Passei os próximos 2 dias em casa, inventei uma gripe qualquer e não saí da cama. Passei a maior parte do tempo pensando no que eu tinha aprendido, no que eu já vi e no que eu iria fazer agora que eu compreendia por inteiro a situação. Afinal, o que eu poderia fazer? Ou melhor, o que eu esperava fazer? Tentei esquecer isso, por enquanto. No terceiro dia, criei coragem e levantei daquela cama, lavei meu rosto e me troquei. Não ia deixar aquilo me consumir, eu tinha de ser forte. Quando cheguei na escola, Natália logo me avistou e veio correndo em minha direção. Estava brava e preocupada, eu devia uma explicação a ela, mas nunca acreditaria em mim.
- Como você está? Vai me dizer o que aconteceu?
- Não aconteceu nada, eu estou bem. - Eu disse com sinceridade.
Estava prestes a questionar, quando Vinícius apareceu por detrás e quase a derrubou. Os dois estavam livres de flores. Sorri.
- Ah, aí está ela!- Vini logo notou meu simples sorriso e veio logo em minha direção- Não precisamos mais nos preocupar, ela já voltou ao normal!
Ele se apoiou em mim com um braço, tentando nos tirar de um clima tenso. Podia ser meio idiota, mas era um bom amigo, era bom pra mim. Natália não se mostrou muito convencida, deu um longo suspiro e apontou o indicador em nossa direção enquanto se distanciava.
- Hoje vou sair com a Letícia, então não me venham aprontar nada! Estou de olho, ouviram?
Concordamos com a cabeça e fizemos um aceno exagerado com as mãos, fazendo graça. Rimos muito. Combinei de tomar um café com Vinícius depois de passar na biblioteca, ainda queria pesquisar algumas coisas. Me senti mais leve, tentando apreciar as flores que eu encontrava na confusão dos corredores. Cada uma com sua beleza, mas eu já não sentia o mesmo perfume de antes. Tudo mudou. Passei a tarde lendo mais livros, mas não achei nada de relevante. Conversei com Vini e evitei o assunto ao máximo. Percebi que ele também se esforçava pra isso, o que me alegrou. Fazia frio, então voltamos cedo pra nossas casas. Cumpri minha rotina normalmente e sem preocupações, sem imaginar que minhas alegres pétalas logo murchariam, sem acreditar que eu teria pouco tempo para algo que parecia demorar uma eternidade.
Depois de jantar, me joguei na cama e alcancei um livro da cabeceira. Fiquei apenas ali, lendo pacientemente, não prestando atenção em mais nada. Era apenas outra tentativa de acalmar minha mente. Mas então aconteceu. O que eu nunca tinha visto, nunca esperava ver. Ao levar minha mão para virar a página, notei algo de estranho nela. Virei o braço, e dele pude ver pequenos lírios surgindo rapidamente. Em questão de minutos, meus pulsos estavam cobertos de flores. Aquilo não podia estar acontecendo, eu estava vendo coisas! Encarei horrorizada aquela bela visão, eu tremia muito e sentia o ar se perder de meus pulmões. Não havia outra explicação, e isso fazia meu coração doer tanto. A pessoa a qual eu estava destinada, minha própria alma-gêmea, aquela que eu não tenho ideia de quem seja, nem posso confirmar que já a conheço, estava se cortando momentos atrás. Sem perceber, lágrimas desciam pelo meu rosto, seu gosto amargo penetrava em minha boca. Estava paralisada, sem reação. Tudo o que eu podia fazer era ficar na minha cama, sentada, molhando as flores que saíam dos meus próprios braços. Até que senti minha visão clarear. Não, eu não podia ficar ali parada enquanto isso acontecia. Eu não iria permitir. Meu coração não aceitaria que isso se repetisse, ou que piorasse. O pensamento de algo pior me fez revirar o estômago. A determinação corria por minhas veias, eu encontrei um outro objetivo. Nem que eu tivesse que vasculhar o mundo todo, eu o encontraria e o salvaria. Sequei minhas lágrimas, não eram essas as flores que eu desejava cultivar; eu só precisava encontrar o meu jardim.
Comments (0)
See all