Toquei a campainha. Era um sábado e eu tinha combinado de passar o dia com Natália. Ouvi barulho vindo de dentro da casa e esperei. Logo ela me atendeu e me convidou a entrar, fechando a porta por detrás. Ela usava uma camiseta e uma bermuda, muito leve pro frio que fazia. Estava mais afobada que o normal e seu cabelo de mechas azuis estava completamente emaranhado. Cumprimentei ela com delicadeza, mas ela me interrompeu e nos levou até seu quarto, com pressa. Singelas violetas cresciam de seu pescoço, como se desejassem crescer mas não conseguiam. Nat fechou a porta com força, me colocou sentada na cama e se aproximou mais do que o limite confortável, seus olhos azuis me criticavam freneticamente.
- Pode falar.
Tentei me afastar e mostrar compostura mas o timbre da minha voz me traía.
- Falar o quê? Do que você tá falando?- me encontrei encarando as violetas novamente, e num impulso, perguntei- E como tá a Letícia? Ela tá bem?
Nat abaixou a cabeça e sua expressão desanimou. Meu coração batia rápido, o medo e a ansiedade percorriam meus nervos.
- Até que tá sim... Saí com ela outro dia mas não conseguimos aproveitar muito, ela está com uma gripe feia, a garganta está péssima.
Suspirei de alívio e senti meu corpo relaxar.
- Mas por que pergunta?
Eu não tinha certeza de como responder. Se eu contasse a verdade, não sabia se acreditaria em mim. Mas mentir e continuar inventando desculpas a ela não parecia certo. Eu não conseguiria esconder por muito tempo, e eu precisava da ajuda dela. Resolvi responder a pergunta com outra e depois então explicaria tudo.
- Nat, você acredita em destino?
Ela não gostou de eu ter mudado de assunto, mas sentou-se do meu lado e segurou o queixo, parecia bem séria quanto à pergunta.
- Acho que pode-se dizer que sim. Acredito que algumas coisas são destinadas a acontecer, mas nem tudo. Algumas coisas nós temos que conseguir por nós mesmos.
Escutei as palavras dela com atenção. Era tão diferente da opinião de Vini, incrível existirem pessoas tão diferentes. Mas os dois pensamentos eram válidos.
- Mas por que pergunta? Assim, do nada?
- Ah, bem...- Levei um susto com a pergunta. Será que eu explicava a ela?
Antes que eu pudesse pensar em outra coisa, escutamos um barulho vindo da janela e fomos checar a origem dele. Nat mal a abriu e logo a fechou novamente, bufando.
- Ei!- Vini abriu a janela e pulou o peitoril, se sentindo ofendido.- Vim fazer uma visita e é assim que me tratam? Bonito, hein.
- Acontece que hoje era pra ser nosso dia- ela voltou a se sentar na cama e abraçou um travesseiro, emburrada.
- Você não tinha jogo hoje?- perguntei, me divertindo com a situação.
Ele logo se sentiu à vontade e se jogou na cama, ocupando metade dela.
- Foi adiado, o Felipe torceu o pé e estamos sem substitutos.
Voltei a me sentar com Nat e me senti em paz ali. Realmente queria esquecer o negócio com as flores mas os pequenos lírios nos meus pulsos me perseguiam. E minha amiga já estava ficando impaciente e queria saber o que estava acontecendo.
- Aproveita que já estamos reunidos e conta logo o que deu em você esses dias.- Ela me encarava seriamente.
Então eu fiz uma péssima decisão. Menti. Contei que estava muito abalada com as provas e escutei a história da Josi e não me aguentei. Disse que a gripe foi real e eu estava desnorteada com a pressão que eu estava recebendo dos meus pais. De que adianta eu contar a verdade? Eu não saberia se eles acreditariam ou como reagiriam e eu tinha de resolver aquilo sozinha. Eles pareciam preocupados, mas engoliram a história. Vini se sentou e me deu um abraço forte.
- Não esconda essas coisas. Nós estamos aqui pra você e quando você precisar chorar meu ombro vai estar sempre livre.
Nat se juntou ao abraço e concordou com ele, reforçando:
- Você não está sozinha, não aguente tudo fingindo que está.
Acenei com a cabeça, fazia tempo que eu não me sentia tão tranquila. O perfume das violetas já não me incomodava mais, eu estava bem.
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