08° Estrofe
As quatro estavam maravilhadas com a viajem. Infelizmente não demorou muito para um bando de moleques nobres e mimados começar a incomodar as garotas.
As quatro nunca foram populares entre nobres e havia uma cara separação na academia de magia. Não importavam seus títulos. As quatro faziam parte da plebe. Não importava que uma delas fosse a quarta princesa de Licorne.
Vamos evitar este cliché batido que já vimos incontáveis vezes e continuemos após os moleques terem sido humilhantemente escorraçados por uma mulher que lança relâmpagos pelos dedos e carrega uma flauta mais longa que um cajado.
Era a pessoa que Arima e seu tio foram encontrar. Vestia uma roupa azul de sacerdotisa, tinha cabelos negros com um tom azul e olhos azuis quase brancos.
Finalmente após um último trecho de escuridão pareciam subir.
As quatro e os acompanhantes agradeceram a intervenção de Índigo, principalmente o lorde Montenegro, pois apesar de ser o protetor de Rubi, não podia fazer nada contra os filhos dos nobres que as atormentavam com palavras. Sem uma ofensa direta ou um ataque físico o pobre homem era obrigado a permanecer calado.
Saíram do lago dentro de uma enorme bolha de sabão que estourou assim que a água se nivelou e recolheram as cordas.
Arima se deitara no galho de uma árvore para ver melhor a enorme bolha surgindo na lagoa com o que parecia um luxuoso restaurante dentro, que aos poucos foi surgindo no meio do lago. Ela flutuou até o pequeno porto e estourou como uma bolha de sabão. O restaurante parecia ter sido construído na lagoa, pois se encaixou perfeitamente na doca e os passageiros começaram a sair.
Arima desceu da árvore e foi se misturar. Por incrível que pareça seu disfarce não estava muito destoante das pessoas dali. Assim como as quatro garotas que saíram da bolha com Índigo, não pareciam o tipo que se espera de nobres.
Arima recebeu a tia com beijos e abraços.
“Se eu tivesse meus machetes iam ver. Shakalaka! Novamente. Obrigada por escorraçar essas idiotas.” Safira agradeceu.
Rubi revirou os olhos. “É a mesma coisa desde o primário. A gente pensa que vão mudar, mas a dois dias de serem legalmente adultas, tudo continua a mesma coisa.”
“O nome de vocês é Auará?” Índigo trocou olhares com Arrepio. “Vocês são filhas do Arquiduque Turquesa?”
“Sim!” As duas fizeram uma reverência. “Safira e Safira!”
“Mas pode me chamar de Marquesinha.”
“Vocês são muito parecidas com o Turquesa. Quando tinha a idade de vocês, vivia sendo confundido com uma garota, por causa do rosto feminino e bonito.”
“Mesmo?” As duas riram.
“Sou Índigo Vento Azul, uma velha amiga do seu pai e seu avô.” Ela se virou para um homem magro e curvado, de cabelos bem curtos e olhos quase fechados como se estivesse com sono. “Prudente Barriga Amarela, sacerdote do Dragão Barriga Amarela, é meu irmão e bom amigo.”
Ele as cumprimentou. “Os amigos me chamam de Arrepio.”
“Que tipo de gente os amigos chamam de Arrepio?” Rubi perguntou.
Arrepio deu uma risadinha e apresentou Arima. “Esta é a minha querida sobrinha, Arima Barriga Amarela. A menina dos meus olhos.”
Arima se surpreendeu, sentiu um arrepio por todo o corpo e deu um passo para trás. “Nico o pica-pau amarelo?” Ele era idêntico a sua imagem nos almanaques e revistas. “O pica-pau amarelo?”
“Eu mesmo, senhorita.” Ele beijou sua mão. “E você, seria?”
“Meu nome é Arima Barriga Amarela.”
“Nossa sobrinha.” Arrepio falou cheio de orgulho.
“Prudente e Índigo, mas que surpresa.” Ele os cumprimentou.
“Arima não acredita que os tios conheciam o Pica-pau Amarelo e nunca falaram.”
Índigo o cumprimentou.” Arima é uma grande fã do Pica-pau Amarelo. Sempre está lendo sobre o Nico, ouvindo as músicas da banda e vendo os espetáculos da trupe. Até gastaram as páginas.” O almanaque do fazendeiro vinha com páginas encantadas onde se podia ouvir as músicas da banda e ver suas peças sendo encenadas. Semelhante a um tablete moderno.
“Nós também seu tio Nico.” Safira balançou a cabeça.” É o artista itinerante mais famoso e popular em toda Licorne. Krakapow!”
“Mas isso me deixa muito lisonjeado.” Ele se despediu e foi pegar as malas. “Depois eu quero que conheçam a minha banda.”
Arima ficou acenando por um tempo.
Safira segurou sua mão. “Pode parar. Ele já foi.”
“Como foi que as duas acabaram com o mesmo nome?” Arima perguntou.
Marquesinha explicou. “Acontece que nosso pai disse que queria uma filha chamada Safira que era o nome da avó dele e fez uma longa viagem ao velho continente que demorou muito mais que o esperado antes de decidirem nossos nomes.”
“Nós duas nascemos mais de uma Lua Azul antes do esperado e quando papai voltou já era tarde demais e tínhamos sido batizadas com o mesmo nome.” No calendário lunar de Licorne contam um ano em dezesseis luas azuis, no lugar de mês. A Lua Azul é a maior das sete luas que giram em torno de Propasa.
Arima coçou a cabeça. “As mães das duas não se conheciam?”
“Não.” Safira respondeu. “Mas quando se conheceram se deram muito bem. Mamãe deixou de ser criada do papai e fomos morar com a Safira e a tia Acácia, como suas damas de companhia.”
“E as duas deram um chute no bumbum dele.” A marquesa respondeu.
“As duas têm a mesma idade, são superparecidas e têm o mesmo nome?” Prudente fez uma expressão de curiosidade.” Isso não gera confusão?”
“Gera!” As duas riram. “Bastante!”
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