Parte 6 - A Necessidade
- Não – a voz imponente do Igor ribombou por entre o grupo. Ele manteve o seu sorriso enquanto o grupo olhava para ele – apenas quero este rapazinho para me fazer companhia.
- Porquê? – gritou a Lara e a Joana em uníssono
- O meu acordo, as minhas regras – conseguia ver-se um pedaço de malícia nos olhos do Igor. Era bastante óbvio que ele estava a desfrutar da situação – além disso, foi como tu disseste, querida, pele branca como a neve e cabelo negro como um corvo.
- Não podemos – disse Lara depois de se voltarem a juntar com o grupo
- Eu sei – começou a Joana – mas...
- Não! – a Lara não a queria ouvir
- ... é preciso... – o João começou a mostrar o seu apoio pela Joana.
- Também tu?! Nós não podemos!
- Mana...
- Não!
A Lara estava escandalizada. Ela não podia acreditar no que os seus amigos estavam a propor. Ela nem conseguia sequer acreditar que eles estavam a aceitar que tivessem proposto aquilo.
- Lara!!! – a Lara ficou em choque quando ouviu o grito de Joana. As duas ficaram a olhar uma para a outra. Estava as duas coladas uma à outra, a olharem-se olhos nos olhos, a Lara completamente encolhida perante o olhar intenso da outra. A Joana virou-se para o João e o Teófilo. – eu vou. Não a deixem parar-me.
A Joana estava tão austera e autoritária, ainda mais do que o costume, que nem o João nem o Teófilo conseguiram evitar obedecer. Mas de qualquer modo não era preciso. A Lara queria protestar, mas conseguia ver que os amigos também não estavam felizes. Isto não era uma escolha. Era uma necessidade.
A Joana avançou calmamente para o Igor. A mancha de relva azul expandia-se na planície negra e morta. Na mão tinha o frasco com o liquido para dissolver o bloco de sal. Este liquido já tinham trazido de casa porque não era preciso fazer no momento. À medida que se aproximava, a sua mascara de autoridade foi desvanecendo. Ela juntou todas as energias que lhe restavam, e agora tinham acabado. Quanto mais se aproximava, mais abatida e desfeita estava.
Quando chegou junto do dele, a Joana via que o Igor sorria, mas agora de forma mais inocente. Talvez uma fração do verdadeiro Igor ou talvez apenas um truque da bruxa para tornar aquele momento ainda mais doloroso.
- Quebra estas braceletes e podes levar todas as flores que quiseres. Também as podes plantar. O centro é uma semente e acredita que crescem em qualquer lado – o Igor estava muito amável e feliz. A pessoa que o controlava tinha ganho, porque haveria ele de não estar. Mas toda aquela amabilidade confundia a Joana. Como podia alguém desprezá-los tanto e no fim ainda os querer ajudar. Quem era aquela criatura e porque tinha uma forma tão estranha de pensar e agir.
- Como é que eu sei que funcionam?
- Porque haveriam de não funcionar?
- Podes estar a enganar-nos...
- Eu não posso mentir. Humanos mentem, e eu não sou humana.
- Um humano nunca nos obrigaria a fazer algo tão atroz.
- Típico... – o Igor virou a cara. Ainda ria, mas de uma forma muito mais serena – não te enganes. Humanos são criaturas horríveis. Eu fui presa aqui por humanos.
- Sim, mas isso é...
- Diferente? Pois claro. – o Igor já não sorria. Tornava-se claro que o Igor tinha de facto alguma pena da ingenuidade da Joana. – eu nem vou falar de tudo o que eu testemunhei seres humanos a fazer ao longo dos séculos. – o Igor virou-se de novo para a Joana, estendeu os braços e falou carinhosamente. – livra-me destas correntes, por favor.
A Joana não conseguia acreditar que tinha acabado de ouvir o Igor pedir por favor. Não era raro, mas nesta situação especifica era estranho, quase arrepiante.
O medo da Joana fez os seus braços entrar no território e entornar o líquido nas braceletes de sal, só para poder acabar com aquela tortura psicológica. Enquanto as braceletes se iam derretendo e quebrando com o líquido os seus pedaços caiam na relva azul, sob a forma da mesma massa estranha que eram no inicio, por entre as flores cor de laranja e alguns arbustos que começavam a aparecer.
- Obrigado – O Igor voltou a sorrir. Era o mesmo sorriso sereno, mas não dava calma nenhuma à Joana. Ela sentia-se pessimamente. – leva as flores que quiseres...
A Joana apressou-se a baixar-se para poder apanhar as flores. “Foi por isto que trocámos o nosso amigo? Flores” a Joana pensou, incapaz de colher uma delas sequer. A Joana deu com o Igor a olhar para ela. Ela não sabia o que fazer. A força intensa e penetrante dos olhos cinzentos do Igor, intensos e vibrantes, quase que a paralisava.
Na segunda não está nada mal. Acho que e só difícil de entender
Na terceira e céu em vez de seu
O Igor olhava para ela de forma cada vez mais calma e relaxada, enquanto os seus voltavam para o seu normal tom de azul.
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