07° Estrofe
Brincando pelo caminho, finalmente chegaram ao centro da cidade onde ficava a lagoa mágica.
“Já pensaram de onde vem tanta água?” Safira perguntou olhando o rio.
“Do lago Estelar. O segundo maior lago quosa de Licorne.” Rubi apontou em um livro. “Os lagos e lagoas quosas são interligados no mundo todo. É possível ir até as luas através deles. Existem em um verdadeiro oceano em um espaço mágico alternativo. Sua água é ilimitada, pois a água que sai daqui é fornecida por rios pelo mundo todo que desembocam em lagos quosa.”
Marquesinha tentou olhar a capa. “Que livro é esse?”
“O tio da Margarida escreveu um livro sobre viagens.” Rubi respondeu.
“Cem melhores lugares para se visitar em Licorne. Edição animada colorida por Nicolas de Calêndula. Se quiserem eu consigo uma cópia autografada.” Margarida piscou.
“Quero sim.” A Marquesinha se apoiou na grade para ver o lago.
Rubi apontou no livro. “De acordo com o livro vamos pegar uma barca até a vila do Teto do Fulguração onde a carruagem do tio nico estará nos esperando para ir pela estrada do Marquesado do crisântemo até o condado dos Lírios até o templo de Mora. É uma das maiores estradas do mundo e atravessa toda a cordilheira.”
Margarida coçou a cabeça. “Por que não vamos direto ao templo de Mora?”
Rubi sorriu. “Parece que a magia interdimensional é afetada pela magia titânica do templo e não pode existir uma lagoa quosa em terreno sagrado.”
Margarida olhou o livro. “Acho que funciona do mesmo modo que dragões não se aproximam de templos.”
“Pelos lábios carnudos da titânide Mora!” Elas se viraram e viram um homem magro e sorridente, com calças folgadas, um fino casaco xadrez em tons marrons e um espalhafatoso chapéu com penas felpudas. Seu violão deixava evidente que era um bardo. O sujeito de cabelos castanhos encaracolados, tirou seu chapéu emplumado e apertando o peito caminhou com as pernas bambas, feito borracha. “Mas que menina estonteante. Meu pobre coração não pode com tanta fofura.”
“Tio Nico!” Margarida correu para abraçá-lo.
“E quem são o trio de beldades que acompanham minha tão adorada sobrinha?” Ele fez uma reverência e beijou a mão da Rubi. “Você nem precisa de apresentações. Mas que imensurável prazer em rever a majestosa quarta princesa de Licorne.”
“Na verdade, eu não sou mais uma princesa depois que Magmático assumiu.” Ela riu envergonhada. “Os filhos dele que são agora.”
“Pois para mim você sempre será uma linda princesa.” Ele fez uma reverência exagerada.
“Lembra-se das Safiras as filhas do arquiduque Turquesa?” Margarida apresentou.
“Não acredito como cresceram.” Ele colocou as mãos nas bochechas. “Mas viraram moças lindas de morrer. Estão tão bonitas quanto suas adoráveis mães.”
“Deixa de ser bobo Nico.” Atrás deles Acácia e Ametista as mães das Safiras o cumprimentaram.
“Ametista, só de vela sinto vontade de me ajoelhar e pedi-la em casamento.” Ametista era uma índia muito bonita, com olhos amendoados, longos cabelos castanhos e um sorriso sincero.
“Você não mudou nada Nico.”
“Madame Acácia, continua tão deslumbrante que mal posso olhá-la diretamente.” A duquesa Acácia era uma mulher elegante, de pele cor de oliva, olhos azuis faiscantes, cabelos esvoaçantes e usava um grande chapéu.
“E se não é o meu velho amigo Nérius Montenegro um dos quatorze furores de Ancama a mãe das batalhas.” Nico deu um abraço no homenzarrão com um casaco felpudo que o fazia parecer um urso. “Mas que bom vê-lo. Pensei que tinha se tornado chefe da guarda real. Achei que estaria lá na guerra.”
“Fui nomeado chefe da guarda particular da princesa Rubi, velho amigo.”
“E onde está o resto da guarda?” Bico olhou em volta.
“Só tem eu e minhas soqueiras.” Ele enfiou a mão no bolso do casaco e puxou um soco inglês comicamente grande. “O resto foi para a guerra.”
“Mesmo? Que exagero. Acham que um exército vai atacá-la?”
Os dois riram gostoso.
“Mas falando sério, está meio que curtindo umas férias?”
“Pode se dizer que permanentes. Cuidar da Rubi é a minha aposentaria por assim dizer.”
Um dirigível sobrevoou até o lago azulado refletindo o céu azul. Pararam acima de uma balsa cheia de gente e jogaram suas cordas para amarrar.
“O que estão fazendo?” Margarida perguntou.
“A aeronave é amarrada nas balsas para se estabilizar durante a viagem pelo lago quosa.” Nico respondeu.
“Nunca viajei em uma balsa com uma aeronave.” Margarida riu.
Nico fez uma reverência apontando o caminho pelo ancoradouro. “Vamos indo meninas.”
Margarida esticou o rosto. “Aquilo parece um restaurante”;
“É um restaurante meu amor.” Acácia respondeu. “Se quiser, podemos comer pela viagem.”
“Não convide a Margarida pra comer tia Acácia.” Safira provocou. “É como perguntar se macaco quer banana.”
Ametista ficou em frente a Safira com uma cara fechada.
“O que foi?”
“Você está com aquelas facas!” Ametista cerrou os olhos.
“Facas? Que facas?”
“Safira, não se faça de besta. Sabe muito bem, do que estou falando.”
“São machetes, mãe.”
“Não vai entrar na balsa com isso.”
“Tá bom.” Safira entregou os machetes.
Ametista entregou para o Lorde Montenegro. “Pode se livrar disto?”
“Mas é claro.” Ele acenou com a cabeça.
Os quosas entraram na água e se transformaram em enormes e lindos peixes coloridos. Acompanharam as amarras e as balsas se afastando do porto.
Após um tempo, começaram a afundar e foram cercados por uma parede de água. Como se estivessem em uma bolha invisível. Podiam ver os quosas claramente nadando em volta.
Conforme foram afundando a água começou a fechar em volta e a cobri-los. Estavam submergindo na água dentro de uma enorme bolha.
“Shakalaka! Nunca vi uma bolha quosa tão grande.” Safira falou impressionada. “Cabe um pequeno castelo aqui dentro.”
Todos se encantaram com as criaturas embaixo d’água.
“Está ficando escuro.” Marquesinha reclamou.
“A luz da superfície não ultrapassa muito mais do que um quilômetro, mas tudo bem, pois é um lago quosa. Não estamos realmente descendo para as profundezas.” Nico passou a mão na cabeça dela.
Após um tempo, cercados por total escuridão, tendo apenas as luzes das balsas começaram a ver uma cidade submersa vertical, onde viviam quosas de todas as espécies tamanhos e cores.
“Estamos descendo na vertical?” Marquesinha se espantou.
Margarida riu. “Vocês nunca fizeram uma viagem longa numa bolha quosa, não é mesmo?”
“Nunca saímos muito da cidade da Academia.”
“Krakalaka! É uma cidade de peixes?” Safira apontou inconformada. “Com prédios pros peixes?”
“Com um bonde para peixes.” Marquesinha apontou. “Mas não é como se voassem? Por que tem ruas e bondes?”
A paisagem foi mudando aos poucos. Mergulhavam na escuridão e logo em seguida viam mais cenários quosa, por baixo, por cima, de ponta-cabeça, do outro lado. Quosa vivendo em cidades moldadas em corais, navios naufragados reciclados, plantações debaixo d’água, criações de peixes e baleias.
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