- Foi um desastre, um desastre! - eu escondia a cabeça entre os braços.
- Não pode ter sido tão ruim assim... - Vini deu uma risada forçada, tentando disfarçar que ele na verdade achava engraçada a situação.
Levantei a cabeça, irritada. Eu consegui estragar tudo dessa vez. Miguel começou a me evitar, e nos dias que se seguiram ele se tornou cada vez mais ausente. Eu estava muito preocupada.
- Você tem que ir falar com ele!
- E falar o que? Ele nem olha na minha cara!
- Eu vou jogar hoje - Vini começou a arrumar suas coisas - chama ele pra assistir. Que que é? É um motivo, não é?
Fiz cara feia. Não era a única coisa com o que eu estava preocupada e certamente não era a única coisa que eu tinha para fazer. Mas eu não podia fugir para sempre.
Andei pelos corredores, procurando algum sinal dele pelas salas. As pessoas passavam por mim, despreocupadas, vivendo em seus próprios mundos. Quanto mais eu andava, mais as flores me sufocavam. Comecei a ver tudo girar, as conversas e risadas ficaram mais altas, meu olhar ia de um lado ao outro do corredor, quase desesperador. Uma voz me espantou no meio de tanto barulho. Tentei assimilar e entender o que estava dizendo.
- Liz? Você tá bem?
Era Miguel. De repente tudo começou a voltar ao normal, as luzes voltaram, o barulho diminuiu, minha respiração voltou ao seu ritmo natural. Agora eu só via os cachos castanhos e os olhos verdes que estavam diante de mim.
- Miguel! Ainda bem, eu estava te procurando!
Ele se retraiu um pouco, mostrando seu jeito atrapalhado de ser.
- Escuta, me desculpe pelo outro dia... acho que fui grosso com você e...
- Não, eu que peço desculpas! Eu não devia ter me metido onde não fui chamada!
- Ah... - ele ficou desnorteado - Tudo bem então. Vejo você por aí.
Ele começou a se afastar, e eu usei toda a força que eu tinha reservado para esse momento, era agora ou nunca.
- Futebol! - gritei.
Parabéns, você acabou de arruinar tudo como sempre, Liz.
- Como é? - ele parecia confuso, mas tinha um sorriso no rosto.
- Quero dizer... O time do Vini vai jogar hoje... Quer assistir com a gente? - Minha voz quase não saía, me escondi atrás do cabelo outra vez.
Ele ficou surpreso por um segundo, mas logo voltou à sua expressão normal.
- Claro, por que não? Te vejo lá! - e se virou, me deixando sozinha com meus pensamentos.
Peguei-me encarando suas costas enquanto ele se afastava, me perguntando como estaria o tom dos seus olhos. Senti algo brotar em mim, mas ainda não tinha descoberto o que.
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