O Arsenal era imenso.
As paredes eram feitas de pedra, assim como o chão. O local era bem iluminado, com inúmeras janelas adornadas enfeitando o local.
O lugar era largo, amplo. Haviam diversos pequenos "ringues" espalhados pelo local, protegidos cada um por uma barreira mágica visível.
As armas pareciam ser separadas por tipo. Os machados, por exemplo, ficavam entre os martelos e as lanças. As armas de mesmo tipo, por sua vez, eram separadas da maior, que ficava mais no topo, para a menor, que ficava mais próximo ao chão.
Haviam diferentes tipos de armas penduradas nas paredes, do chão até o teto, que parecia exageradamente distante. Como eles pegavam as armas que estavam no topo? Será que haviam faeries no recinto, que flutuavam até o alto para trazer-lhe machados e lanças? Não eram anões que fabricavam as armas? Será que eles as armazenavam, também?
Muitas perguntas inundaram a mente de Eugene, que levou uma de suas mãos ao queixo, coçando-o distraído enquanto criava hipóteses sobre o tamanho do local e o transporte das armas, sem notar que Lazuli já estava andando até um dos cantos da sala, em direção a um livro de páginas amareladas.
― Você não deveria ficar parado na entrada, novato. ― Uma voz feminina o despertou abruptamente. Assustado, ele se virou rapidamente para ver quem era, perdendo o equilíbrio.
Sentiu seu corpo pendendo para trás, mas um puxão em sua blusa verde impediu que ele caísse.
Duas pessoas o encaravam da porta, a mão de uma delas ainda segurando-o. Ele as reconhecia da reunião algumas semanas atrás. Leilani, a ponte dos magos, e Aeris a ponte dos Kitsune.
Leilani o soltou, dando-lhe um sorriso largo. Ela era a mais nova das pontes, tendo apenas quinze anos, mas tinha mais músculos que Eugene, em seus dezessete. Ele coçou a nuca, sorrindo timidamente para ela, que riu.
― Você é sempre assim, novato? ― Ela perguntou. ― Não precisa ficar tão nervoso assim, a gente não morde!
Aeris riu, assentindo. ― Tudo bem com você, Eugene? ― Ela perguntou.
Ele assentiu, tentando olhar para qualquer coisa que não fossem as duas. ― Sim! ― Ele disse, um pouco alto demais. ― Uh… Por que estão aqui? Não que não devam estar, vocês são pontes, é normal estarem em lugares assim. Uh…
Aeris colocou uma de suas mãos nos ombros dele, sorrindo gentilmente. ― Respira, Eugene. ― Ela disse, tentando acalmá-lo. Seus olhos castanhos o encaravam com uma certa preocupação.
Ele obedeceu, enquanto Leilani o respondia. ― Viemos treinar. ― Disse. ― Não temos muita chance de ir uma contra a outra, já que nossos horários não costumam bater. Vida real, fuso-horário, sabe como é.
― Sim. ― Aeris confirmou. ― Honestamente, eu já estava ficando cansada de treinar com o Dallon. ― Ela riu. ― Sabe como é, não é, Leilani?
― Ah, sim! ― A mais nova riu, e Eugene não pôde evitar encará-las. ― Sempre a mesma coisa! Por cima, por cima, rasteira! Evasão, ataque, golpe sujo! Aí ele fica todo distraído e não nota quando você o derruba. Tão previsível.
― Eu acho que ele pega leve com a gente. ― Aeris diz, rindo. ― Você já viu ele lutando pra valer? Totalmente diferente.
Leilani assentiu. ― É um saco. ― Então, se virou para Eugene. ― Ele luta de verdade com você ou ele também te acha frágil demais para a força máscula dele?
Eugene mordiscou os lábios, coçando a nuca. ― Não lutamos. ― Ele disse. ― Pra falar a verdade, a última vez que eu vi Dallon foi na última reunião do Conselho.
Leilani e Aeris franziram o cenho, se entreolhando. ― Mas… vocês não vão para a mesma escola? ― A mais nova perguntou.
Eugene balançou a cabeça. ― Ele voltou para a Colômbia. ― Disse, evitando os olhos negros e questionadores de Leilani. Assim que cumprira seu dever, deixando Eugene aos cuidados de Lazuli, Dallon voltou para seu país de origem, sem dar muitas satisfações para o loiro. Agora, era como se eles nunca houvessem sido mais do que estranhos, como se os anos compartilhados não fossem nada além de memórias desnecessárias para o moreno. ― Não nos falamos mais. Afinal, ele não quer mais nada comigo.
Aeris abriu a boca, mas a voz distante de Lazuli interrompeu a conversa das Pontes.
― Eugene, venha aqui. ― Chamara, e Eugene lançou um olhar para as duas, um pedido silencioso de licença, e foi em direção ao Dracae, grato que a conversa acabara.
― O que você tá fazendo? ― Ele perguntou.
― Tentando encontrar uma arma para você. ― Disse, cruzando os braços. As duas garotas se aproximaram rapidamente, querendo participar da conversa.
― Mas você não disse que eu tenho que merecer uma arma?
― É só uma arma temporária. Todos têm que começar em algum lugar, Eugene. ― Disse Lazuli, sem erguer os olhos para o garoto.
― Eu acho que ele se parece com um espadachim. Que tal uma rapieira? ― Leilani sugeriu.
― Eugene não é tão confiante em combate próximo. ― Disse Lazuli. ― Sem contar que ele precisaria de mais força nos braços.
― Eu nem estou aqui. ― Ele murmurou, arrancando uma risada de Aeris.
― Um arco, então? ― Ela sugeriu. Lazuli encarou o livro, folheando as páginas.
O Dracae passou seu polegar por algumas palavras. Seus dedos brilhavam com a mesma luz de antes, e logo as letras ali escritas seguiram a deixa, brilhando no mesmo tom.
― É possível, sim. ― Laz disse, distraidamente. ― É preciso ser útil de alguma forma… De qualquer maneira, teremos que trabalhar combate próximo, algum dia.
Eugene franziu o cenho, tentando não se ofender com a parte “útil de alguma forma”, mas era complicado. Parecia que o Dracae não tinha senso algum sobre como conversar com as pessoas. Suspirou.
― Quais são as suas armas? ― Perguntou para as duas garotas.
Os olhos de Leilani brilharam. ― Eu tenho um machado. ― Ela disse, abrindo um sorriso. ― Quer ver?
Eugene sentiu um certo entusiasmo brotando em seu peito, assentindo agressivamente.
Leilani se afastou dos outros, subindo em uma pequena elevação do arsenal, algo como um ringue.
Ela ergueu uma de suas mãos, e seus olhos foram tomados por uma luz branca, a mesma que serpenteava entre seus dedos como se fossem pequenas ondas de eletricidade produzidas por ela mesma. Não demorou um segundo para que um grande machado ocupasse sua mão erguida. Um som ecoou pelo arsenal, como um trovão em uma noite tempestuosa.
(Um estrondo que assustou Eugene um pouco, honestamente.)
Leilani sorriu de orelha a orelha, abaixando sua mão como se aquela arma não pesasse nada. Seus olhos se voltaram para Eugene, como se ela pedisse uma opinião sobre seu pequeno show.
― Isso acontece todas as vezes que você… sei lá, invoca sua arma?
Aeris riu ao seu lado. ― Digamos que a Leilani só goste muito de dramatização.
― Hey, se eu tenho a oportunidade de parecer uma deusa, eu aceito de bom grado. ― Leilani disse, girando o machado no ar. A arma parecia desaparecer, mas Eugene observou a nova pulseira que a garota usava. Um pequeno pingente, que se assemelhava muito a um machado, balançava do bracelete.
― E você, Aeris? ― Ele se virou para a outra.
A loira sorriu, seguindo o exemplo de Leilani e subindo no ringue, mas fazendo muito menos teatro. Colocou uma mão por cima da outra, afastando-as rapidamente, mostrando dois chicotes longos e metálicos.
― Eles viram espadas. ― Ela disse, girando seus pulsos. Confirmando suas palavras, os dois chicotes pareciam solidificar seus espinhos. As duas armas permaneciam retas, formando duas espadas serradas em cada uma das mãos de Aeris.
Os olhos de Eugene definitivamente brilharam naquele momento. Ele sentiu a infantil necessidade de dar alguns pulinhos de animação. Virou-se para Lazuli, um sorriso em seu rosto.
― Eu posso ter uma arma legal assim? ― Ele perguntou, tendo a certeza que parecia uma criança em uma loja de doces.
― Aquelas são armas de curto alcance. ― Laz disse, sem olhar para Eugene. Na verdade, o Dracae olhava para o alto. ― Na minha opinião, armas como o arco e flecha não são tão legais quanto espadas ou machados.
Eugene parou de sorrir. É claro que ele não seria tão legal quanto aquelas pessoas; ele não pertencia àquele lugar, não importa o que os Dracae dissessem.
Desde que tudo aquilo começara, Eugene sabia que não fazia parte daquele lugar. Vendo Leilani e Aeris, suas armas, a familiaridade que tinham uma com a outra, com as outras pontes, só o dava mais certeza ainda.
Lazuli suspirou ao seu lado, talvez percebendo a expressão angustiada do garoto. Tinha de aprender a prestar atenção no que dizia ao redor de Eugene, que interpretava mal até uma respiração mais profunda, ou um tom diferente. Sempre pensava que fizera algo de errado, e Lazuli ainda não havia se acostumado com aquilo.
― Vamos fazer o seguinte, Eugene. ― Disse Lazuli. ― Quando você estiver mais forte, você pode escolher sua própria arma. Só não abandone o arco e flecha completamente. Por mais que não seja uma arma “legal”, é extremamente necessária. Pode vir a calhar em tempos difíceis.
Ele assentiu, ainda desanimado com suas palavras anteriores, mas ligeiramente mais contente com a promessa.
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