cumprimentando com um sorriso de canto, ele e todos os seus ‘eus’ interiores que poderiam existir concordaram dentro dele que ele era um completo besta.

     - Davi, para que essa formalidade?

     - Lucas, vai tomar naquele lugar! Eu estava tentando ser engraçado.

     - Isso foi estúpido, e mais estúpido se eu fosse tomar naquele lugar já que compartilhamos o mesmo corpo!

     A voz da garota tirou Davi de sua habitual discussão interna.

     - Sou a ‘senhorita’ Morgana Santos da Cruz, e estou encantada em conhece-lo, ‘senhor’ – a ironia na resposta dela não era nada discreta, mas o suficiente para que deixasse o colega saber que ela entendeu a sua tentativa de humor.

     A natureza de Davi falou mais alto, ele nunca conseguiria ficar sério por mais que um minuto, e ele desatou a rir. No meio da risada do garoto, Morgana riu também, porque a risada de Davi era como um hipnótico raio de sol abrindo caminho num nevoeiro.

     - Sabia que você era louca! – Davi disse afobado, segurando o livro com uma das mãos enquanto se posicionava para sentar sobre uma das pernas a fim de olhar a garota frente-a-frente.

     Os olhos de Morgana adquiriram uma expressão um pouco maldosa, mas o sorriso era suave, quando ela respondeu:

     - Também tive essa leve impressão com relação a você. Mas me diga, o que me denunciou?

     Davi sentiu seu rosto esquentar, seu embaraço o deixando corado como uma criança pega comendo a sobremesa antes do jantar. Tentando esconder seu nervosismo, ele desviou os olhos para a cúpula do ginásio como se tivesse encontrado algo muito interessante ali, enquanto as mãos dele inquietamente consertavam sua blusa do uniforme do instituto. Naquele momento, Morgana pensou que Davi era a pessoa mais fofa que ela já havia encontrado.

     - Sabe... – Davi conseguiu começar a dizer, voltando a  olhar para Morgana que o encarava com um sorriso paciente –, geralmente, eu não sou um cara popular.

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     - Eu nunca teria adivinhando – a resposta da garota apesar sarcástica não era maldosa, seu olhar era leve e brincalhão mesmo que ela tentasse manter a expressão estoica, e Davi já conseguia entender que era o jeito de Morgana tentar aliviar a tensão.

     - Quando alguém me procura... – Davi continuou -, é  querendo saber alguma coisa voltada para a área acadêmica, ou até mesmo que eu dê minha opinião sobre algum look! Olha minha cara de quem entende de moda!

     A faísca da intenção maliciosa no olhar de Morgana indicava que ela tinha uma resposta não muito decorosa sobre as roupas de Davi que pareciam ter saído de um retiro de férias na praia, mas nenhum deles disse nada. O silêncio que se seguiu não era de todo desconfortável, Morgana parecia ponderar sobre o que dizer em seguida, e Davi se permitiu avaliar a aparência da garota. De alguma forma Morgana parecia refinada mesmo trajando em blusa, jeans e sapatos todos pretos, talvez seja a qualidade do tecido, Davi pensou, enquanto ele mesmo parecia um molecote, e por um momento ele se considerou malvestido. O silêncio então ficou pesado demais.

     - Então eu te devolvo a pergunta! – Davi se encontrou dizendo sem parar para pensar, Morgana ainda o encarava, e ele não sabia dizer se gostava ou não da atenção contemplativa da garota –, o que me denunciou?

     Ela sabia que ele retornaria a questão para ela em algum ponto da conversa, mas não tão cedo. Morgana tinha a sensação que Davi tinha motivos para não achar que alguém tinha interesse em conversar com ele por ele mesmo. Ela, no entanto, achou amável a forma como o rapaz era capaz de proferir uma enxurrada de informações em uma velocidade inquietante. Os olhos dele eram cor de mel, de tom alaranjado, bem claro, cheio de partículas amarelas que pareciam douradas, sua expressão carregava sinceridade, e apesar dos olhos dele estarem sempre agitados sem se fixar em nada por muito tempo, Morgana os achou reconfortantes.

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