Parte 5 - A Proposta
- Quero-o a ele.
- O quê?! – a Lara estava exaltada.
- Eu quero este adorável rapazinho para me fazer companhia. Este pode ser um sitio muito solitário.
O grupo sabia que não era esse o motivo, mas não conseguiam perceber qual seria.
Do chão junto dos pés de Igor, por entre a relva azul brotou uma flor. Uma bola de pelo cor de laranja segura ao chão por um fino cabo verde, com folhas azuis junto ao chão. Quando o Igor lhe pegou, arrancando-a do chão, mas deixando as folhas azuis, a flor soltou um pó amarelo.
- Espalhem este pó pelo terreno de cultivo e não haverá mais pragas e as plantas crescerão grandes e fortes. Logo não haverá mais maus anos agrícolas. Não se preocupem que não acaba.
O grupo juntou-se para pensar no assunto, e por um momento parecia que estavam para ceder, mas a Lara interveio
- Não! Nós não podemos!
- Eu sei que não podemos – a Joana respondeu de forma seca. As intervenções da Lara estavam a ficar cada vez mais irritantes.
- E não podem porquê? – todos se viraram de novo para o Igor.
- Porque... – o João começou a medo – é errado... e perigoso?
Todos olharam para o Igor sem saber o que ele ia fazer a seguir. O Igor simplesmente sorriu e voltou a inclinar a cabeça
- E ele ter entrado no meu território? Isso não é perigoso? Uma planície morta onde nada cresce? E obriga-lo a fazê-lo, não foi errado?
- Isso foi... diferente – a Joana começou, mas o Igor não estava a ouvir.
Ele continuou a falar e parecia bastante divertido com o desconforto do grupo.
- Onde vive uma bruxa que destruiu uma planície inteira só porque lhe apeteceu... e que se preparava para fazer o mesmo a tudo o que lhe aparecesse pela frente.
- Isto é diferente – o João tentou apoiar a Joana e o Teófilo tentou logo apoiá-lo a ele.
- Pois! Nós tencionávamos puxá-lo com a corda se algo corresse mal.
O Igor riu-se. Mas desta vez foi diferente. Desta vez era obvio que se estava a rir deles. Que estava a fazer troça deles.
- Então puxa a corda! – e voltou a rir-se.
O Teófilo tentou puxar a corda, mas não a encontrou. Ela tinha-se desintegrado pouco depois de o Igor ter sido possuído, com o seu estalar de dedos.. o ar confuso do grupo apenas provocou mais uma gargalhada no Igor.
- Alguém tem que o ir buscar! – o João disse, assustado
- Eu vou – sugeriu a Joana
- Também não se esperava outra coisa – a Lara comentou, e embora o João e o Teófilo lhe tenham olhado com repreensão, nenhum deles comentou.
- Não é preciso tal coisa – todos olharam para Igor surpresos. Nenhum deles se tinha esquecido que ele ali estava, mas também não pressupunham que ele iria participar nas conversas. – se não desejam trocar eu devolvo-vos o rapaz. Eu não sou um monstro, no fim de contas.
Todos piscaram os olhos, incrédulos. Com a alegria retorcida na sua cara era difícil saber se estava a falar a sério, mas havia algo na sua voz.
- A sério? - a Joana foi a primeira a reagir e a sua pergunta foi tão surpreendente como a proposta de Igor.
- Então vais devolver-nos o Igor, sem mais nem menos? – a Lara também avançou e ficou a olhar para o Igor. A sua cabeça inclinada para a direita e as mãos atrás das costas davam-lhe arrepios. Principalmente com aquele sorriso acolhedor, mas frio.
- Sem um mas ou um senão? – perguntou o João
- Mas é claro que não – o Igor continuava a sorrir, como se aquilo fosse uma batalha que ele já tivesse ganho – se eu vos der o Igor, todo o vosso trabalho terá sido em vão – o Igor abriu os braços e rodou a mão direita de forma a aparecer a flor – não levarão esta flor para casa e a vossa vila está condenada – o seu sorriso aumentou
- Ele tem razão – a Joana virou-se para os amigos e todos se puseram um roda – eu por acaso acho que devíamos considerar
- Não podes!! – a Lara gritou por instinto. Ela tinha odiado aquele plano desde o inicio e odiava-o cada vez mais a cada segundo que passava – nós nem sequer sabemos se a planta funciona.
- Eu sei que não posso!! E eu sei que odeias este plano desde o início, mas podes, por amor de deus, calar-te? – a Joana não aguentava mais. O tempo para os ceticismos da Lara e as suas respostas passivo-agressivas aos mesmos tinha acabado. A Joana levou as mãos ao cabelo enquanto caia no chão, abatida de desespero. O João olhava para ela assustado. Aquela era a Joana. A Joana que ele conhecia nunca chorava e sabia sempre o que fazer – Eu também odeio este plano. Como podes achar que não? Achas que eu queria por o Igor em perigo? Mas tu sabes como está tudo lá na vila. Em todas as vilas e aldeias. As pragas duram há meses! Já quase não há comida. Tínhamos que fazer algo! E tínhamos que o usar a ele! Por algum motivo o livro dizia que tem de ser alguém com pele branca como a neve e cabelo negro com um corvo! Senão iria eu e tudo isto seria escusado... – a Joana virou-se para o Igor com uma cara que dava dó – de certeza que não podemos trocar, eu por ele?
- Eu também! – a Lara juntou-se – nós as duas pelo Igor
- Não.

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