— Eu pensei no que você disse. Eu quero entender melhor sobre os magos. — Diz Ciano.
— Prazer, meu nome é azul. Ansioso para te conhecer melhor.
— Meu nome é Ciano. — Enquanto Ciano se apresenta, Azul esboça um olhar perdido por alguns segundos e em seguida, retorna.
— Desculpa, quem é você? — Pergunta Azul.
— Como vão os barulhos? — Pergunta Índigo.
— Que barulhos?
Índigo estende a mão, e Amarelo joga para ela, um saco com alguns pedaços de carne seca.
— Quanto tempo, dessa vez? — Pergunta Violeta, enquanto olha para as costas de Azul.
— Doze dias. Dias. — Amarelo responde.
— Desculpem, eu estou voltando para o meu quarto. — Diz Azul.
Ciano olha para as pessoas na sala, de forma bem confusa, como pode uma coisa esquisita acontecer de forma tão casual, perto desse pessoal.
— O que acabou de acontecer?
— Azul tem amnésia. Depois de alguns dias, ele perde as memórias de tudo que aconteceu no dia e as memórias sobre a amnésia… Ele também fica meio triste e desinteressado nos primeiros dias após a perda de memória. — Diz Amarelo.
— Aposto que a próxima vai ser em vinte dias. — Diz Índigo.
— Eu aposto em dezessete. Dezessete. — Diz Amarelo
— Como vocês podem ver um problema desses de forma tão leviana? Ele é amigo de vocês?
— Não temos o que fazer. Não temos condição de tratar ele ou coisa do tipo. Se quer culpar alguém, Culpe o esquadrão de caça, ele que trata os magos de forma tão brutal. — Diz Amarelo
— Você voltou para saber mais dos magos, mas antes disso, vamos ter certeza que esse nariz não vai ficar torto. — Diz Índigo, antes de pegar ar.
Enquanto Índigo está pegando ar, todos na sala, que já a conhecem, cobrem os ouvidos, e Ciano se sente obrigado a fazer o mesmo. Logo em seguida, Índigo dá um grito ensurdecedor.
— Verdeeeee!
Um garoto, com o rosto bem feminino, sai de seu quarto e adentra o salão. Ele acaba ficando meio tímido e envergonhada, por causa que uma pessoa que ele não conhece está presente.
— Ciano, fecha a porta. Verde, Pode consertar o nariz dele por favor?
— Sem problema… eu. é que. — Verde diz, sussurrando, de forma que ninguém escuta direito o que ele está falando.
Ciano fecha a porta, e Verde se aproxima de seu rosto. Ele coloca a mão esquerda no nariz de Ciano. Com um leve brilho esbranquiçado, as cascas das feridas do nariz de Ciano começam a cair, e o nariz que estava, levemente, torto, volta ao normal.
— Agora que ele consertou a sua cara bonita, faz pra mim: flexão de braço fechado, flexão de braço aberto, abdominal e agachamento. Cinquenta de cada. Você tem que ficar mais forte, para me carregar por aí.
— Por que, logo eu? — Pergunta Ciano.
— Eu propus que você me desse a sua vida. Se você está aqui, é porque aceitou… Eu não pretendo aceitar devolução. — Diz Índigo, enquanto Amarelo a observa, coçando seu cicatriz.
As pessoas ao redor, olham de forma espantada, por Ciano não ter levado ao pé da letra a afirmação de Índigo, com exceção de Violeta que parece meio confusa.
— Aceita que dá menos trabalho. — Diz Amarelo, um pouco antes de voltar para o seu quarto.
— Aproveita e chama Vermelho. — Diz Índigo.
Violeta puxa um pouco a camisa de Índigo e olha para ela, empolgada.
— Família?
— Isso mesmo, Violeta.
Violeta corre, na direção de Ciano e dá um abraço, nele. Violeta aperta ele com força e afunda seu rosto nas roupas de Ciano, que são bem mais trabalhadas e limpas, do que a de qualquer outro morador das profundezas.
— Eu protejo família e conto histórias. Gosto de doces, também.
Ciano observa a garota, com um olhar melancólico. Ele pensou, por grande parte da sua vida, que magos eram monstros. Mas, vendo essas pessoas interagiram de forma, profundamente, humana, faz ele repensar. Por que magos são denominados monstros?
— Cadê os exercícios? — Pergunta Índigo.
Violeta volta a sentar do lado de anil. Logo em seguida, Ciano começa os exercícios que Índigo mandou. Depois de alguns minutos, ele termina e cai, de cansaço, no chão. Enquanto Ciano faz os exercícios, Anil acaba por encarar ele.
Quando Ciano cai no chão, Verde se aproxima e passa as mãos pelo corpo de Ciano, usando sua magia de cura. Toda a fadiga do corpo de Ciano some e ele se senta.
— Repita. — Ordena Índigo.
Ciano repete as atividades e, novamente, cai no chão.
— Verde, pode usar a magia dele, duas vezes ao dia. Pelos próximos dias você vai ficar nesse processo e vai aumentar as séries quando estiver fácil. Aproveite a oportunidade para fazer amizade com Verde. Não aguento ele falando baixo.
Verde olha para Índigo com uma cara envergonhada, ele acena para Ciano e corre de volta para o seu quarto. Enquanto Verde corre, Anil Coloca uma de suas cartas no peito de Ciano. Enquanto Ciano olha para a carta, Anil dá um sinal de “ok” para Índigo antes que ela possa falar qualquer coisa. Enquanto Anil faz isso, Violeta olha para ela de uma forma confusa.
— Realmente, você só costuma responder…
Enquanto Índigo fala, Anil fica desacordada e põe-se a cair. Antes que Anil caia em cima de Ciano, Violeta levanta do sofá e a segura.
— Hoje foi cedo. — Diz Índigo.
Violeta começa a levar Anil, de volta para o seu quarto e Ciano e Índigo ficam sozinhos.
— O que foi…
— Ela é assim desde que nasceu. Só se comunica por cartas, passa o dia inteiro com sono e cai no sono aleatoriamente. — Diz Índigo com um olhar melancólico.
— Por isso as cicatrizes.
— Sabe, a magia dela permite que ela veja o futuro… De certa forma. Ela só consegue usar a previsão, enquanto está dormindo e não consegue saber de muita coisa que não seja as perguntas que fazem para ela durante o dia.
— Ela não consegue falar?
— Consegue… Só, não fala… Eu vou falar sobre nós, magos e explicar as coisas para você amanhã. Por hora, vá para o último quarto a direita e descanse.
Ciano pega a carta em seu peito e usa seus últimos pingos de força, para levantar. Ela anda pelo corredor e ao entrar no quarto, ele despenca na cama, que quase quebra com seu peso.
Ciano abre a carta de Anil e a lé antes de fechar seus olhos, para dormir. Nela está escrito: “Eu estou feliz que você se juntou a nós. Índigo pode não ser fácil de lidar, Vermelho pode ser frio, Laranja pode ser assustadora, Amarelo pode ser exagerado, Verde pode introvertido, Azul pode ser incoerente, eu posso ser calada e Violeta pode ser incompreensível. Somos todos pessoas e por sermos pessoas, temos defeitos. Ass: Anil.”.
Enquanto Ciano dorme no quarto, Índigo observa a porta de salão fechada e pensa, sobre Laranja. Índigo pega seu bastão e bate com ele no chão, duas vezes. Rapidamente, Violeta bota a cabeça para fora do quarto de Anil e vê Índigo acenando. Então, ela sai correndo para o salão e para na frente de Índigo.
— Vamos buscar Laranja. — Diz Índigo.
Índigo levanta do sofá e caminha até a porta, apoiando-se em seu bastão. Quando Índigo se aproxima da porta, Violeta a abre e as duas, voltam ao salão do banquete.
A direita de onde elas entraram, tem um pequeno corredor, que leva para várias celas e algumas comodidades, onde os guardas repousam.
Andando pelo corredor, escuro e fedido, elas se aproximam das celas e começam a escutar uma cantoria:
“Ovelhas pastam o mato
Mato, que mata os assassinos
As ovelhas sofrem e são maltratadas
Para que fiquem seguras
Fuja dos lobos que te alimentam,
Mas saiba que,
É somente comida”
Índigo e Violeta se aproximam de uma cela, com uma garota de dezenove anos acorrentada e suspensa pelos pulsos. A garota teve a sua camisa retirada, o que revela algumas das marcas de chicotada, que se estende a lateral de seu abdômen.
— Índigo, a quanto tempo. — Diz Laranja, enquanto se balança, presa nas correntes.
Um guarda que está por perto aborda Índigo, que se aproxima da gaiola.
— Veio buscar ela, para o banquete? — Pergunta o guarda.
— Isso… Ela conseguiu assustar outro guarda?
— O que eu posso fazer? Ela fica gargalhando e cantarolando, enquanto está sendo chicotada. Não culpo eles por ficarem com medo.
— Eu culpo. Essas coisas me lembram, tanto, da minha mãe. Quando vai vir o próximo guarda? — Pergunta Laranja.
— Ele não vai vir até a sua próxima penitência.
O guarda coloca a mão em seus bolsos, a procura de seu molho de chaves. Quando ele o faz, Laranja balança o molho em sua mão direita, para provocar, e se solta das correntes, com as chaves. Em seguida, entregando o molho de chaves, para o guarda.
Enquanto o guarda abre a porta para ela, ela anda até o canto da sala e coloca a sua camisa de volta.
— Me dá uma folga Laranja. Você mal foi solta e quer ser presa de novo. — Diz Índigo.
— Eu não resisto. Quando eu vejo algo brilhante, fofo, macio, áspero, uniforme, sonoro ou bonito, eu tenho que ter.
Violeta olha pera Laranja com um rosto confuso. Violeta não vê muito Laranja, por causa que ela vive sendo detida, e não entende seu estilo de vida.
— Você não precisa entender, Violeta. — Diz Laranja, enquanto dá um leve toque no nariz da menina.
Após isso, Laranja saltita pelo mesmo caminho que Índigo e Violeta vieram, e as duas vão atrás dela.
Quando elas chegam no salão do banquete, Alguns grupos de pessoas, se juntam, cada um em uma mesa. Na grande mesa, que é coberta por um pano, se encontram Amarelo e Vermelho, ambos no centro da sala, ao lado da mesa.
Ao perceber as garotas se aproximando, Amarelo acena.
— Você de um lado, eu do outro. Você sabe como funciona. — Diz Laranja
— Não se preo…
— Não fala comigo. Monstro.
Laranja passa por Amarelo e senta na mesa, perto de Vermelho. Os dois cruzam olhares por um instante e em seguida ficam em silêncio.
Amarelo fica um pouco desconfortável pela forma que foi tratado, mas consegue, ainda sim, manter um sorriso no rosto.
— Não sei porque você ainda tenta, fazer amizade com ela. — Diz Índigo, enquanto Amarelo coça sua cicatriz.
— Eu não a culpo, por agir dessa forma. Mas como vamos passar muito tempo juntos, queria que ela separasse essa imagem, de mim, para que pudéssemos ser amigos. Amigos.
Índigo olha para ela, desaprovando a sua atitude, e, em seguida, senta na mesa.
Todas as pessoas, dentro do salão, estão olhando, ou para cima, ou para as outras mesas. Todos estão esperando o momento do banquete.
— Espero que, hoje tranquilo. — Diz Violeta.
Ao término da frase de Violeta, diversas frutas, legumes e pedaços de carne seca, caem pelo buraco no teto, caindo nas diversas mesas e no chão. Aparentemente, os diversos grupos que monopolizam o banquete, não estavam com intenções de disputa.
Cada um de seus grupos, pegam as comidas, carregando as com os panos, de suas mesas e voltam para as suas, devidas, salas particulares.
Conforme os grupos saem do salão, os outros moradores das profundezas se aproximam, para comer os alimentos que caíram no chão.
Dentro da sala, eles abrem o pano e se preparam para a refeição.
— É inacreditável que a única coisa que eles se preocupam em limpar sejam esse panos. — Diz Amarelo.
— Come logo a porção de hoje e divide as carnes secas. — Diz Índigo.
As pessoas presentes começam a comer as frutas e os vegetais. Violeta começa pelos morangos e as uvas, enquanto Laranja devora o máximo de vegetais que ela consegue.
A julgar pela aparência de Laranja, que tem ficado cada vez mais esquelética, ela não tem comido por alguns dias.
Ao terminar de comer, Violeta apanha algumas frutas e vai até o quarto de Anil. Enquanto isso, Amarelo separa as carnes secas, em oito porções e coloca elas em alguns sacos.
— Laranja, você tem que comer melhor. — Afirma Índigo.
— Você sabe que eu tenho problemas com coisas assadas e fritas. — Diz Laranja.
— Você precisa estar sobre plenas condições. Vamos discutir sobre o acordo, amanhã.
Laranja olha para Índigo de forma esperançosa. E saltita para o seu quarto cantarolando: “Ovelhas não morrerão de fome… Ovelhas não morrerão de fome.”
Depois dessa conversa, Amarelo deixou a parte de cada um em seus, devidos, quartos e todos voltaram aos mesmos, para descansar.
Quando Índigo deitou em sua cama, ela quase não conseguiu dormir, por causa que o dia que ela tanto esperava, está quase chegando.
No dia seguinte, Índigo acorda e faz seus exercícios matinais. Ao sair do quarto, logo após fazer seus exercícios, ela encontra Verde, entrando no quarto de Ciano para curá-lo, antes que ele acordasse. Índigo, então, vai ao salão de seu grupo, onde somente ela está presente.
Aos poucos as pessoas vão chegando e vão se acomodando no salão. Violeta, novamente, senta ao lado de Índigo e Anil, abraçando as. Amarelo e Ciano estão sentados, juntos, em um dos sofás. Laranja e Vermelho no outro. O único que está sozinho é Verde, que se encontra atrás de Índigo.
Todos esperam alguns minutos e Azul parece não chegar.
— Amarelo, pode buscar Azul, Por favor. — Pede Índigo.
Amarelo, então, levanta de seu lugar e vai ao quarto de Azul.
Alguns minutos se passam e a porta do quarto de Azul, finalmente, abre. Amarelo está segurando Azul, pelo seu tronco, e o arrastando para fora do quarto.
— Eu já disse. Não to com vontade hoje.
— Hoje é um dia muito importante para todos. Você pode fazer algum esforço. — Pergunta Amarelo.
— Não.
— Odeio, quando isso acontece. — Diz Amarelo.
Amarelo, finalmente, consegue levar Azul para o salão e volta a sentar em seu lugar, enquanto Azul fica deitado no chão.
Quando todos se acomodam, Índigo começa a falar.
— Meus companheiros. Nesse dia trinta e três de despertar, eu, finalmente, irei cumprir a minha parte do acordo. Hoje, eu contarei para vocês, qual será o plano de fuga. — Diz ela, com um sorriso sádico.
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