I’m the mad man you see in your dreams
I’m that crazy man who brings you to extremes
Enigmatic mad man
But I’m still your best friend
- Serpens Caput, enigmatic mad man
Luke estava calado quando os dois saíram para almoçar. Provavelmente ainda estava irritado por causa do jogo, pensou Liz, mas ela também estava. Decidiu ignorar o mau-humor do amigo e pegou seu celular para jogar um jogo qualquer e esquecer daquela atmosfera horrível entre os dois. Eles estavam andando pelo campus, até a pequena lanchonete que ficava lá, afim de pegar algum sanduíche ou algo assim.
Uma das coisas que a irritava em Luke era que ele nunca parecia desconfortável por aqueles silêncios. Ele era uma pessoa introvertida? Era, mas ele também tinha a melhor poker face que ela já vira na vida. Ele era um ótimo mentiroso, e um ator ainda melhor, e por essa razão era difícil que ela realmente soubesse o que ele estava pensando, mesmo que, algumas vezes, os dois falassem a mesma coisa em uníssono.
Ela o conhecia, mas ao mesmo tempo parecia que não o fazia. Aquilo era extremamente irritante para ela. Por que ele não podia simplesmente se abrir e mostrar que confiava nela? Por que ele não confiava nela, aliás?
Ela suspirou. Queria afastar aqueles pensamentos, não mergulhar ainda mais neles. Sentiu o cotovelo de Luke a cutucando na cintura. Ela olhou para o rosto dele, e viu que ele sorria de canto, olhando fixamente para algum ponto a sua frente.
— Olhe só a sua crush, Liza. — Ele disse. Olhando para onde ele encarava, viu que uma garota loira de pele branca e aparência maravilhosamente linda e extremamente familiar conversava com outra garota, bem mais alta, negra, com os cabelos escuros presos em um coque alto. Ela era linda, também. Será que as duas estavam....
Liz balançou a cabeça. Nem sabia se Agnes gostava de garotas, e deduzir que ela estava com uma menina simplesmente porque as duas conversavam era ridículo. Ainda assim, ela não conseguiu parar de pensar em como a oura garota era atraente. Com certeza Agnes preferiria ficar com alguém como ela, ao invés de alguém como Liz.
— Pare com esses pensamentos, Liza. — Luke a cutucou novamente. Ela olhou para ele, surpresa. Era incrível como ele a conhecia, e sabia ler sua mente tão bem, enquanto ela não fazia ideia do que se passava por trás dos olhos de seu melhor amigo. — Por que não vamos lá falar com ela?
— Ela está com outra garota, eu não quero interromper. — Disse Liz. No mesmo instante em que terminou a frase, as duas garotas acenaram uma para outra, e Agnes foi deixada sozinha.
— O destino sorri para você, minha pequena garota. — Ele sorriu, arqueando uma de suas sobrancelhas. Ele começou a andar na direção da loira, mesmo que Liz tentasse de tudo para que ele não o fizesse. Luke a puxava, e a distância entre as duas diminuía cada vez mais, o que fazia com que a garota de cabelos azulados ficasse cada vez mais em pânico.
Num piscar de olhos, ela estava na frente de Agnes, que ainda olhava para o celular, sem perceber a presença dos dois amigos. Luke deu um pequeno sorriso para Liz, e ela instantaneamente soube o que ele ia fazer.
— Oi! — Ele disse, chamando a atenção de Agnes, que olhou para os dois. Um sorriso se abriu no rosto dela quando viu Liz, que quase derreteu quando viu aqueles lábios se curvando daquela maneira.
“Cara, eu tenho sérios problemas com essa garota” Ela pensou.
— Eu vou deixar vocês a sós. — Luke disse, andando para longe antes que Liz pudesse fazer qualquer coisa. — Me agradeça depois, Liza.
Agnes arqueou as sobrancelhas, se divertindo com a situação. Liz sentia que seu rosto estava vermelho como um tomate. — O... Oi. — Ela gaguejou.
— E aí, Liz. Como vai? Melhor? — Agnes perguntou, apontando para um banco perto de onde estavam.
— Sim, obrigada por perguntar. — Liz respondeu, seguindo para se sentar no banco, seguida por Agnes. — E você, como vai?
— Bem, obrigada. Quem era aquele, seu namorado? — A loira se sentou virada para a outra, com o braço jogado no encosto do banco, seu queixo em cima de sua mão, atenção inteiramente voltada para a garota ao seu lado.
— Namorado? Não, de jeito nenhum! — Exclamou Liz, torcendo o nariz. — Luke é meu melhor amigo, só isso. Eu também, eu não.... Quero dizer, eu não sinto isso por.... — Ela tropeçava em suas próprias palavras e quase podia sentir seu rosto esquentando ainda mais. Agnes a observava como se fosse a coisa mais fascinante do mundo. — Garotos.
— Oh. — Disse Agnes, não parecendo muito surpresa. Os olhos cinzentos dela pareciam brilhar ao olhar para Liz, o que fez com que o coração da azulada acelerasse. Deus, como aquela garota mexia com ela, mesmo que houvessem acabado de se conhecer. — Homo?
Liz assentiu. Agnes ainda não parecia surpresa. — Imaginei. Quer dizer, pelo jeito que você flertou comigo ontem. — Ela sorriu, da mesma maneira que Luke sorria quando tirava sarro da cara dela, com uma intimidade que Liz se surpreendia de ver e ouvir da garota. — Eu sou bi.
“Graças aos céus, eu tenho chance” Liz pensou. Parecia explodir por dentro, completamente estática com a ideia de que seu crush não era tão impossível assim. Sua mente parecia cantar “Aleluia” repetidamente.
— Incrível. — Ela deixou escapar. Os olhos de Agnes se arregalaram por alguns milésimos de segundo, surpresa. Então, quando Liz se deu conta do que havia dito, a surpresa desaparecera do rosto da loira, que começara a rir. — Quer dizer, uh....
— Você é divertida, Liz. — Agnes disse, entre risadas. Então, quando finalmente parou de rir e mexer com o coração de Elizabeth com as covinhas que apareciam quando ela ria muito, pegou o celular e checou a hora. — Que bom. Eu ainda tenho alguns minutos antes de ter que ir ao meu almoço.
— Almoço? Vai almoçar com alguém em especial? — Liz perguntou. Será que estava namorando alguém?
— Ninguém importante. Vou almoçar com meu primo, ele é um pé no saco. — Disse Agnes. — Principalmente de uns tempos para cá, depois que teve um... problema com uma vadia.
Liz arqueou as sobrancelhas. — Tão sério assim?
Agnes suspirou. — Mais ou menos. Ele não se importava nem um pouco com ela. Os dois eram conhecidos, só isso, mas ela queria mais. — Ela explicou. — Ele não. Então, ela teve a brilhante ideia de espalhar mentiras sobre ele. Arruinou a reputação dele. Ele não saía de casa, sério. Ele sempre teve problemas confiando nos outros, e com o que ela fez, ele passou a acreditar ainda menos na humanidade.
— E você sugeriu o almoço? — Liz perguntou.
— Sim, na verdade. Eu quero ver como ele está. — Ela disse. — Ele não estava afim de vir, mas eu não me importei. Fiquei mandando mensagens todos os dias e ligando para ele toda vez que tinha tempo. Na maioria das vezes ele não me atendia. — Ela riu. — Depois de meses eu consegui convencê-lo. Acho que ele realmente não estava pronto, já que só voltou ao trabalho esses dias.
— Ele tinha tirado férias?
— Pode-se dizer que sim, por causa do que aconteceu. — Ela suspirou. — Ele tem tantos problemas, eu queria saber se podia ajuda-lo de alguma maneira.
— É muito gentil de sua parte. — Disse Liz. — Ele vai gostar de saber que você se preocupa com ele, tenho certeza.
— Nah, aí eu já não sei. — Ela disse. — Ele é muito fechado. Não gosta de gente que se intromete na vida dele. Muitas vezes preocupação pode virar intromissão, sabe. Mas vamos parar de falar no meu primo, vamos falar sobre outra coisa. Você pode me dizer que problemas você teve com Úrsula?
Liz ficara surpreendida com o fato de que Agnes lembrara o nome de sua mãe. — Eu me assumi. — Ela disse, sentindo lágrimas nos olhos. — Ela me expulsou. Fim da história.
Agnes jogou um dos braços pelos ombros de Liz, puxando-a para perto. — Sua mãe é uma idiota por ter feito algo tão horrível assim. — Ela disse, tocando os cabelos de Elizabeth com seus lábios. — Sinto muito.
— Tudo bem. Ela nunca foi uma mãe muito boa, de qualquer jeito. — Liz suspirou, tentando conter as lágrimas. — Pelo menos agora eu não tenho que olhar para a cara dela todos os dias e posso ser como eu realmente sou, agir do jeito que eu quero, sem me preocupar com o que ela vai pensar. Minha tia é muito mais aberta que ela, é simplesmente incrível. — Ela disse, esfregando os cantos de seus olhos com as costas de suas mãos. — Mas eu sinto falta do meu pai. Ela não o merece.
— Família é um assunto complicado. — Suspirou Liz. — Espero que você veja seu pai logo.
— Eu também. — Liz funga.
Um solo de guitarra preenche o silêncio entre as duas repentinamente, e uma voz masculina segue o ritmo:
“What a beautiful disaster you are
so young, so full of hatred
I don’t get why you try, always lie
you know I see right through your frustrated eyes”
— Eu também. — Liz funga.
Um solo de guitarra preenche o silêncio entre as duas repentinamente, e uma voz masculina segue o ritmo:
— Desculpe, eu preciso atender. — Agnes disse, se afastando de Liz e pegando o telefone. — Alô?
Liz não conseguia ouvir a voz ao outro lado da linha muito bem, mas pôde distinguir que era masculina. Talvez fosse o primo dela? — Ok. — Agnes disse, logo antes de desligar.
— Não sabia que gostava de Serpens Caput. — Disse Liz. No mesmo instante, os olhos de Agnes brilharam como dois sóis. Ela sorriu de orelha a orelha.
— Você gosta de Serpens Caput? — Ela perguntou, animada.
— Luke é louco pela banda. Eu conheço muitas das músicas deles, por isso. — Disse Liz, sorrindo de canto. — Essa música era Misophilist, não era?
— Sim! — Ela sorriu. — É o toque que escolhi para meu primo. Afinal, mesmo que a palavra não exista, o significado dela é bem claro: aquele que odeia o sentimento de gostar. Não se aplica a ele, na minha opinião, mas eu sei que essa música significa muito para ele.
— Você escolhe uma música para cada um dos seus contatos? — Liz perguntou. Agnes assentiu.
— É como um hobbie. Eu gosto de descobrir que tipo de música aquela pessoa gosta, porque isso diz muito sobre ela, sabe? Gostamos de músicas porque elas nos lembram de momentos, sentimentos, porque nos identificamos com elas ou porque elas nos ajudam a nos perder nos nossos pensamentos. — Ela sorriu. — Eu, por exemplo, gosto das músicas do Serpens Caput porque me fazem entender meu primo, e várias outras pessoas, também. Cada uma tem sua música favorita, e eu tento entender o que ela ouviu naquela música para escolhê-la, sabe?
— Qual é sua música preferida?
— Eu não tenho. — Ela deu de ombros. — Muito ocupada descobrindo as preferidas dos outros. — Ela sorriu. Então, olhando para a tela de seu celular novamente, ela suspirou. — Meu tempo acabou, Liz. Preciso encontrar meu primo.
— Ah, ok. — Disse Liz. — Tchau. Espero que se divirta.
— Obrigada. — Agnes sorriu. Puxando uma caneta do bolso, ela segurou a mão de Liz e escreveu alguns números rapidamente. Então, ela se levantou. — Me liga qualquer hora, eu adoraria saber sobre a sua música preferida. Tenho certeza que seria fascinante. — Então, com mais um de seus sorrisos brilhantes, ela andou para longe. Liz observou-a se afastando, sem nem perceber que alguém parava ao seu lado.
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