Raziel despertou ofegante. Olhando ao redor, viu que estava no dormitório do internato. Havia sido um sonho? ficou um tempo sentado em sua cama pensando no que tinha acontecido, depois levantou-se e vestiu seu uniforme.
Saindo do dormitório encontrou Nicolas esperando-o. Quando viu Raziel, Nicolas deu um sorriso e foi a passos largos falar com ele.
— E aí, Raz! — disse, estendendo o braço para apertar sua mão.
— E aí — respondeu, também estendendo a mão.
— Pô, você demorou para acordar hoje, cara.
— Foi mal. — Deu um sorrisinho sem graça.
— A Larissa já foi pro refeitório faz uns dez minutos, melhor você se apressar. — Começou a empurrar Raziel na direção do refeitório até ele andar sozinho.
— Tá bom, tá bom.
Os dois ficaram esperando na fila do refeitório, pegaram suas comidas e procuraram um lugar para se sentar. Depois de acharem uma mesa vazia em um canto do refeitório e se sentarem, Nicolas começou a olhar para os lados procurando alguma coisa. Raziel também olhou ao redor, tentando descobrir o que ele estava procurando, depois perguntou:
— O que você tá olhando?
— Shh... Shh... — Tentou silenciar Raziel. — Olha ali. — Apontou para uma das mesas no refeitório.
— Ah, cara... — disse após perceber que era a mesa onde Larissa estava sentada.
— Ela ainda tá no refeitório, porque você não vai falar com ela?
— Não apressa, cara. Eu vou falar quando estiver pronto para falar.
— E quando vai ser?
— Não vem com essa, não. Nós somos amigos da Sofia há um tempão, mas mesmo assim você não consegue nem falar um “A” perto dela — lembrou.
— É, eu sei. A hipocrisia é uma arte — riu do que ele mesmo disse. — Mas, faça o que eu digo, não o que eu faço.
Larissa levantou-se de sua mesa e, por um momento, seus olhos se cruzaram com os de Raziel, que evitou contato visual olhando para o seu prato. Quando levantou os olhos novamente ela já estava saindo do refeitório. Raziel, sentindo-se meio arrependido, suspirou.
— Fala aí seus inúteis! — disse Sofia, que havia acabado de chegar ao refeitório, sentando-se em frente à Nicolas.
— E-a-a-a... — Nicolas, percebendo o mico que estava passando, apenas acenou com a cabeça. Ela acenou de volta.
Quando a viu, Raziel lembrou-se do sonho que teve, de Sofia em estado de transe, dela levitando uma pedra e atacando-o. Parecia ter sido tão real que suas mãos começaram a suar e pôde sentir seus batimentos aumentarem.
— Raziel? — chamou, Sofia, tirando-o de seus pensamentos.
— Hm? Oi. Desculpa, eu estava viajando aqui.
— Aconteceu alguma coisa?
— Nada, só um pesadelo.
— Que tipo? Estava pelado em sala de aula? Acontece.
— Não eu... Espera, você já sonhou com isso?
— Você...? — E fez um gesto com a mão, indicando para ele continuar.
— Ah, então. — Raziel contou seu sonho, tudo que conseguia lembrar dele.
— Uma pedra? Você não conhece a força do meu dom? — protestou. — Se eu fosse te atacar eu arrancaria uma arvore, não, três arvores e jogaria bem em cima da sua cabeça!
— Calma aí! Eu acredito em você, mas no meu sonho foi uma pedra.
Sofia se inclinou para trás em sua cadeira e começou a falar:
— Então tinha uma voz dizendo pra você a encontrar em 127b. Mas essa voz, na verdade, era você mesmo e os seus olhos brilhavam em roxo. Será que tem algo a ver com o seu dom? — Sofia, que gostava de encontrar significado nos sonhos, começou a analisar o de Raziel. — Semana que vem você faz o teste de dom, não é? E essa voz, que é o seu dom, diz para você encontrá-la, encontrar o seu dom.
— E onde você me atacando entraria?
— Você está com inveja do meu dom ser tão incrível, e o seu provavelmente ser algo como mudar a cor do olho pra roxo.
— Talvez faça sentido.
— Você ter inveja de mim? Claro que faz, quem não teria?
— Eu estou falando de estar com medo de não ter um dom legal. Você e o Nicolas já apresentavam indícios dos seus dons um mês antes do teste, falta uma semana pra eu fazer e ainda não há indicio nenhum do meu.
— Você pode não ter percebido os indícios por não saber ainda qual é o seu dom. O indício do dom do Nicolas era que ele parecia estar sempre ardendo em febre. Como saberiam que, na verdade, o corpo dele não estava quente de febre, e sim pelo seu poder ser o de controlar a temperatura?
— É verdade. O indicio do seu era que você sempre acabava empurrando as coisas de cima dos lugares e jogando no chão, quando passava por perto delas. As pessoas achavam que você só era desajeitada e esbarrava nelas sem querer.
— Quantos copos eu quebrei sem querer... — disse, rindo. — Bem. Falou, manés. — Se levantou e saiu do refeitório.
Depois dela sair, houve um momento de silêncio. Raziel começou a pensar sobre o seu sonho e que Sofia devia estar certa, não era nada, ele só estava ansioso.
— Eu consegui falar um “E” e três “A” — observou Nicolas.
— Tá. É verdade, você falou — respondeu, rindo.
Comments (0)
See all