§ Nota §
Este é um “causo” de muito atrás. Do mundo antigo, quando animais ainda falavam e os grandes espíritos da natureza caminhavam pelas matas nas mais variadas formas.
Nessa época o grande sol dourado se apaixonou pela linda lua de prata, que já vinha a muito se interessando por ele. Infelizmente os dois enamorados nunca se encontravam, pois quando um subia aos céus o outro descia.
Cansada desse chove e não molha, Mora a mãe do amor chamou seus irmãos Uiapuro que espalhava o amor pelo mundo, Tambatajá o guardião do amor e Rudá, o deus da reprodução para puxarem o céu.
Os três dobraram o céu, causando um eclipse e finalmente os dois amantes puderam se encontrar.
De anos em anos esse encontro ficou de certa forma frequente, e o sol dourado teve muitos filhos com a lua de prata. Entre eles Macunaíma, o moleque mais travesso que já se viu na face da terra e em qualquer outro lugar.
Os feitos de Macunaíma e seus truques foram lendários e tantos que nem se deu para registrar.
Certo dia as onças ficaram muito doentes e os deuses jaguares pediram satisfações ao grande pajé Manapé cuidador dos animais.
Então ele foi consultar seu irmão Macunaíma a pontapés. Após aprontar tantos truques nas onças, deveria ter feito uma estripulia que as adoeceu.
Mas Macunaíma já tinha aprontado, mas tantas estripulias, que não conseguia pensar em nada especifico. Então foi pedir ajuda para Yanubêri a avó de todos, que criou em seu caldeirão as massas usadas para criação de todos os animais incluindo o bicho homem. Ela sabia tudo de tudo.
Yanubêri que via tudo o que acontecia abaixo do céu lembrou que Macunaíma aprontou com as Titiricas, espíritos do ódio e colocou a culpa nas onças, que agora iriam morrer amaldiçoadas de uma forma que nem mesmo Manapé poderia ressuscita-las.
Ela chamou sua neta Yushã Kuru, a mãe das feiticeiras e criadora de todas as poções e receitas do mundo antigo. Claro que havia uma coisa.
Na época do mundo anterior que foi coberto pelas aguas, Mora a deusa do amor era tão bonita que sua aparência enlouquecia alguns deuses. Um dia perderam o controle e a puxaram por todos os lados, até que ela estourou se tornando as três deusas do amor, Caupé da beleza e paixão, Piná do amor fraternal, Cy do amor maternal e Sumá deusa do ódio, mãe das Tiriricas. As quatro deusas que são uma só.
Nesse momento suas lagrimas se espalharam pelo mundo e delas nasceram plantas maravilhosas, entre elas os cajuzeiros que geram os cajus, uma fruta que na verdade é uma flor que nunca desabrocha.
Por isso os frutos dos cajuzeiros são tão doces suculentos, mas prendem a língua. Juntos com sua castanha em forma de lágrima podem curar o mau das Tiriricas.
Os dois irmãos ficaram confusos, afinal elas não teriam sido destruídas com o mundo anterior?
Acontece que os deuses da época criaram enormes bolhas de ar para proteger magníficos jardins escondidos no leito do oceano.
Mas agora eram propriedade de Pirarucú, o senhor das profundezas dos mares e deus dos peixes.
Manapé chamou seu irmão caçador Jigué, e Macunaíma por sua vez convocou seu parceiro de artimanhas, Iwarrica o deus macaco.
Os quatro foram até o fundo do mar acompanhados de Yara, a mãe das aguas. Para surpresa de todos Pirarucú foi muito cordial e com um sorriso disse que ajudaria com uma condição.
Que os quatro participassem de um joguinho, e de cada um exigiu três proezas absurdas.
Os quatro fizeram feitos inacreditáveis, mas no fim Pirarucú sempre os reprovava por pequenos detalhes técnicos ou jogos de palavras.
Jigué o caçador trouxe “quebra pedras” o martelo magico do rei dos gigantes Roraima, capaz de destruir qualquer coisa.
Manapé trouxe um copo de leite de estrela capaz de dar vida a qualquer a qualquer ideia.
Macunaíma e Iwarrica conseguiram a perola dourada mágica, capaz de realizar desejos.
Os três compartilhavam o nome de simples plantas bem comuns que o deus trapaceiro afirmou querer plantar em seu jardim. Assim falhou todos em seus testes.
Yara achou aquilo inaceitável, mas Pirarucú argumentou que os famosos trapaceiros não poderiam reclamar de sentir o gosto do próprio remédio.
Mas por terem conseguido tesouros de alto valor permitiu que saíssem do seu reino com tudo o que podiam carregar.
O maligno senhor das profundezas subestimou as capacidades dos filhos do sol e da lua.
Eles beberam o leite de estrela e se transformaram em criaturas que só existia na imaginação. Unicórnios alados.
Então eles pegaram suas varas de pescar mágicas, enrolaram no jardim, saltaram nas nuvens até a casa de sua mãe no céu, a lua de prata e puxaram com toda força o jardim para fora do mar com tudo dentro.
Puxaram tão forte que o céu até se dobrou causando um eclipse onde se reuniram com seu pai, o sol dourado e festejaram mais uma vitória.
Furioso, Pirarucú pegou o martelo magico do gigante e criou um gigantesco vulcão, martelado direto das profundezas da terra. O que fez com que Yara chamasse a atenção dos antigos deuses, que interviram furiosos. Um vulcão daquela magnitude poderia cobrir o céu de fumaça e gerar uma onda gigante capaz de destruir as terras próximas.
Mas antes que a fúria dos deuses antigos pudesse se voltar contra o deus das profundezas, os irmãos usaram a bolha de ar mágica do enorme jardim para esfriar a lava vulcânica, e ainda taparam a boca do vulcão com o próprio jardim, que agora, acima da superfície não era mais propriedade de ninguém.
Agradecido por ter sido poupado da ira de Tupã e dos outros deuses, Pirarucú voltou para as profundezas do mar com seus novos tesouros.
Vovó Yanubêri e Yushã Kuku fizeram o remédio com os cajus, as onças se recuperaram e a ira dos deuses jaguares foi apaziguada.
Graças ao leite magico, daquele encontro nasceram unicórnios mágicos que cresceram naquele jardim.
Por isso aquelas com o tempo, o jardim trazido do fundo do mar ficou conhecido como o arquipélago de Licorne.
Trecho de (Cem melhores lugares para se visitar em Licorne.)
Edição animada colorida – Nicolas Chapman de Calêndula.
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