ajudam o menino e fala aquelas frases clichê de gente depois de um furdunço. Olho para a janela ele sorri me dando tchau.
Nunca imaginei que algo tão estranho podia acontecer em um ônibus.
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