Quando retornaram ao castelo, no salão principal, estava arrumada a mesa de jantar. Fazia sentido — afinal, se eles haviam acabado de almoçar na casa de Skeivarr, também devia ser a hora do almoço para os que moravam no castelo.
Contudo, ainda havia algo estranho. Havia comida sobre a mesa, mas nenhuma pessoa sentada sobre as cadeiras. No fundo, além da grande fogueira que ardia no centro do salão, era possível ver Hallerik sobre seu trono, além de Aston de Szeidung de pé diante de si. Os três deviam discutir assuntos relacionados ao reino, como frequentemente faziam.
Eirkia seguiu pela lateral do salão diretamente para as escadas, ignorando o trio. Até parecia, de certa forma, que não queria ser notada. Darl, por sua vez, apenas seguiu, como de costume. Os dois, em seguida, provavelmente iriam cada um para seu respectivo quarto.
― Esses nobres estão mesmo apressados. ―, foi possível ouvir o jovem rei suspirar.
― Acredito que queiram partir antes que Sullivan Terceiro venha. ―, comentou Szeidung.
― Anders?!
― Enquanto esteve na expedição a Alken, meu lorde, recebemos uma carta de nosso aliado. É apenas natural que ele deseje vir, e os demais devem contar com o mesmo.
― Mostre-me depois... ―, subitamente, virou-se para o lado onde andava a jovem dupla recém-chegada e se pôs de pé. ― Eirkia!
A princesa interrompeu seus passos pouco antes de alcançar as escadas e deixou escapar um longo suspiro. Apenas então se virou para o irmão que se aproximava a passos largos.
― Onde você esteve esse tempo todo?! Os dois! ―, indagou o jovem rei, que também olhou para Darl por um instante, como se para não se esquecer que ele também tinha alguma responsabilidade. ― Estiveram fora do castelo desde a execução?!
― Eu não preciso de permissão pra andar pelas ruas do meu reino, preciso? ―, retrucou Eirkia.
― Talvez pudesse ao menos avisar e dizer aonde ia. Você logo será adulta e...
― Sim, eu sei. Eu devia pensar na minha posição e obrigações.
― Você... ―, Hallerik levou a mão ao rosto antes de suspirar como frequentemente fazia ao discutir com a irmã. ― O almoço ainda está na mesa. Vão comer.
― Não precisa. Pode mandar os servos limparem a mesa. Já almoçamos.
A princesa deu as costas e prosseguiu a andar, mas seu irmão logo agarrou seu braço.
― Onde? ―, ele questionou.
― Na casa de um amigo.
― "Aquele" amigo?
― E se for? Vai me trancar aqui dentro igual nosso velho fez?
― Talvez seja necessário.
― Sabia que esse meu amigo lutou na sua guerra? Que teve um braço amputado na sua luta? Sabia que o pai dele também morreu nessa mesma guerra uma semana antes honrando o seu nome?
― Não, eu...
Emudecido, Hallerik soltou o braço da irmã, que já não tentava fugir. Era como se ambos houvessem chegado a algum tipo de acordo.
― Eir ―, mais calmo, chamou a irmã pelo apelido ―, semana que vem, no dia segundo da primavera, os barões virão jantar conosco. Eu preciso que você e Darldollum estejam presentes.
Eirkia apenas assentiu, e os dois permaneceram de pé diante do outro sem trocar mais palavras por mais algum tempo. Até que a voz Hallerik deu-se para permitir que as pernas da princesa andassem outra vez.
― Pode ir.
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