Na manhã seguinte Irene te acorda entregando uma xícara de café, em algum momento da noite anterior você devia ter caído no sono por causa da exaustão mas felizmente nada aconteceu. Ao sentar-se ao teu lado, ela então prossegue a desabafar:
- Eu nunca te contei, mas nas semanas depois do incêndio, quando as pessoas
começaram a mostrar seus piores lados, eu escutava rumores sobre um demônio de pelagem
negra como carvão e olhos amarelos como âmbar rodando pela vila, e, em algumas noites até
ouvia barulhos estranhos vindos das ruas mas nunca acreditei que tal coisa fosse possível, que
tudo isso estava acontecendo... Até ontem. O que era aquilo?!
- Eu não sei... Mas estou aqui agora, e não importa o que for, eu não a deixarei chegar
perto de você ou do bebê, eu prometo. (Você jura com todo teu coração).
Ela sorri e te beija, por mais que você seja apenas um caçador, ela sabe que tuas palavras são verdadeiras. Antes que você possa aproveitar o momento, uma silhueta à distância vem em tua direção aceleradamente, ao pegar o teu arco e mirar em sua direção, a silhueta torna-se detalhada: Uma pessoa em cima de um cavalo. Poderia ser a mesma que salvou a tua vida?
O cavalo para à alguns metros da varanda em que você e a Irene estão e de cima dele desce uma figura vestida em uma capa longa e encapuzada, ao se aproximar, sua face te traz lembranças. Você não conseguia acreditar, ao abaixar o teu arco a figura se aproxima e te cumprimenta:
- Me disseram que eu te encontraria aqui, chéri. Apesar de que não tinha certeza se sabiam quem eu estava procurando...
- Diana?!
- É bom te ver também, Orion.
Percebendo a expressão que Irene está fazendo você rapidamente tenta prevenir qualquer mal-entendido que venha a se desenvolver:
- Irene, essa é a Diana, nós servimos juntos na guerra contra o Império Dourado. Diana,
essa é Irene, minha esposa.
As duas se cumprimentam de forma até que indiferente e então Diana rapidamente volta-se a você e anuncia, com um tom mais sério:
- Há algo importante que preciso falar com você, em particular...
Irene olha para você com um ar de preocupação e como se, de alguma maneira, já soubesse o que a Diana tinha a dizer, você pensa por um instante e fala:
- Sobre... ?
- O ataque de ontem à noite... mais precisamente sobre a sombra. (Diana responde).
Antes que o teu cérebro possa processar o que foi dito, Irene te conforta:
- Tudo bem, eu vou checar se o bebê está ok.
Enquanto a tua mulher abre a porta de casa e a Diana te olha esperando que diga algo,
a tua mente ameaça a se perder mas você rapidamente procede, apontando para uma trilha que
cerca o perímetro da tua fazenda:
- Por aqui.
Vocês dois começam a caminhar, não leva muito tempo e então Diana começa:
- Ouvi dizer que você parou de caçar depois da guerra...
- Até ontem sim... Mas de alguma forma tenho a impressão de que você veio mudar isso.
- O que atacou a vila ontem não era uma "sombra", chéri... Era uma fera, um demônio se preferir... E eu pensei que a tua ajuda seria uma boa idéia.
- Há uma grande diferença entre um animal selvagem e essa "fera" de ontem anoite (você não segura a tua língua).
- Verdade, mas você é o Orion, o grande caçador. Fera ou não, se há alguém capaz de rastreá-la, esse alguém é você.
- E você é uma das maiores guerreiras que já conheci, tua especialidade são as guerras, não caçando o que no Mundo Abaixo seja essa fera...
- Exato, o que preciso não é de alguém com experiência em combate, mas sim em caça,
alguém que possa caçar qualquer animal, não importa de onde venha... Alguém como você,
hmhm~.
Enquanto a tua mente começa a se divergir em pensamentos, Diana adiciona:
-... Eu sei que você tem uma família agora e que a vida deles são prioridade máxima, mas imagine o que aconteceria se essa fera voltar, quem irá proteger as várias famílias que vivem na vila, quem irá garantir que eles não sejam mortos grotescamente como os que morreram ontem?
- E-E quanto aos outros dois que estavam com você, eles não seriam capazes de rastrear essa fera?
- É uma longa história, eu te conto tudo se vier conosco.
Você começa a pensar em como a fera teria te matado se Diana não tivesse aparecido a tempo e o quão desesperado você se sentiu ao ver a Irene desmaiada.
- Me dê um dia, um dia e eu lhe trarei uma resposta.
- Por mim tudo bem. Amanhã, meio-dia, venha me encontrar na taverna caso escolha
ajudar.
Enquanto ela se prepara para partir, a tua mente não consegue parar de recapitular os eventos da noite anterior. Desordenado pelos teus pensamentos, você entra em casa onde Irene, acabando de sair do quarto do bebê, indaga:
- Por que tenho a impressão de que você está prestes a ir?
- Não!... Digo, eu te prometi nunca te deixar e pretendo manter essa promessa.
Vocês então se sentam à mesa de jantar e começam a falar sobre a proposta da Diana.
Durante toda a conversa, você pode ver a preocupação nos olhos da Irene, uma vez que você
para de falar, um breve momento de silêncio segue e ela começa:
- Eu entendo os riscos, mas se eles realmente precisam de você, não seria uma boa idéa
ao menos considerar ir?
- Mas e quanto a você e o bebê?
- Não se preocupe conosco, nós estaremos bem. Apenas me prometa que voltará vivo.
Antes que ela possa terminar, flashbacks do dia em que você voltou da guerra correm
pela tua mente. Instintivamente você se resolve:
- Não. Eu não irei. De fato é muito perigoso, e agora que a nossa família expande, eu não posso assumir tais riscos. Amanhã de manhã eu os contarei sobre a minha decisão.
Com um olhar de quem não se contenta com as tuas palavras, Irene te beija na bochecha
e traduz sua bondade em palavras:
- Eu não tenho dúvida que você é capaz de nos proteger... Mas e quanto aos moradores
da vila, o que acontecerá com eles se a Diana e os outros falharem?
Ao sair da sala, suas palavras ecoam pela tua mente. Apesar de ter se decidido, a possibilidade da Diana e a sua equipe falhar é grande, especialmente dado que, até onde você poderia dizer, os dois que estavam com ela na noite da feira não eram caçadores também. Mesmo assim, teu medo do que pode acontecer em tua ausência é exponencialmente maior.
No decorrer do dia uma estranha serenidade no ar se faz conhecida: O bebê não chora
nem metade do quanto ele costuma; Irene, por mais que continue sendo uma fonte de luz em
teu mundo, agora está incomumente quieta e, até mesmo você, sente-se intranquilo. Não
bastava isso, ao pôr do sol, neve começa a cair.
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