Nenhuma porta, mais uma bifurcação.
Aeris parou no meio do caminho, massageando suas têmporas. Queria quebrar alguma coisa, preferivelmente a cara de alguém. ― Isso tudo é sua culpa, Kazuo. ― Ela murmurou para si mesma, virando a direita.
Os caminhos tortuosamente escuros e desertos permaneceram irritando Aeris por mais algum tempo, e ela já cogitava quebrar uma parede para encontrar uma saída. Ela não conhecia o Templo Espiritual, não fazia a menor ideia de qual era seu tamanho, nem onde exatamente ela estava. Da próxima vez que visse Arkiel, ela lhe daria um bom soco no estômago.
Suspirou ao chegar a uma encruzilhada. Pelo menos sabia que não estava andando em círculos, agora. Quatro corredores a rodeavam; cinco, se contarmos com aquele do qual ela acabara de sair. ― Qual seria minha melhor opção? Corredor escuro número um, corredor escuro número dois, corredor escu… ― Ela parou, percebendo que o corredor número três era levemente mais iluminado que os outros. ― É isso. Corredor levemente iluminado número um, o primeiro há meia hora.
Seguiu, decidida, para aquele corredor, e conseguia ver a luz ao longe. Se a morte fosse um monte de corredores escuros, Aeris pensou, ela definitivamente iria para a luz, independentemente dos conselhos dos vivos.
Chegou a correr em direção da luz dourada, provavelmente vindo de uma janela ou varanda. Euforia preenchia seu peito, como se ela fosse uma criança em um parque de diversões. Por um momento chegara a pensar que morreria naqueles corredores, e seria a morte mais brochante de uma ponte, ever.
Como ela contaria aquilo para seu sucessor? Eu sei que todas as outras pontes morreram em batalha, mas eu morri foi de desidratação, mesmo. Me perdi no Templo Espiritual. Use um mapa, criança.? Não, aquilo era humilhante, mas não importava mais, agora.
Respirou o ar fresco vindo da pequena varanda. Era fim de tarde em Terra Pax, o que significava que o Sol já dava lugar para as luas no horizonte. O céu estava colorido de laranja, vermelho, roxo e azul. Cada camada de cor mesclava-se à outra, e Aeris quis, desesperadamente, ter seu telefone consigo. Simplesmente amava o céu de Terra Pax, tanto por suas múltiplas luas quanto pela paisagem abaixo de si.
Sua arquitetura era moderna, mas ao mesmo tempo parecia vir de um conto de fadas. Tudo era colorido, não-convencional, um caos organizado. Aeris moraria ali, se não tivesse uma vida no mundo humano. O ar era puro, o lugar era lindo, ela já até tinha uma casa (embora fosse grande demais para seu gosto).
― Aeris? ― Ela foi surpreendida por uma voz familiar atrás de si. ― O que você está fazendo aqui?
Um garoto de cabelos escuros e olhos azuis, pele morena e expressão de quem chupou limão azedo a encarava. ― Oi pra você também, Dallon. ― Ela disse. ― Eu me perdi, e eu acho que vocês deveriam mudar a decoração do lugar. Colocar umas janelas, sabe? Vitamina D é importante.
― Eu gosto assim. ― Ele deu de ombros. ― A Colômbia é muito quente e ensolarada, não combina muito comigo.
― Hm… ― Aeris disse. ― Você gostava mais da Inglaterra?
Ela conseguia ver como o garoto tensionara, como se surpreendera com o comentário e como queria sair dali o mais rápido possível. Ela também conseguia ver como ele sabia que ela não o deixaria escapar.
― Eugene sente a sua falta. ― Ela disse.
― Ele disse isso?
― Não precisa. É visível, principalmente quando o assunto é você. ― Ela cruzou os braços, se apoiando nas barras metálicas da varanda.
Dallon trocou o peso de uma perna para a outra, afundando suas mãos em seus bolsos. ― Eu não tenho nada a ver com isso. Ele não deveria ter se apegado. ― Ele disse, a voz baixa.
Aeris ergueu as sobrancelhas. ― Não deveria ter se apegado? Jura? ― Ela riu sem humor. ― Realmente, ele não deveria ter se apegado ao melhor amigo. Que tipo de pessoa ele é, não é mesmo?
Dallon desviou o olhar, encarando o nada. ― Você está se escutando? O que deu em você? ― Ela perguntou.
Finalmente, ele a encarou, e quebrava o coração de Aeris ver que seus olhos se assemelhavam tanto aos de Arkiel naquela pintura solitária. ― Não te diz respeito. ― Ele disse, virando as costas. ― Você pode usar o portal do meu quarto. Volte pra encruzilhada e entre no corredor à esquerda deste. ― E com essas palavras, ele foi embora, desaparecendo em um outro corredor mais estreito, que ela não havia notado antes. Sentiu-se tentada a seguí-lo, mas era melhor ir embora.
Adolescentes precisavam de espaço em momentos como esse. Pelo menos, ela precisava, na idade dele.
Suspirou, virando-se para a paisagem de Terra Pax mais uma vez. Poderia ir para o quarto de Dallon depois. A caminhada realmente teve alguma utilidade, afinal. Aquela vista do entardecer era o suficiente para acalmá-la.
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