11° Estrofe
Dizem que algumas pessoas levam a casa toda junto quando viajam. Esse parecia ser o caso da duquesa Acácia e era literalmente o caso de Nicola de Calêndula.
Haviam tantas bagagens que acabaram pensando em contratar carregadores. Arrepio fez questão de levar as malas pelo que pagariam os homens no ancoradouro dos quosas. Era impressionante como um sujeito tão pequeno era capaz de carregar tanto peso.
“Arrepio é um sacerdote do Barriga Amarela.” Ele riu. “Não duvidem da força.”
Arima deu um olhar incrédulo. “Vai acabar com uma hérnia.”
“E vai merecer.” Índigo revirou os olhos. “Mão de vaca.”
Chegaram a um terreno de terra batida onde dúzias de carroças, carruagens e vagões estavam estacionados.
Era uma coisa estranha pois elas eram feitas com uma mistura de vários estilos antigos, mas os chassis, as rodas e amortecedores pareciam bem modernos.
Os três vagões do Pica-pau Amarelo eram meio decepcionante. Eram simples carroças de metal e madeira com uma caixa metálica um pouco maior que um ônibus de turismo acorrentada. Havia quatro portas, uma em cada lado e janelas de vidro fosco hermeticamente fechadas. Pintaram com ilustrações alegres e colocaram um letreiro em madeira pendurado nas correntes escrito: “A trupe do Pica-pau Amarelo.”
Foram até o vagão escrito: “A banda!” A carroça tinha uma escada retrátil até o vagão de metal.
Para surpresa delas encontraram uma grande sala de descanso com quase quatro metros de altura, várias mesas, sofás, enormes prateleiras com souvenires de suas viagens, duas grandes escadas que levavam para um segundo andar e enormes janelas foscas. Havia até mesmo um bar completo.
Safira olhou atordoada. “Bazoom! Atravessamos uma passagem para outro lugar?”
Ametista foi olhar do lado de fora para se certificar. “É menor por fora!”
Arrepio apontou para o balcão. “Posso pegar uma bebida?”
Marquesinha esfregou a cabeça. “Mas o que está acontecendo?”
“Eu nunca contei?” Margarida riu. “Tio Nico encontrou esses vagões em uma cidade perdida antariana. São estupidamente grandes por dentro. Maiores até que o prédio principal da Academia.”
“Dá para se ver.” Acácia olhou a volta. Maravilhada.
Como não ficariam muito tempo naquela vila decidiram fazer um pouco de turismo e ver o outro vagão onde Nico vendia os produtos da trupe.
Arima tinha muita curiosidade sobre nobres e fazia tempo que ficou muito interessada em uma carruagem real azul da família Auará, que de acordo com os tabloides, já foram muito perseguidos por serem os herdeiros legítimos do trono.
Ela puxou conversa e elas foram bem abertas em falar sobre si mesmas.
Como acontece em todos os impérios o país de Licorne, tinha várias famílias de nobres com diferentes níveis de poder, dinheiro e direitos sobre o trono. Devido a uma manobra legal e um pouco de conspiração a família Iómpampé assumiu o poder sobre os Raposos que eram a linhagem principal e outras famílias que na frente na linha de sucessão.
Isso gerou uma tensão, pois nos cinco séculos seguintes muitos acreditavam que na primeira chance alguém tiraria o poder dos Iómpampé.
Finalmente alguns conspiradores acabaram causando problemas que resultaram em exílios e fugas com alguns membros da família Raposo que não tinham nada a ver com o conflito, fugindo e trocando seu nome para Auará.
Foi assim que Safira e sua mãe foram parar na cidade da Academia de magia no condado de Acácia. Ela filha do arquiduque Turquesa de Auará e Ametista uma pajem criada da família.
A condessa de Acácia também teve uma filha e acabou se casando com o arquiduque Turquesa.
Como já sabem ambas eram tão parecidas que muitos pensavam que eram gêmeas. Elas nasceram com algumas semanas de diferença durante uma viagem do arquiduque ao outro lado do mundo e foram chamadas de Safira em homenagem a amada avó do arquiduque.
Nem sabiam que existiam, mas tinham consciência das várias mulheres com que Turquesa se encontrava. Não era nenhum segredo. Assim que as mães se conheceram ficaram amicíssimas e foram morar juntas. Assim as duas foram criadas praticamente como irmãs gêmeas.
A pequena marquesa Safira foi chamada carinhosamente de Marquesinha desde bebê, assim as confusões pelas duas terem o mesmo nome foi bem pouca em casa já que a irmã plebeia era chamada de Safira e a marquesa de Marquesinha.
As duas não tiveram uma infância como nobres, mas estavam melhores do que muitos plebeus. Principalmente por morarem na cidade que também era uma academia de magia.
Apesar de magia ser tão comum e abundante quanto eletricidade é pra nós e absoluta maioria da população de Licorne o acesso à educação não era dos melhores. Escolas de magia eram raras e bem caras. Não era qualquer um que podia pagar um curso e tanto ricos quanto nobres gostavam que o acesso a magias complexas fosse exclusivo das elites.
Magos itinerantes viajam pelo interior ensinando as pessoas a fazerem os chamados feitiços de camponeses em vilas e aldeias.
Pouca gente sabia que as irmãs safiras eram nobres e os poucos que sabiam tinham simpatia por serem renegadas. Principalmente a filha bastarda da empregada que era praticamente uma plebeia como os outros.
Mesmo sendo chamada de Marquesinha ninguém na escola sequer suspeitava que ela podia ser uma nobre. Acreditavam que era por seu finês e dinheiro, já que sua mãe era dona de uma grande tecelagem.
O arquiduque Turquesa fez um bom trabalho convencendo a todos que não tinha nenhum interesse no trono e sua família passou a viver em cima do muro entre nobres e exilados. O que importa é que suas filhas não seriam esquecidas.
Mesmo após a rainha Parafina ter proibido a maioria das profissões de magos e feiticeiros, A academia de magia dos magos da costa continuava a ser a suprema instituição de ensino de Licorne e a maioria dos nobres e ricos continuavam mandando seus filhos para lá.
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