-Eu tô muito louco - Sussurrei. A noite falava mais alto do que a minha própria voz.
-Eu nem sei aonde eu tô - Completou Sol. Deitados no gramado recém cortado, observávamos os pontos radiantes que pintavam o céu.
-Eu a... - Não fui capaz de completar a minha frase, pois me virei e percebi que as estrelas mais brilhantes estavam ao meu lado e fitavam os meus olhos.
Naquele instante, todos os meus pensamentos voaram para longe.
-O que? - Perguntou.
-Ah, nada.
Desviei o olhar rapidamente, afinal, eu tinha um propósito e um plano a seguir.
Demorei alguns segundos para colocar minha cabeça no lugar, mas estava pronto para dizer tudo o que precisava. Virei-me novamente, mas dessa vez Sol observava o céu.
-Olha, uma estrela cadente!Faz um pedido, rápido! - Disse, animada.
Observei a cena como se o tempo estivesse parando aos poucos; Sol sorrindo e refletindo em seus olhos a estrela que preenchia, lentamente, o seu caminho.
Eu queria desejar muitas coisas, tantas que nem mesmo um meteoro mágico poderia compreender. Na verdade, nem mesmo sei se eu poderia compreender o que minha cabeça queria dizer naquele momento.
A estrela cadente tracejava a noite com calma, como se esperasse o meu momento de decisão, mas por mais que eu admirasse seu gesto nobre, não conseguia ajustar em um desejo a vontade de ser feliz para sempre com a mulher ao meu lado.
Fechei os olhos na esperança de que meus pensamentos se alinhassem e, quando os abri, uma onda gelada percorreu o meu corpo.
Eu não estava mais ao lado de Sol, mas em um imenso jardim das mais diversas flores.
Corredores sem fim dos mais diversos tipos de plantas me cercavam, tão grandes que desapareciam na neblina noturna, e exalavam um perfume indescritível.
Eu me senti como um picolé de orquídeas num freezer decorado por uma avózinha.
Me esforcei para conseguir balbuciar um pedido de ajuda, mas o frio tornou isso impossível. Tremia tanto que não conseguia sequer abrir a boca.
Com dificuldade, caminhei lentamente pelo corredor de flores amarelas em que me encontrava. Era espantosa a quantidade de espécies diferentes que se emaranhavam naquele jardim.
Pensei em tocá-las, mas algo parecia muito errado naquilo tudo. Decidi seguir em frente até que uma saída aparecesse.
Aos poucos, o frio diminuía. Eu não sabia se o meu corpo estava se acostumando ou o ambiente estava ficando mais quente, e, na verdade, tudo parecia tão maluco que isso já não importava tanto. A vontade de sair daquele jardim diminuia, e um sentimento estranho de dever a cumprir preenchia a minha mente. Aparentemente, eu tinha um objetivo, mas não sabia qual. Minha memória parecia um pouco perturbada e, quanto mais eu avançava, mais esquecia de como fui parar ali.
Em mais alguns segundos de caminhada e observação, o corredor de flores amarelas parecia ter chegado ao fim. Aos lados, todos os outros pareciam ter continuações que atravessavam a minha visão. As duas fileiras formavam uma parede de flores que não me deixou seguir adiante.
Confuso, dei meia volta, e foi quando me deparei com uma flor que brilhava na distância. Não podia acreditar que eu havia passado despercebido pela espécie mais linda que eu já havia visto.
Meu coração parou por alguns segundos. De alguma forma, o meu corpo me avisava que isso era o que eu estava procurando esse tempo todo e, como se nada mais importasse, corri em sua direção.
Quando me dei por mim, estava diante da mais radiante flor. Meu coração palpitava e, mesmo sem saber o porquê, eu me sentia completo. Ela emitia um calor aconchegante que preencheu todo o meu corpo, e lágrimas começaram a cair mesmo que eu não estivesse triste.
A flor vibrava, como se estivesse em interferência. Nunca havia presenciado nada parecido. Sabia que era bela, mas não era capaz de sequer adivinhar a sua denominação. O meu corpo palpitava de emoção e a vontade de agarrá-la era a única coisa que percorria os meus pensamentos. Lágrimas caminhavam pelo meu rosto, o calor alcançava as minhas mãos que estavam prestes a agirem por conta própria. E foi aí que eu olhei para o céu.
Havia uma estrela cadente que, lentamente, preenchia o seu caminho. A minha memória voltou com um baque, enquanto eu caía rumo ao chão.
- A flor é um...
Uma onda gelada cobriu o meu corpo, fechei meus olhos e os abri. Estava deitado em um gramado recém cortado, observando no céu estrelado um traço de luz que denunciava o caminho de uma estrela cadente, já não mais presente.
- E aí, o que você desejou? - Sussurrou Girassol.
- Desejei que essa noite nunca acabasse. - Completei, limpando as lágrimas nos olhos.
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