No inicio do inverno, um miúdo muito estranho decidiu fazer um boneco de neve no topo de uma colina. A colina era a maior colina da região, e de cima desta conseguia-se ver todas as vastas planícies onduladas que a circulavam. quando acabou de fazer o boneco de neve abandonou-o e voltou para casa.
Mais ninguém subia àquela colina. Mais nenhum boneco de neve foi feito lá em cima. O Boneco de Neve estava sozinho. Estava sozinho, mas com a visão de planícies brancas e prateadas para o consolar. Estava só, mas a beleza daquela região ondulada, salpicada com casas e àrvores grandes e pequenas, vista do cimo da colina, fazia-o esquecer a sua solidão.
Quando a noite chegava, as luzes das casas ligavam-se, junto das luzes de natal, e formavam um espetáculo de luzes e sombras. Luzes brancas, amarelas, vermelhas, verdes, azuis. Era magnifico, mas não se comparava ao preciso momento em que o sol nascia. Momento em que os primeiros raios de sol reluziam por entre a geada. Com as arvores a abanar ao vento e os pássaros a acordar, com o seu suave chilrear.
Era o único amigo do Boneco de Neve, o Raios de Sol. Talvez por pena. Talvez porque apenas Boneco de Neve dava valor à sua beleza, num mundo onde as pessoas ligam menos ao que as rodeia.
Não falavam um com o outro, mas estavam ligados.
Era assim todos os dias. O Boneco de Neve desfrutava do seu espetáculo noturno, mas esperava ansiosamente pelo nascer do sol, porque a mundo fica muito mais belo quando o vemos com um amigo.
No entanto, a meio do inverno, o rapaz voltou. Olhou para o Boneco de Neve e apercebeu-se da sua amizade com o Raios de Sol. Talvez por inveja ou talvez para avisar o seu boneco de neve, o rapaz disse:
"Cuidado com o Raios de Sol. Ele pode parecer teu amigo, mas no fim isso não vai importar. Ele vai continuar a sua vida. Vai aquecer. Aquecer até tu não aguentares. Tu vais derreter e ele não se vai importar. Ele vai continuar a sua vida como antes, como se tu nunca tivesses existido..."
Depois disso o rapaz virou-se e foi-se embora.
O Boneco de Neve não acreditou no rapaz. Ou pelo menos, não quis acreditar. No entanto, ignorou as suas dúvidas e receios e continuou a sua vida, como se nunca tivesse ouvido aquele aviso.
O Boneco de Neve foi feliz, observando o mundo que o rodeava, com o seu amigo. No entanto, os dias estava cada vez mais quentes. O Boneco de Neve sentia que era o Raios de Sol que estava a ficar cada vez mais quente. Foi nesse momento que se lembrou do aviso do rapaz.
Apressou-se a perguntar ao Raios de Sol se era verdade. Se a amizade deles não significava nada para ele. Apressou-se a pedir ao Raios de Sol que não aquecesse mais. Mas o Raios de Sol não respondia. Não mostrava interesse. Apenas aquecia.
E o Boneco de Neve derreteu.
Derreteu a saber que nunca tinha tido alguém.
No entanto, quando os flocos de neve do boneco de neve se transformaram em agua e ele escorreu colina abaixo, pode ver de perto as maravilhas que sempre tinha visto ao longe. Escorreu para um rio e viu as suas margens. Fluiu para o mar e viu as gaivotas, os peixes, as baleias e os corais. Vagueou pelo mundo, debaixo de água.
Depois as suas gotas de agua evaporaram-se e ele elevou-se no ar. Viu planícies, montanhas e planaltos. Florestas, savanas e a tundra. Viu cidades, vilas e aldeias. Viu a sua colina, rodeada de outras colinas mais pequenas.
Então entendeu: o Raios de Sol sempre fora seu amigo. Derretera-o e evaporara-o para ele poder ver o mundo. Podia não falar com o Boneco de Neve, mas fazia tudo para ele ser feliz.
Na amizade não são precisas palavras, porque sabemos sempre os verdadeiros amigos nos vão sempre ajudar.
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