Arco Denúncia
Ali, naquelas areias estéreis, uma importante família nasceu.
Para muitos, à distância, pareciam uma trivial família não-nômades do deserto. A única coisa que chamava a atenção de todos que passavam por ali eram as enormes rochas acinzentadas, porosas e esguias que rodeavam aquela residência. Desses totens para o centro do território, existia um lindo tapete de grama verde e uma nascente de água cristalina. A visão era refrescante até para quem já tinha se acostumado com o calor rabugento dali. Apesar de reclusos, qualquer um que precisava de ajuda era sempre bem recebido.
Tal família chamada de Hor entrou para a história como tropa especial da nobreza, enviados pelos deuses criadores. Serviram por 45 anos a aristocracia de Karma e tornaram-se conhecidos em seus embates, como poderosos e inabaláveis magos de elite karman. Grandes guerras e tragédias, de alguma forma, sempre tinham seu sobrenome envolvido.
Com o tempo, a guerra não tardou de acometer o mundo.
Muito sangue foi derramado e bebido por línguas de prata. Ninguém sabia bem o que as motivou, contudo, o ódio pulsava dentro de todos os corações – selando para sempre a rivalidade de todos contra todos.
Enquanto isso, a oeste de Karma, navegando por alguns dias pelo sedutor mar Dracaeon, se postava firme a enorme ilha de Inv Callun. A primeira vista, um colossal monstro de metal, tão imponente em sua posição que parecia soldada nas águas do mar. Casas e prédios presos uns aos outros, com apenas uma ou outra folga para respiro.
Mas quase nenhum fôlego ali se ouvia, não na superfície.
Após uma longa e cansativa guerra contra Karma, os estragos na cidade tornaram impossível dos invum morarem lá – é o que contam os livros de história. Drásticas decisões tiveram de ser tomadas naquele momento. Um deles, o qual a história jamais iria se esquecer, foi a de se abrigarem em massa no subsolo. Não todos, tirando os 1/5 da população que morreu na guerra e outros 1/5 que estavam com seus dias contados após inúmeros ataques mágicos à atmosfera. É claro que também haviam aqueles que simplesmente se recusaram a se esconder. Entre doenças e fome, apenas menos de 3/5 do que restara vivia na nova Inv Callun.
Poucos olhavam para cima, não havia mais sentido em tentar procurar por um céu azul, não que antes fizesse tanto sentido assim. O teto que estava sobre suas cabeças era só um amontoado de fios, canos e terra. Haviam descoberto uma forma de sobreviver, mas, às vezes, morrer parecia uma solução melhor. Era uma colossal e deprimente prisão pós-guerra de máquinas de carne e osso, trabalhando continuamente. Isso... até a Babilônia assumir o poder.
Os nervos ficaram à flor da pele.
Callun e Karma cuspiam na cara um do outro. Karma via-se como uma salvadora piedosa dos invum. Após a guerra de todos contra todos, apesar de inimigos, tinham estendido a mão para aquela pobre ilha devastada – claro que, óbvio, sob algumas condições. Qualquer resistência dos invum seria um insulto ao tratado de paz e cooperação pós-guerra, ingratidão. Profundamente ofendida quando seus navios começaram a ser barrados nos portos, reuniram os nobres e a Elite Hor e promulgaram inúmeras sanções – uma delas, a construção de um muro marítimo ao redor de Callun. A ilha seria isolada de qualquer contato externo, até que um pedido formal de desculpas fosse feito. Contudo, a diplomacia não bastaria – os karman pretendiam transformá-la provisoriamente em uma prisão para indesejados do continente.
... só que Callun não tinha medo.
Como resposta, declarou também que executaria qualquer estrangeiro mandado por Karma e, além disso, fecharia suas portas para o mundo definitivamente – tendo um muro ou não.
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