Eugene perdeu a conta de quantas pessoas estavam ao redor da piscina para ajudar a tirar Dallon da água. Natalie logo apareceu, pronta para fazer massagem cardíaca em Dallon, mas ele não parecia ter engolido muita água.
Logo ele estava sentado, tossindo seus pulmões para fora. O suspiro coletivo de alívio da família foi algo que parecia ensaiado, mas Eugene tinha certeza de que eles só se importavam muito com o garoto. Ou porque eles tinham medo de que seus filhos se tornassem a próxima Ponte. Quem sabe, não é.
Dallon estremecia. Havia começado a ventar e parecia que vinha chuva, o que não era algo incomum na Inglaterra. Rosa urgiu que os dois fossem para dentro, e que Eugene poderia usar algumas roupas de DallonEugene suspirou enquanto os dois subiam as escadas. ― Ah, eu sou uma pessoa muito boa.
― Obrigado por não me odiar o suficiente para me deixar morrer.
― De nada.
Os dois subiram as escadas para descansarem no quarto de Dallon.
Quando os dois fecharam a porta do quarto, Eugene pegou logo algumas roupas de Dallon e saiu correndo para o banheiro acoplado ao quarto. Antes que Dallon falasse qualquer coisa, Eugene queria tomar um banho e se esquentar, que se dane se Dallon passasse um pouco de frio.
― Você vai me escutar agora? ― Dallon perguntou, sentando-se em sua cama.
― Você vai ligar se eu falar que não?
― Não.
― Foi o que pensei.
Eugene sentou-se na poltrona ao lado da janela do quarto e olhou para fora, observando a chuva que já caía forte contra a janela. Ele nunca soube como é ter uma festa do aniversário arruinada pela chuva, porque nascera durante o inverno. Seus aniversários sempre estavam relacionados a coisas quentes que se pode fazer dentro de casa ou dentro de algum edifício, como ir ver um filme, ir jogar hóquei, ir patinar no gelo, essas coisas.
Dallon estava presente na maioria dessas coisas. Que raiva.
― Eu também recebi uma carta de seu tio. Ela me pedia para tomar conta de você e manter os olhos abertos. ― Dallon o despertou de seus pensamentos. Levantou-se e abriu uma gaveta de sua escrivaninha, sentando-se na poltrona à frente de Eugene logo depois. Estendeu-lhe um pedaço amarelado de papel, semelhante ao que o loiro havia recebido. ― A sua carta também te diz para não confiar em ninguém?
Eugene assentiu, tomando a folha. As palavras de Henry pareciam ainda mais urgentes do que as da carta de Eugene, como se o tempo dele estivesse acabando.
― Assim que descobrimos que ele tinha morrido, fomos à sala dele em Terra Pax. A escrivaninha dele estava completamente revirada, tudo o que poderia ser importante não estava lá. Se me lembro bem, seu tio tinha dois diários em que ele guardava sabe-se lá o quê.
― Minha carta fala sobre isso. Os diários estão guardados na casa dele. Parece até que ele sabia quando ia morrer, e planejou tudo.
― É. Sabe-se lá com o que ele se meteu, ou com quem, mas o ponto é que ele achava que tinha um traidor no Conselho. Mais especificamente…
― Um dos representantes. É, eu sei. Isso tem levado a minha ansiedade nas alturas, tenha certeza disso.
― Eu sinto muito por não poder estar lá, mas se tem um traidor no conselho, eu acho que é melhor se ficarmos separados. Eu e seu tio éramos próximos, conversávamos bastante um com o outro. Se essa pessoa queria algo que o seu tio tinha, então é melhor se ficarmos afastados. ― Disse Dallon.
Eugene ergueu os olhos para o moreno, incrédulo. ― Eu não acredito, é por isso que você agiu como um babaca comigo? Você me fez passar pelo inferno de perder o meu melhor amigo porque você “queria me proteger”? Vai tomar no cu, Dallon, é isso que você tem que fazer. ― Disse o garoto, com raiva. ― Para sua informação, essa decisão não cabe a você. Outra coisa, você poderia ter me dado um aviso!
― Você é péssimo em mentir.
― Bem, a minha vida está em risco, eu acho que eu daria um jeito. ― Ele disse, sarcástico. ― Além do mais, o que mudou? De antes para agora, o que mudou?
Dallon ficou calado, o que enfureceu Eugene. ― Exatamente: nada. Você queria só alimentar o seu ego e a sua fantasia de herói que salva o melhor amigo idiota e fraco que não sabe se defender sozinho. Você é um idiota.
― Já acabou?
― Não! Pode apostar sua bunda que eu não acabei. ― Eugene gritou. ― Você nunca mostra como você está se sentindo, você tem noção do quanto isso é irritante? Eu abro o meu coração para você e jogo todas as minhas tristezas para fora e você me faz sentir como um péssimo amigo porque você nunca faz o mesmo. Você não confia em mim, é isso? Você acha que eu sou problemático demais para você jogar os seus problemas em mim? Adivinha só, seu panaca, cuzão, eu quero os seus problemas para mim, seu idiota. É assim que uma amizade funciona!
Eugene estava ofegante, e Dallon o encarava com a boca aberta. ― Eu não sabia que você se sentia assim.
― É, eu me sinto assim. Você me irritou tanto que eu falei, feliz?
― Estou, na verdade. Um pouco triste também.
Eugene encarou o outro, sentindo seus olhos lacrimejarem. Puta que pariu, que cara irritante.
― Eu estou feliz que você tenha me dito onde eu preciso melhorar. ― Dallon continuou. ― Eu estou feliz que você tenha finalmente conseguido dizer o que você pensa, mesmo que você tenha acabado com os meus tímpanos nesse processo. Mas eu estou triste por fazer você se sentir assim e te colocar nesse sofrimento, eu… eu não, sério. Não era minha intenção.
― De boas intenções o inferno está cheio. ― Eugene disse, dando uma volta pelo quarto. ― Não adianta nada se você tomar as decisões sozinho, seu babaca. Eu não leio mentes ainda.
― Eu também não, então você podia me dizer mais sobre o que te irrita em mim para que eu possa melhorar.
― Só se você prometer nunca me dizer o que te irrita em mim.
Dallon soltou uma risada. ― Por enquanto, eu posso prometer isso.
Ele ergueu o dedinho para Eugene, com uma cara de expectativa. Eugene bufou e se aproximou, juntando seu dedo mínimo com o de Dallon.
― Estou perdoado?
― Não, você está no gelo fino. Mais uma pisada de bola e eu te espanco.
Dallon riu mais uma vez, dessa vez deixando algumas lágrimas caírem. ― Acredite. ― Ele disse, enxugando-as. ― Tem sido difícil para mim, também.
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