02° Estrofe
“Quero que todo mundo morra de dor na bunda.” Dizia Bostia Mole.
“Quer dizer ‘com dor na bunda’ não é mesmo?” Perguntavam para ela.
“Não. É de dor na bunda mesmo.” Respondia com toda a raiva e angustia adolescente do mundo.
Bostia Mole é uma amaru , uma espécie de dragão sul Americano em nosso mundo. Sua cabeça era típica de dragão, seus chifres eram semelhantes aos de cervos, seu corpo era longo como o de uma serpente, suas asas lembravam um falcão, seus bracinhos eram semelhantes aos de macacos, suas patas traseiras de uma onça e a ponta de sua cauda tinha o formato de um rabo de peixe, mas com a propriedade de se fechar em um espeto.
Os amarus não possuem escamas como dragões tradicionais, eles têm pelos e penas.
Bostia Mole era filha de uma dragonêsa roxa, quase negra e um dragão branco, por isso suas penas eram púrpuras e sua penugem acinzentada, conforme a luz batia parecia cor de chumbo ou purpura escuro.
Passou toda sua vida na espinha da Fulguração. Uma cordilheira bem alta onde havia poucos animais e plantas para se admirar.
Conhecia o mundo através das histórias das dragonêsas adultas e havia decidido que quando crescesse e chegasse à idade em que seria expulsa do covil aprenderia feitiços e se tornaria o que os aventureiros chamam de chefão final. O mais poderoso dos monstros.
As dragonêsas reviravam os olhos e suspiravam. Um filhote de dragão que passou a vida no topo de uma serra sem aprender a se defender não tinha muitas chances no mundo afora e o grande dragão Fulguração sabia disso. Mantinha seus filhotes isolados até estarem grandes demais e os jogava para fora.
Dragões eram uma das espécies mais preciosas, não existia nenhuma parte deles que não se vendesse a um preço alto, os alquimistas se pegavam em brigas selvagens por guano de dragão nos leilões de artigos encantados.
Por causa disso criaram o ditado: “É tão raro de se ver, quanto um cadáver de dragão.”
O maior perigo para um dragão ainda assim é outro dragão.
São territorialistas e não hesitam em acabar com um filhote desconhecido.
Por isso, alguns dragões corriam para aprender feitiços e viver disfarçados em segurança entre os humanos.
O pai de Bostia Mole era Fulguração, o chamavam de dragão épico por ter milhares de anos, de titânico por ser tão poderoso quanto um titã e divino, pois haviam quem acreditasse que fosse um deus. Mantinha todos os seus tesouros em severa vigilância e não tinha muito interesse em ver seus filhotes.
Chegaria o dia em que Bostia Mole estaria velha demais para viver na toca e seria expulsa como aconteceu aos seus irmãos mais velhos. Nesse dia ela começaria a aprender feitiços e se tornaria mais épica e mais poderosa que seu pai nunca foi. “Um chefão final.” Ela dizia.
Um modo de conhecer melhor o mundo era se esgueirando para fora da toca para espiar e também aproveitar para treinar suas habilidades de camuflagem.
Paca Manca e Melda de Besta se enrolavam pelas pedras como lagartixas e deslizavam como cobras, Bostia Mole as seguia com menos eficiência e bem atrás os outros filhotes discutiam se deveriam ir ou não. Paca manca era particularmente impressionante por não ter o braço esquerdo.
Saíram por um túnel estreito que só filhotes passavam confortavelmente, Melda de besta já estava grande e tinha que usar a habilidade dos dragões de deslocar seus ossos para se espremer pelas passagens.
Do alto de uma grande rocha espiaram os humanos andando de lá para cá. Era uma feira com barraquinhas vendendo comidas e lembrancinhas.
Bostia Mole nunca tinha visto um de perto, sabia que era uma espécie de gorila com a pele macia e com poucos pelos como porcos. Havia de todos os tamanhos e cores, construíam coisas por toda parte e usavam todo tipo de armadura colorida, bem fina e macia, que não protegia nada.
“Quantos elfo!” Melda de Besta arregalou os olhos espantados. “O que aconteceu para ter tantos?”
“É aquela época do ano que os elfo se junta no templo para ficar elfando.” Paca Manca olhava com atenção.
“Têm uns elfo muito bonitinhos.” Xexelenta finalmente se decidiu a sair.
“Paca Manca queria um Elfo pra ela.” Paca Manca suspirou tristonha.
“A cambada já tem um monte de coelhebrinhos fedidos” Melda de Besta comentou.
“Coelhebrinhos não são fedidos.” Paca Manca reclamou. “Nem os elfos.”
“Bostia Mole também quer.” Bostia Mole olhou. “Tem uns muito fofinhos.”
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