- Seus olhos são lindos -, foi o que ela pensou em dizer, mas ao invés disso, Morgana optou por uma resposta menos irracional.

     - Primeiro, você está aqui quando poderia ou deveria estar confraternizando com seus colegas, e, ou, torcendo pelo time que representam seu curso ou classe – sua voz saiu mais rígida e calculada que sua intenção, o que era habitual, ela havia se acostumado a utilizar um tom austero para deixar claro a racionalização dos seus pensamentos para impedir interpretações ambíguas –, segundo, e é o que me chamou atenção, você está lendo um livro... de astrologia.

     Davi conseguiu ver o momento que o tom da garota mudou de ponderado para irônico, mas antes que ele pudesse falar algo, ela concluiu:

     - Você sabe que isso é apenas uma pseudociência, e a configuração das estrelas no dia do seu nascimento não definem sua vida, certo?

     - Se não acredita em astrologia por que perguntou meu signo então?! – a resposta dele saiu brusca, e por um momento Morgana achou que outra pessoa havia respondido. Em qualquer outra situação a garota responderia com o mesmo tom ou com mais rispidez, mas o rosto infantil do rapaz a deixava conflitante, e talvez ela o houvesse ofendido.

     Um segundo era tempo demais para Davi esperar pela resposta, ele começou a ficar inquieto, se mexendo de um lado para o outro como um metrônomo, e cada balanço era seguido de um ‘hein?’ bem baixinho. Morgana não pode evitar de sorrir, ele era realmente fofo.

     Percebendo que ela estava deixando se levar pela aparência do rapaz, o rosto naturalmente rosado de Morgana ficou um tom mais corado, e por isso passou despercebido, ainda assim ela se recusava ao ato patético de corar por causa de outra pessoa, e se eles estavam de alguma forma discutindo, ela não perderia a discussão.

     - Sua evasão a minha pergunta em primeira instancia me permite que eu não responda a sua inquisição agora – seu tom era firme e quase 

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inabalável, quase, porque Davi percebeu um movimento sutil de enrolar uma mexa de cabelo, que ele interpretou como um tique nervoso.

     - Você é mesmo muito estranha! – foi o que ele disse, apoiando o cotovelo sobre a perna e o queixo sobre a mão do mesmo braço, inclinando a cabeça e se perdendo em novos pensamentos. Então ele deu um salto, erguendo o dedo indicador como se tivesse tido uma ideia –,  mas isso é bom!

     Morgana tinha se afastado um pouco devido ao sobressalto, mas a expressão brilhante de Davi aliviou a situação e ela sem querer deixou uma risada escapar.

     - De vez em quando é bom fugir da caixa! – ele enfatizou com um sorriso grande.

     - Concordo – Morgana respondeu, e viu que Davi havia ficado contente mesmo sua resposta sendo uma palavra sozinha.

     Morgana não viu quando as competições acabaram e o povo se dispersou, ela e Davi ficaram conversando por mais algumas horas, sobre os mais variados assuntos, antes de irem embora depois de terem trocado número de telefone, pelo qual continuaram conversando noite adentro. A garota achava interessante o humor do Davi e a sua personalidade expansiva enquanto o rapaz ficava encabulado com o quão pragmática Morgana conseguia ser mas, de alguma forma, eles sentiam que haviam encontrado um no outro alguém para não julgá-los pela aparência, nome ou poder, ter um amigo era algo novo para Morgana e algo que Davi não havia há um longo tempo, mas agora eles tinham alguém com quem aventurar-se.