— E aí, conseguiu um encontro? — Luke perguntou, quase assustando Liz até a morte.
— Ah, meu Deus! — Ela gritou, colocando a mão sobre o coração. — Você quase me mata de susto, seu filho da...
— Olha o que vai falar da dona Grace, em? — Ele sorriu, sentando ao lado de Liz no banco. Ele percebeu os números escritos na mão da amiga. — Hm, não conseguiu o encontro mas conseguiu o número? Você está evoluindo, Liza, gostei de ver. Posso ser o padrinho no seu casamento?
— Meu Deus, cala a boca, Luke! — Ela gritou, escondendo o rosto nas mãos. — Eu te mato um dia, sabia?
— Nah, senão você não vai conseguir falar com a princesinha de cabelos loiros. — Ele sorriu de canto. — Você me deve.
— Sabia que ela gosta de Serpens Caput? Graças a você eu consegui adivinhar a banda e o nome da música que tocou quando o primo dela ligou, ela ficou tão animada. — Liz sentiu seus lábios se curvando num sorriso.
— Está vendo só, você me deve o dobro, agora. Qual música era?
— Milophilist. — Liz respondeu.
— Boa música, mas não a minha preferida. — Disse Luke, jogando sua cabeça para trás e fechando os olhos, deixando que os raios de sol banhassem seu rosto.
— Qual é sua música preferida? — Ela perguntou, repentinamente curiosa. — Do Serpens Caput, eu quero dizer.
— Hm, eu não sei. Eu tenho dois discos favoritos deles, e posso te dizer que eles são simplesmente feitos de diamante, eles são muito bons. Eu gosto de todas as músicas desses dois CDs. Então qualquer uma poderia ser considerada minha preferida.
E, de novo, ele respondia mas não respondia a pergunta. Liz decidiu ignorar daquela vez; a atmosfera já estava pesada entre os dois, não queria fazer nada para piorá-la.
— Você acha que é possível que alguém não tenha uma música preferida? — Liz pergunta novamente.
— Uma pessoa como a Agnes? Não. — Disse Luke. — Para falar a verdade, eu sei que ela tem uma música favorita.
— Ah, é? Qual?
— Não faço ideia. — Ele disse, dando de ombros. — Mas eu sei que ela tem uma. Eu ouvi ela e a amiga dela, Jessie, conversando. Jessie estava reclamando sobre como Agnes escutava a mesma música o tempo todo, às vezes várias vezes seguidas. Agnes virou para ela com um sorriso e disse: “é a minha preferida”. Ela só não quis te contar qual era. — Ele contou, olhando para Liz. — Mas não leve isso para o lado pessoal, Liza. Como ela mesma disse, você consegue saber muito sobre alguém só com a música preferida dela.
Liz franziu as sobrancelhas. — Como você sabe que ela me disse isso? — Ela perguntou. Luke parecia ter percebido o vacilo. Liz bateu no braço dele, com força. — Você estava nos espionando!
— Hey, calma os nervos, garota! — Ele riu. — Eu não pude evitar, vocês são meu mais novo OTP!
— Seu idiota! — Ela disse, prolongando a palavra ‘idiota’, para que Luke entendesse bem. Ela continuou estapeando o braço do amigo, que ria da cara dela.
— Você é o animal mais inofensivo do mundo, Liza. — Ele disse, entre risadas. — Eu consigo te levantar com um braço.
— Ok, você é forte, mas você também é um idiota. — Ela disse, parando de estapeá-lo.
— E inteligente, carismático, bonito...
— Humilde...
— Pois é. — Ele sorriu, zombeteiro.
— Vamos logo almoçar para eu ter uma folga desse seu ego gigante. — Ela revirou os olhos, se virando para sair do campus e almoçar.
— Assim você me magoa. — Ela não conseguia vê-lo, mas sabia que ele estava fazendo beiço. Era estranho como ele conseguia esquecer que estava irritado tão facilmente. Ela costumava remoer os sentimentos negativos dela até não poder mais. Luke era diferente; ele era uma pessoa um tanto.... Brilhante. Não no sentido de ser um gênio (mas, sendo honesta consigo mesma, Liz admitia que ele era bem inteligente), mas no sentido de parecer mais com um raio de sol do que como uma pessoa de verdade. Ele era uma pessoa extremamente otimista, que acreditava que as coisas iriam melhorar, mas ele parecia diferente dos outros otimistas. Ele não tentava criar um final feliz para todas as situações difíceis que ele tinha que enfrentar. Ele as encarava, tomava as decisões que achava melhor e arcava com o final, fosse ele qual fosse, e se fosse um final ruim, ele acreditava que, depois de algum tempo, as coisas melhorariam. Ele não gastava muito tempo pensando nas mancadas que ele cometeu, não guardava rancor das pessoas que o machucaram. Ele era uma pessoa de bem com a vida, sabe?
Ao mesmo tempo, ele era extremamente fechado e tinha dificuldades em confiar nas pessoas. Aquilo tornava a convivência com ele muito complicada, já que ninguém sabia o que o irritava e com o que ele estava de boa. Por isso ela o irritava tanto, por isso acabava o magoando sem nem perceber, e ela sabia disso. Ele sabia disso. Ainda assim, Luke nunca disse estar cansado de Liza, e ela era infinitamente grata por isso, porque ela também não queria acabar com a amizade dele; gostava muito de Luke, como o irmão que ela nunca teve.
Ele suspirou quando os dois se sentaram no balcão da lanchonete que costumavam frequentar. Ela ficava dentro de um beco, e era raro estar cheia, por isso os dois gostavam tanto de lá (claro, a comida também tinha grande influência naquilo). — Liza. — Ele chamou. — Minhas músicas preferidas são Janus-faced Anthem e Enigmatic Mad Man. As duas são do Serpens Caput. Não sei se são as minhas preferidas de todos os tempos, para sempre e etc., mas são as que sempre me dão um sentimento esquisito, como se alguém estivesse me observando e escrevendo músicas sobre mim. — Ele sorriu. — Mas as duas são muito confusas e estranhas, já que foram escritas pelo vocalista, Seth Del Nero.
Liz sorriu, sem saber porque. Talvez porque Luke finalmente respondia uma pergunta dela de verdade. — Mas, Liza. — Ele disse. — Eu sei que dá para saber muito de alguém pelo que ela gosta, mas isso depende da sua interpretação da música. E praticamente todas as minhas músicas preferidas exigem um alto nível de interpretação. Você pode achar que sabe demais sobre uma pessoa, quando no final não sabe nada porque você não viu a música pelo mesmo ângulo que ela. Não se esqueça disso.
Ela assentiu. — Anotado, Luke. — Ela sorriu mais abertamente. — Vou fazer o possível para ouvir a música como você ouve. Vou entender.
— Boa sorte com isso. — Ele sorriu de canto, meio triste. — Às vezes nem eu consigo entender…
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