A revelação culminou na criança alienada como o urro de um Treze, horripilante, alarmante, sufocante.
- Eu sei que só tem treze... quatorze anos, mas talvez, se eu não tivesse sido tão bondosa com meus filhos, tudo isso não teria acontecido. – o oráculo vira o corpo da menina, que estava em choque. – Há algo para você no futuro, Ilídia. Cabe escolher apenas se vai segui-lo ou não. Pode ajudar o seu irmão a escapar, um dia, dessa...
- Eu não posso! – puxa com força seus braços da mão do espectro, ofegante. -... Tenho que ir embora.
- Ilídia, me escute. – o oráculo coloca as mãos no rosto dela, olhando fixamente. - Esse chamado não está vindo só para você, mas o tecido só se formará se decidir logo fazer o primeiro movimento nessa trama.
- Por que não o meu irmão no lugar?
- Não é o Destino dele seguir esse caminho... não agora.
Um barulho estremece o chão da caverna.
- ... o que é isso?
A criança pisca algumas vezes.
- Meu... casamento está marcado para daqui alguns dias. Se não me engano, tem uma festa hoje à noite. – cada Hor era estimulado a casar-se entre si. Seus pais explicavam que tinham medo da magia Aeon dissolver se o sangue fosse misturado com a de uma pessoa comum. Contudo, se a oráculo estiver certa, é a armadilha a qual arruinará sua vida. Como acreditar nisso?
- Já é noite. – o oráculo começa a empurrar Ilídia para fora da caverna e Doze as segue. – Aqui o tempo passa em outra velocidade.
- Mas e agora? O que eu faço? Como vou encarar meus pais?
- Isso você resolve sozinha, tenho certeza. – ela ri. – Mande Doze para sua manada logo e vá para casa. Amanhã é um grande dia. Se decidir cumprir minha missão, encontre-o ao nascer do sol na fronteira de Hor Murum.
- Mas por quê? Pra que?!
- Ora essa, que pergunta! Só vá. E não deixe ninguém desconfiar.
Pondo os pés firmes no chão, diz:
- E se tudo der errado?
Então, está de volta a floresta.
A caverna parece estar muito longe dali, estranhamente silenciosa e sombria. Doze vai embora, deixando-a para trás como seus próprios pensamentos turbulentos e seu porto seguro destruído.
Pelo que viu nas visões do oráculo, para cada acontecimento, várias verdades foram definidas – a dos ganhadores, as dos perdedores, as dos revoltosos... Um mesmo objeto com vários olhares diferentes, logo, resultados diferentes. No que deveríamos realmente confiar? Desde o mundo a sabedoria, são resultados de ações de seres humanos. E as pessoas são volúveis, complexas, relativas dependendo da situação em que se encontra. Não seria, tudo que entendemos como verdade, também relativo? O ganhador e o perdedor são faces da mesma moeda, confiando piamente no que falam, fiéis e leais a crença de que o outro está errado.
O que realmente é mentira?
É preciso deveras duvidar quanto mais nos extremos das opiniões você está. Com quem, de fato, estaria morando?
Enfim, essa discussão serve como gancho para entendermos melhor Karma e Callun. Há alguns bons quilômetros dali, o rei Pers Khan WoBegon conversa com recém-promovido soldado Jev R, guarda-costa real e subgeneral de defesa karman.
- Jev, junte um grupo da sua confiança que já esteve naquela Ilha, e volte para lá. Dê um jeito. Não gosto de não saber o que acontece lá dentro. Nada entra ou sai sem a supervisão daqueles arruaceiros. Quero que fiquem por um tempo e me mandem notícias assim que puder.
- Senhor, mas e a barreira de eletricidade? As interferências em corpos aptos a atividade mágica está cada vez maior.
- Isso é problema de vocês. Os Hor ainda estão estudando alternativas, mas não há nada concreto para que possamos finalmente conquistar aquele lugar... não depois de terem destruído nossas bases de pesquisa.
- Até o fim do mês organizo tudo e partiremos.
O rei WoBegon, em seu elegantíssimo traje dourado, marrom e preto, bate sua mão em punho no braço do trono.
- Agora, Jev. – o barulho coou pelo salão do trono. – Se possível, me traga a cabeça de alguns desses traidores. – rosna, cuspindo algumas gotas de saliva.
Jev acena com a cabeça, curva-se e sai.
Ele ainda não entende como Callun tinha saído do controle desse jeito. Na verdade, mal sabe como exatamente começou a guerra de todos contra todos. Demandou apenas um piscar de olhos e todos atacavam uns aos outros, apontado dedos, inutilmente derramando sangue.
Quem realmente detém a verdade?
Os dois reinos eram como irmãos, embora Karma tivesse mais poder político evidentemente. Uma relação puramente de sobrevivência e se ajudavam em períodos de crise, um com alimentos e o outro minerais. Mas repentinamente, ninguém sabe exatamente o porquê, todos começaram a ficar mais ambiciosos. Talvez pelo medo ou ganância, depois que Callun anunciou a descoberta da tal chamada eletricidade.
Os invum eram totalmente estéreis, a mágica não corria em suas veias. Renegado por grande parte do mundo, investiram nas tecnologias e otimização dos processos de produção. Seu reino era movido por inúmeras engrenagens, engenhocas silenciosas ou barulhentas, dando vida ao lar de uma sociedade dividida em três estratos sociais fisicamente. Já que não podiam crescer horizontalmente, a verticalidade os caracterizou. Havia o Subterrâneo, dos mais pobres; Teehr, superfície habitada pelos comerciantes e criadores de tecnologia incremental; e Nuune, cidade flutuante dos ricos e inventores. Cada nível separado por inúmeras papeladas ou um cartão exclusivo para passar pelo elevador que os interligava. A superfície era cercada por muros grossos de pedra e de altura quase incalculável, separando-os do teehanos mais pobres. O subsolo era cheio de túneis, galerias de terra e rochas, com metal aqui e ali para não desmoronar. Mas, então, evoluíram rapidamente e para níveis inacreditáveis ao usufruir da eletricidade. O custo caiu em variados quesitos e setores, criaram novos armamentos e formas de vida, um mundo de possibilidades inimagináveis encheram os olhos daquele povo... do governo e de outros reinos.
A princípio, Karma abriu centros de pesquisa em Callun, em troca de comida e dinheiro. Contudo, não divulgava as descobertas a ninguém. Os aliados de ambos os lados declararam injusto aquele silêncio. Apesar do rebuliço, a guerra se iniciou quando houve um atentado elétrico no centro do reino karman. Os invum não declararam autoria, afinal, nada elétrico podia sair da ilha... a não ser que fosse amostras de alguma pesquisa karman, enviadas aos Hor. A origem da arma poderia ser invum, mas não o atentado.
As suspeitas ofenderam os dois reinos na mesma proporção, estabelecendo 0 fim de todos os acordos que compartilhavam – se uniram aos seus aliados e combateram um ao outro. A maior parte dos combates foram marítimos, o que trouxe desvantagem aparente ao continente. Porém, apesar de poucos soldados karmans, os magos que os acompanhavam era incrivelmente fortes e avançaram até a fronteira de esterilidade mágica. Sem a eletricidade, os invum teriam sido esmagados antes que percebessem. O resto do mundo ficou fascinado com tudo que havia acontecido em tão pouco tempo de guerra declarada. Muitos, gananciosos e desconfiados, debandaram e começaram a guerrear com os outros envolta. Alegaram que tinham sido traídos, que aquela confusão foi premeditado e os aliados foram “boi de piranha” – apenas queriam uma oportunidade para testar seus novos armamentos. Entre dúvidas e impetuosidade, lógicas ou não, cada pedaço de terra, sem exceção, caiu em desgraça.
Apesar de terem sido atacados por todos os lados, Karma ainda saiu vitoriosa. Como exatamente? Ninguém sabe. Todavia, foi a época em que mais Trezes apareceram em Hor Murum. Callun foi subjugada e, até se livrar do domínio do vencedor, viveu sob reinado de máfias e empresas monopolistas – que se vestiu de braços do governo e exibiu carne humana como alternativa para a fome pós-guerra. Quanto aos outros reinos, a grande maioria ficou totalmente devastada.
O mundo entrou em profunda crise.
No final, não sabem o que realmente aconteceu. O livro oficial de história e a imprensa de cada país contavam de formas diferentes. Qual a motivação? Ganância? Inveja? Traição? Alguns achavam que conheciam a verdade, mas será... realmente?
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