- E... por que acha que eu faria isso?
Ele dá uma risada curta, sem humor: - Você mal chega a altura dos meus ombros. Não sei o que faz aqui, criança, mas melhor sair logo.
- Quero informações.
- Já falei para sair! – o barman bate a mão em punho sobre o balcão. Ilídia sente alguns olhos em sua direção. Por favor, não treme não treme não treme.
- Triage. – sussurra, comprimindo os ombros e reza para que o homem não a jogasse para fora junto com o vomitador.
Ele a observa fixamente, com o cenho franzido.
- Quer o que com eles?
- Você não deveria... só me dar informações?
Um homem senta há dois bancos à sua esquerda, rindo que nem um idiota em direção a uma ruiva. Na cintura dele, Ilídia percebe uma arma estranha e inúmeras cicatrizes desfigurando o seu pulso. A urgência corre em suas veias. Eu devia ir para casa.
Mais enfática e firme, ela volta-se novamente para o barman e joga um punhado de moedas de ouro em um copo atrás do balcão.
- É tudo o que tenho e só isso que preciso, awm...?
- Jorge.
- Ah, sim, Jorge. – e esconde suas mãos trêmulas nos bolsos do vestido. – Quem são ou onde posso encontrá-los?
Ele senta e apoia a mão na perna, com o braço arqueado de uma forma estranha, um malandro sabe-tudo reportando algo astuto.
- Eles normalmente vão se encontrar há duas ruas descendo essa lateral, agora a tarde. Ninguém sabe onde fica. Mas, se eu fosse você, esquecia isso. Não sairá viva.
- Obrigada. – ela morde o lábio inferior.
- Não me agradeça. Vai desejar nunca ter vindo aqui. – rosna as últimas palavras, jogando de dentro do copo o ouro no chão. Olha uma última vez para a menina e cospe em direção ao dinheiro.
O lábio de Ilídia tremula em resposta, profundamente magoada.
Ninguém a importuna ao sair. Parada fora da casa de banho, um pouco distante da entrada, seu coração vacila. Sente falta de casa, da sua família. Agora chove, as gotas de chuva disfarça suas lágrimas, antes contidas perante o barman grosso.
Minha família disse que viemos para salvar a raça humana. Cada um de nós carregamos o peso do mundo sobre nossas costas... é meu dever carregar o meu, não importa o que aconteça. É um bom ensinamento, ainda que o resto seja mentira. Meu irmão me apoiaria.
Ilídia levanta novamente o fardo – o qual nunca desejou para si, mas ainda assim era responsável pelo mesmo – e segue as instruções do Jorge. Resta só nove horas quando chega a uma rua sem saída. Ao redor, há um pátio de restaurantes abandonados. Tem muito cabelo caído no chão.
O silêncio é estranho, assustador. Cadê a cidade?
Sente-se no meio de uma cratera, um pedaço de terra esquecido pelo divino ser criador da vida. De vez em quando ouve um barulho de passos e louça caindo. Só pode ser ratos, só ratos.
Em uma cadeira velha, há um pássaro olhando em sua direção.
- Quem está aí?! – Ilídia se vira no momento em que ouve o barulho de alguém pisando em algo de latão, que rola pela rua até seus pés.
Uma figura se escondia atrás da parede de uma casa desabitada e se apresenta, com os braços para o alto.
- Hey! Hey! Calma! – diz a figura, uma voz desafinada de um jovem na época biológica de amadurecimento da voz.
- Por que está me seguindo? Vai embora!
- Olha – ele respira fundo. – Jorge me mandou acompanhá-la, já que a encenação dele de informante assustador não a afugentou. Não deveria estar aqui.
- Não preciso de ajuda. Sei me defender.
- Tanto sabe que, de tão inteligente, foi parar num antro de criminosos, perguntando pela Triage. O que raios... – antes que terminasse a sentença, um passarinho marrom senta em seu ombro.
Ilídia sente o cheiro de medo vindo do amigo de Jorge, que sua frio e não ousa virar a cabeça. Seu corpo estremece e seus olhos fecham. Assustada, a menina começa a desenhar lentamente um símbolo na terra com a ponta de sua bota. No momento que o rapaz abre os olhos, ele rapidamente tira uma arma de dentro do casaco, aponta para Ilídia e atira. Tecnologia claramente invun. Ela pula para trás e aciona a magia terrestre. Um escudo espectral surge na sua frente, incinerando a bala ao passar pela barreira.
Ilídia ofega continuamente, mas ainda sustentando a magia.
- Me mate. – murmura a figura. Nesse instante, ele começa a correr pelo espaço, a procura de uma brecha para atingir Ilídia. Girando o corpo, ela reposiciona o escudo e incinera outras balas.
Após alguns minutos, ele está claramente cansado. Contudo, não ousa parar de se mexer. Recarrega a arma e, na concepção da menina, em uma velocidade mais rápida que um ser humano seria capaz de fazer. Vendo que não surte efeito, diminui o espaço entre os dois e tira uma faca do bolso.
Sem perceber, Ilídia já está conjurando um aprimoramento da magia. Os traços são rápidos e estranhamente automáticos, como se lembrasse dos treinamos que fizera com seu pai no passado. O espectro se transforma em um paredão de fogo, o qual ela emana em direção ao jovem. Em menos de um segundo, ele queima e cai no chão. As chamas lambem o seu cadáver carbonizado como uma amante cruel.
Não pretendia matá-lo, por mais que ele... quisesse? O que aconteceu?
Ilídia senta no chão de terra, maculando o vestido que seu irmão havia feito. Ali, meio àquele choque, sente-se crescer através da dor e não do amor – da irresponsabilidade. da inconsequência, da fraqueza em se conter.
- Mas que maga de categoria!
Palmas vinham do fundo do restaurante, onde vira a cadeira velha com a ave sobre seu assento. Um homem, vestido em trapos do que era um terno, se aproxima da tragédia. No lugar de seu nariz e boca, há um bico de pássaro rachado.
Ele se ajoelha ao lado dela, passando a mão no cadáver.
- Não é mais fácil quando – ele lambe a ponta do seu dedo com restos humanos queimados. – a presa vem espontaneamente até o predador?
Um alarme uníssono de pios soam no ar, gargalhadas.
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