Eugene sentia dor em músculos que ele nem sabia que existiam. O garoto praticamente se arrastava de volta para a estufa, suas pernas dormentes e gritando de dor ao mesmo tempo, um paradoxo desagradável que Eugene queria ignorar, mas não podia.
Jogou-se na única cadeira do local, descansando sua cabeça na mesa cheia de livros à sua frente, a testa suada colada na madeira fria.
Leilani e Aeris não ficaram por muito tempo. Disseram que era melhor deixar Laz e Eugene descobrindo a melhor arma para o garoto sozinhos, e que o treinamento das duas só os atrapalharia.
O Dracae não fora gentil com ele, de maneira nenhuma. Laz lhe ensinara como ficar em pé propriamente, a postura necessária e o movimento para atirar uma flecha; tudo isso sem um arco.
Eugene se sentia como um idiota, parado no meio do arsenal com Aeris e Leilani os encarando, ele parado em uma posição idiota. Lazuli soltava insultos disfarçados de conselhos, e ele não sabia como se sentir sob seu olhar escrutinante.
No final, ela lhe jogara um arco longo, verde metálico, com runas azuis encravadas no mesmo. Ele tinha de admitir que era um belo arco, por mais que ele ainda acreditasse, fervorosamente, que era a arma mais brochante que existia.
― Não é uma rapieira. Agradeça por isso. ― Disse o Dracae.
Ergueu a cabeça, lançando um olhar para as margaridas perto da porta. Ele achava que ser parte de uma sociedade mágica secreta já era estressante o suficiente, mas havia muito mais que ele tinha que aprender: história, política, magia, combate… Todos aqueles eram os seus deveres oficiais como Ponte, que era como uma espécie de embaixador humano num mundo de seres fantásticos.
Ele já conseguia se ver cansado de todas aquelas coisas, mesmo sem ter tido aulas de magia propriamente ditas ou sem ter que comparecer a eventos oficiais do Conselho, ainda. Como se tudo aquilo não bastasse, ele ainda tinha que resolver os problemas que seu tio deixara para trás ao morrer, e só de pensar naquilo, sua ansiedade já lhe atacava...
Massageou suas têmporas, sentindo a ansiedade carcomer o fundo de sua mente. Ele não tinha a força psicológica para aguentar aquela história toda.
Seu celular vibrou em cima da mesa, chamando-lhe a atenção. A notificação de que ele fora adicionado em um novo grupo preenchia sua tela.
Pontum Chat, era o nome. Ele desbloqueou o aparelho, sendo cumprimentado por várias mensagens de Leilani e Aeris.
Sorriu para si mesmo. Aquelas duas eram boas pessoas. Ele estava preocupado que as outras pontes seriam frias, ou talvez hostis, mas ele dera uma grande sorte com aquelas duas.
Além de Leilani s Aeris, haviam outras duas Pontes, Tristan e Dallon. Eugene não tinha muitas opiniões sobre Tristan, já que ele era uma pessoa extremamente quieta e parecia preferir ficar em seu canto. Ele entendia o sentimento. Se pudesse, seria ainda mais introvertido que o homem, mas ele não tinha esse tipo de privilégio.
Tristan era a ponte dos lobisomens, e sempre que Eugene o via, ele estava junto do Representante da raça, Nikolai Volkov.
Mesmo nunca tendo conversado com o lobisomem, Eugene poderia dizer que o conhecia, um pouco. Lazuli não poupara detalhes sobre os outros representantes. O Dracae dissera que todos eram seus amigos, salvo por Arkiel, o representante dos ghouls.
Uma nova mensagem chegou no grupo. Tristan o dava as boas vindas, e Eugene sorriu. Pelo menos não teria problemas nenhum com seus colegas. Honestamente, não teria maturidade mental o suficiente para lidar com aquilo no topo da carta misteriosa.
Suspirou, esfregando o rosto. Já estava ficando tarde e ele tinha de voltar para casa.
Levantou da mesa, chegando na porta da estufa com passos longos. Tirou o envelope amarelado sob as margaridas, escondendo-o em sua calça.
Mesmo longe de si, Dallon ainda lhe dava dores de cabeça. Se pudesse, Eugene voltaria no tempo e recusaria a carta, mandaria Dallon tomar no cu e o ignoraria para o resto de sua vida.
Merda.
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