-Felicidade não é uma opção quando se pensa demais.
-Então a solução seria não pensar em nada?
-E como raios não se pensa em nada?
-Segura. -Sol estendeu a mão para mim. -Não vai doer.
Agarrei sua mão e fui puxado pra cima com toda a força que uma pré-adolescente de baixa estatura poderia acumular.
-Olha lá! -Com a outra mão, Sol apontou para a rua deserta. Era uma ladeira à esquerda que descia para o centro da cidade, e que estaria movimentada se não fossem duas horas na madrugada. Quanto maior a distância abaixo mais a rua se estreitava, até que terminava numa bifurcação marcada por uma árvore crescendo no meio do asfalto. Apesar de se dividirem por um gramado ralo, as duas partes continuavam próximas.
"Será que as duas ruas têm nomes diferentes?" Indaguei, pensativo. "Acho que sim. Senão seria complicado demais pros caras que entregam pizza. Alguém deve ter pensado nisso."
"Mas seria legal se tivessem nomes de gêmeos. Existiram famosos gêmeos antes dos anos 2000? Só gente velha e rica vira nome de rua", supus.
"Elas são quase juntas, então... siamesas? Gêmeas siamesas antes dos anos dois mil e... famosas? Não tem uma situação em que isso possa dar certo. As pessoas com condições diferentes eram levadas por circos, maltratadas e tudo mais. O que a humanidade tem de errado? Transformar a própria espécie em atraçã...
-Alex?
-Siames...SOL! Claro, é... rua, mão, velh... Quer dizer, oi?
-Você tá há dois minutos de boca aberta olhando pra árvore. Eu apontei pro nada. Foi uma piada.
-Acho que eu penso demais.
-É. você pensa alto, também. Tava sussurrando algumas palavras até agora a pouco, mas eu desisti de tentar entender quando você falou em circo. É uma árvore ali.
Minha conclusão é que a felicidade não é mesmo uma opção quando se pensa demais. Mas, às vezes, a compensação de estar com quem se ama vale alguns minutos de preocupação com gêmeas.
-Quer dividir uma pizza?
-Vamo.
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